PUBLICIDADE

‘ANTI-HERÓI’ e sentimentos no final dos anos 10

O que Jão, Eduardo, Ana e Vitória têm em comum?

Ontem, eu, Ana e Vitória, minhas roomies, estávamos falando sobre nossos relacionamentos. Falamos sobre aquela sensação de não saber se é isso mesmo e sobre a sensação de nunca querer ser noiva de alguém. A Ana não quer casar. Eu e Vitória argumentamos que a festa valia a pena, mas mesmo assim ela não quer ser noiva e é isso aí amiga.

Logo depois, pedimos uma pizza, 15 latas de cerveja (porque achamos 12 muito pouco) e fomos ver um filme. Só pra já adiantar, tomamos só 6 latinhas e fomos dormir mais cedo porque estávamos cansadinhos, a idade ta vindo. Na metade do filme voltamos a falar sobre namoros. A Vitória ficava falando sobre como ela ama o Mateus, seu atual namorado, e como se sente meio boba por ter vontade de colocar ele num pote e engolir do tanto que ama ele. A Ana falou que não se sente muito assim, que a forma dela sentir e demonstrar o amor dela é super diferente. 

Vitória falou que a família dela nunca foi muito de falar sobre casamento, ou sobre se ela estava com alguém ou não. Perguntavam pra ela se ela tava bem, feliz, estudando, trabalhando, ganhando dinheiro… Isso era o que importava!

Eu não consegui participar muito da conversa, mas percebi que tenho alguns bloqueios quando se trata de namorinhos. Já sabia disso antes dessa conversa, minha terapeuta e eu já havíamos chegado nesse lugar, mas sei lá, quando estamos falando com amigos é diferente. Me senti bem esquisito e solitário, algo que eu tenho sentido muito ultimamente. 

Eu compartilho dessa criação da Vitória, sabe? Minha família tem um background meio complicado quando se trata de relacionamentos. Minha vó e meu avô não deram muito certo, meu pai e minha mãe também não… então a base de conhecimentos sobre relacionamentos que carrego não é a mais “normal”. Acho que o normal pra mim é estar sozinho, possivelmente sentindo essa solidão esmagadora, mas fingir que isso não é importante, ir levando a vida dizendo que não precisa de ninguém e viver lutando por cargos melhores, posições mais altas e mais dinheiro. Um monte de coisa que não significam nada né, só servem pra gente se colocar num lugar de intocável e chorar sozinho sem ninguém nos ouvir. 

Por que a gente tem tanta vergonha de falar que tá triste, que tá infeliz, que tá incomodado, que tá de coração partido? 

Trilha sonora pra falar sobre isso: “Anti-Herói”

Recentemente o Jão, lançou um álbum novo chamado “Anti-Herói” com uma capa bem linda feita (talvez) pelo Sérgio Cupido, um artista mexicano que faz umas ilustrações bem darkzinhas, bem na vibe do álbum. É difícil ter certeza de que foi ele que fez, porque o próprio artista não divulgou nada, não tem créditos nas redes sociais do Jão, então eu to meio inseguro de afirmar isso. mas o instagram do artista é o @sercupido

Na imagem, um Jão sem camisa despenca em um cenário de nuvens carregadas, atingido por uma flecha no peito. Interpretei como sendo uma flecha de cupido, apesar de ele ter se referido a um arqueiro. , as nuvens são escuras e dá pra sentir a melancolia. 

Eu tenho a teoria que a missão de um cupido é acertar dois alvos ao mesmo tempo, dois corações. Essa é a regra do jogo dele. Mas tem vezes que na tentativa de fazer um casal se apaixonar, um coração dá uma desviada e ele acaba acertando só um coração. Quando isso acontece, dói. Então basicamente, esse cupido maldito fica por aí treinando seu joguinho, buscando sempre acertar dois corações, mas como qualquer esporte, as vezes ele erra.

Jão disse que esse álbum foi feito pra um relacionamento que não deu muito certo, né? Falou também que não se trata de romantizar a tristeza (algo bem difundido pelos sad boys, na minha opinião. Aqueles boys estilosos porém depressivos e tristonhos que na real não tão afim de interação, só de sofrer um pouco) mas sim de normalizá-la.

Eu acho bonito esse feito, eu gosto de gente que se expõe e que expõe não só a beleza e a felicidade da vida, mas esses pequenos fraquejos e tropeços que todos damos mas que a gente esconde tão bem. O Jão me agradou muito ao ser vulnerável nesse nível. As músicas estão bem intensas e dramáticas. Bem dramáticas eu diria. Como essa letra de “Triste pra sempre”: 

“Eu ando pela rua // E nada mais me surpreende // Eu era melhor no passado //Do que eu sou no presente // Tenho medo de ser só isso // Minha vida daqui pra frente // Porra eu não quero ser triste pra sempre // Eu passo o dia dormindo e a noite acordado com medo // Sou um anti-herói em queda // Na mira de um arqueiro // Isso é um pedido de ajuda //Tem alguém aí que me entende? // Me beija na boca e me salva, porra // Eu não quero ser triste pra sempre.” 

Me deu um dózinho dele porque eu me sinto assim as vezes e todo mundo se sente, não é? Essa sensação de que a gente chegou no nosso melhor e que a vida é isso, só isso, daqui pra frente. E é louco porque nessas horas de tristeza e desespero a gente corre pra nossa última memória boa e fica aquela sensação que no passado tudo era melhor (clássico de casais que terminam e voltam depois…). Pecado, ele pede um beijo na boca e um pedido de socorro, pra ele não ser triste pra sempre, aquela clássica sensação do coração partido que a gente tá se desacostumando.

Eu tenho uma teoria, vejamos: 

Antigamente, quando éramos adolescentes, a gente assistia aqueles filmes estadunidenses que mostravam as garotas e os caras maravilhosos, casos de amor fofinhos e toda aquela magia burra que a gente cresceu acreditando. A gente ia pra escola e vivia aqueles draminhas de todo dia, da fulana que pegou ciclano e do beltrano que gostava da outra fulana e a gente tinha que lidar com isso, ouvir nosso Simple Plan no mp3 e se contentar em falar por SMS com a nossa amiga sobre o quanto a gente gostava do menino que não tava nem aí pra gente. 

Não tínhamos muita opção: ou a gente se apaixonava pelos gatinhos da escola ou a gente tinha crushs platônicos em artistas famosos. Nos dois casos era certo que a gente ia se frustrar. 

Hoje eu sinto que a gente não fala muito mais de coração partido, a gente só fala de fogo na raba, dedo no c* e gritaria e segue o baile. Se você não responder meus likes, tudo bem, eu te esqueço em meio dia e já acho um outro boy bonito aqui no instagram pra tentar minha chance. A gente nem tem tempo de sentir alguma coisa com o coração, só com os olhos mesmo. Nós só esquecemos que, de vez em quando, a gente encontra alguém que nos desperta uns sentimentos escondidinhos e é aí que a gente começa a ficar bagunçado, porque a humanidade não ta mais falando sobre isso, a gente esqueceu dos sentimentos. Ta tudo muito business, credo. 

Em outra música, a “Enquanto me Beija”, Jão toca um piano (QUE COISA MAIS LINDA E MELANCÓLICA!) num cenário de montanhas e nuvens escuras e mais uma vez o zeitgeist dos relacionamentos se mostra na letra dele:

“No cara mais bonito na televisão // No amor que foi embora ou nos que ainda virão // Quem é que você guarda nessa sua cabeça? // Em quem você pensa enquanto me beija // Juro eu me esforço // Pra te convencer de mim // Tento ser mais bonito // E falar grosso como outros por aí”

Realmente, estamos precisando voltar a falar de sentimentos. Acho que falamos muito de individualismo, de independência, de liberdade, e acho isso tudo muito maravilhoso, mas a que ponto chegamos onde o Tinder tem sido a única solução pra muitas pessoas que não sabem lidar com a lei natural dos encontros?

Esse descarte fácil, que a gente já naturalizou, me incomoda muito, principalmente quando ele fala “no amor que foi embora ou nos que ainda virão”? Essa constante troca ou procura que a gente vive, sabe? Me lembrei desse papo de não saber muito bem se é isso que a gente quer. A gente fica com essa sensação de “eu posso fazer melhor?”.

Quando o Jão, um menino tão lindo e tão padrão, fala que tenta ser mais bonito e falar grosso como os outros por aí, me atinge em cheio! É um puta tapa na cara do quanto a gente tá só querendo agradar a porra dos nossos olhos com um ideal inventado pelo capitalismo e todo mundo tá nessa nóia absurda de parecer mais bonito ou de soar mais agradável. A gente tá virando um monte de gente igual, que pensa igual, consome coisas iguais e morre de medo de ser e de sentir. Ai que medo, sentimentos, envolvimento, compromisso (não vou ser hipócrita, eu morro de medo). 

Ele segue o álbum contando algumas experiências, algumas bem calientes tipo a suruba do “Hotel San Diego”. Numa entrevista pro portal PopLine, ele falou que a mãe dele quando ouviu falou que “iam ter que conversar mais tarde”. Uma parte cristã minha julga e uma parte pagã fica com inveja das 7 bocas no quarto 7.

Enfim, esse álbum falou muito comigo, me fez refletir bastante e me agradou bastante, porque esse menino tem uma voz tão gostosa e essa carinha que dá vontade de socar de tão lindo. Sei que o lançamento foi dia 10 de outubro eu to escrevendo isso 15 dias após o lançamento, o que pode não ter aquele gostinho de hard news que os fãs precisam, mas esse mundo ta muito corrido, credo! Vamos devagarinho, apreciando. A gente tem tempo. 

Esse é meu primeiro texto aqui no escutai, muito provavelmente já devem ter tido posts sobre esse álbum, mas essa é a minha opinião e as minhas piras, vamos ver se o editor deixa tudo como está! Um beijo, voltarei logo com mais textos profundos, longos e levemente loucos sobre música brasileira. 

Total
0
Share