No início de novembro, Madonna repostou em seus stories um vídeo da DJ e produtora brasileira Ella De Vuono — um gesto de apoio público bastante incomum que colocou a artista de Campinas sob os holofotes globais e intensificou a conversa sobre reconhecimento e oportunidades dentro da cena eletrônica.
O material em questão mostra Ella tocando a sua faixa “Provoke”, uma produção original que utiliza trechos do discurso de Madonna no GLAAD Awards de 2019. A própria artista conta que parte da ideia nasceu ao recortar e reaplicar diferentes trechos do discurso — resultando em versões com pegada house e outras mais pesadas, próximas ao techno.
A reação imediata foi de choque e incredulidade. “Eu fiquei olhando para o celular petrificada… quando compartilhei nos meus stories só consegui escrever ‘wait. what?’”, recorda Ella, sobre os instantes seguintes à publicação da cantora. O repost ampliou o alcance de suas redes e desencadeou uma enxurrada de mensagens — especialmente de seguidores internacionais — que passaram a procurá-la solicitando datas e shows.
O gesto da Madonna tem um peso importante: além do alcance comercial, representa uma validação artística de alto nível para uma DJ que construiu a carreira “do zero”, sem contatos. Em sua trajetória, Ella carrega prêmios nacionais (Desafio DJ Brasil 2012 e Burn DJ Residency 2019), foi a primeira DJ residente da tradicional festa paulistana independente Carlos Capslock, já se apresentou em palcos como Rock in Rio (headliner em 2022) e Sisyphos (Berlim, 2024), possui sua própria gravadora, Diversall Music, e atualmente ainda realiza trabalhos como professora de DJs.
Apesar do impacto, vozes próximas ao cenário apontam que o reconhecimento pontual — ainda que valioso — não altera automaticamente estruturas de mercado que historicamente favorecem determinados perfis. Em textos recentes que comentaram o episódio, especialistas lembram que mesmo manifestações de artistas globais nem sempre se traduzem em mudanças imediatas na oferta de oportunidades.
Para Ella, o momento serve também como reafirmação de uma carreira de permanência — ela prefere esse conceito a termos batidos como “reinvenção” ou “resiliência”. “Uma das coisas mais audaciosas que eu fiz foi permanecer”, diz, lembrando que, desde 2005, assumiu publicamente seu posicionamento LGBTQIAPN+ e construiu uma trajetória técnica e de pesquisa musical ampla: “toquei house, disco, afro, minimal — eu toco música, não um gênero”.
O episódio com Madonna chega em um momento de movimento profissional: Ella tem EP marcado pela Tropicana Records (Portugal), intitulado Affair, com lançamento previsto para 19 de dezembro — trabalho que, segundo a artista, traz um disco house com elementos brasileiros e participações instrumentais de Daniel Raizer.
O que muda, então? No curto prazo, o compartilhamento ampliou audiência, trouxe convites e multiplicou menções internacionais — a artista já relata aumento de engajamento e mensagens de fãs. No médio e longo prazo, o desafio permanece coletivo: transformar episódios de visibilidade em oportunidades estruturadas (contratações, parcerias institucionais, presença em programações maiores) que reflitam o potencial artístico que figuras como Ella reivindicam.
Siga Ella De Vuono no Instagram para acompanhar lançamentos e datas.