Em 2018, uma das músicas que fazia certo barulho é ‘Ao Som do 150’ da MC Rebecca. Depois de aparecer muito através do shuffle da minha playlist nacional fui ouvindo cada vez mais, sempre sem pular. Até que um dia me bateu a curiosidade de saber quem havia produzido a faixa… mas antes de pesquisar, percebi uma coisa básica que não tinha reparado na música até então. Ela tem 01:59s. Um minuto e cinquenta e nove segundos.
A minha primeira impressão foi: como eu não percebi isso? basta bater o olho no player do spotify que a informação está lá. Dado o choque da minha ignorância, decidi ali que ia procurar saber qual é a dessas músicas de curta duração. (e ignorei saber quem era o produtor da música).
Quando a estratégia funciona o jeito é continuar na mesma onda
Quando a Lexa (finalmente fez aquilo que muita gente previa mas que nunca acontecia) teve seu primeiro grande hit com Sapequinha, a primeira coisa que percebi foi a duração da faixa; 2:00s cravados. Após isso, praticamente todas as músicas da cantora não chegam a três minutos (exceção para o feat. com MC Kekel em Amor Bandido).
O primeiro single do segundo álbum de Pabllo Vittar, ‘Problema Seu’ segue essa tradição atual, possuindo 2:42s. O álbum a qual ele faz parte possui 10 músicas… E tem uma duração total de 26 minutos. O que dá uma média de mais ou menos 2:30s para cada música. Mas a regularidade está ali, em ‘Não Para Não’… a faixa mais longa tem 2:50s. Em comparação ao primeiro álbum, a mudança é quase nula. ‘Vai Passar Mal’, de 2018 tem 9 faixas e duração total de 27 minutos. A música mais longa, Irregular – tem 3:55s.
Se um artista de música pop decide dizer para sua gravadora que quer o primeiro single de seu novo trabalho uma faixa com essa duração, provavelmente seria impedido.
A influência de uma era de mais streamings e menos vendas
Vale lembrar que, não é em nada sobre a qualidade das músicas, não é porque uma canção tem 6 minutos que signifique melhorar sua qualidade… da mesma forma que uma possuir 2 minutos representa um produto ruim. A discussão também poderia se estender a outro patamar, não são apenas singles que estão cada vez menores, mas álbuns também. É raro encontrar um disco de música pop que chegue próximo de até 50 minutos de duração. Algo que era muito mais comum no passado.
É nesse momento que entra a razão pelo qual a música pop nacional (e mundial) tem cada vez menor duração. Streamings. Chegar nessa conclusão quando pesquisei razões dessa moda foi a coisa mais fácil de todas. É óbvio que plataformas digitais estão influenciando cada vez mais no encurtamento de músicas populares. Cada play gera uma quantia X, e uma música de 2:30s pode fazer duas vezes o que uma de 5:00s faz em uma ouvida.
E tudo isso vem acostumado cada vez mais as pessoas, dada a quantidade de músicas na rádio com menos de 3 minutos. Recentemente, Anitta lançou uma música com 3 artistas, onde os seus e os versos de Lexa, MC Rebecca e Luísa Sonza se dividem a extensa duração de ‘Turudums‘, outra música da cantora que segue o mesmo padrão de curta duração é Pantera, para a trilha sonora da nova adaptação de As Panteras.
Hoje o foco não são vendas, é o digital. Ter suas músicas com milhões de plays significa muito mais do que vender algumas cópias no iTunes. E essa sensação não parece que vai mudar tão cedo, com o forte apelo do mercado fonográfico na internet a facilidade de lucrar com músicas curtas é bem maior.
Além disso, é uma facilidade de trabalho todo o processo de gravação de uma faixa. Se ela não tem uma duração tão grande, desde a produção até a masterização de vocais leva menos tempo. Música menor significa produção mais rápida.
