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Crítica | A Barqueira explora revelações sobre a existência de uma miséria úmida

A partir de um recorte realista, o filme “A Barqueira” narra cotidianos mediados pela marginalização e marcados por seu apagamento.
a barqueira

A Barqueira, o longa de estreia da argentina Sabrina Blanco, convida seus espectadores a conhecerem uma realidade singular: a dos moradores da Isla Maciel. O bairro, considerado um dos mais isolados e periféricos da região metropolitana de Buenos Aires, consiste no cenário retratado, onde o peso do abandono coincide com a sensação de uma umidade latente, que impregna o local e aqueles que ali residem.

A trama gira em torno do dia a dia de Tati (Nicole Rivadero), uma adolescente de quatorze anos que vive com seu pai no entorno da ilha. Com temperamentos típicos de uma jovem de sua idade, a garota é vítima do ambiente conturbado e marginalizado onde vive, sofrendo com as relações hostis que se materializam ao seu redor, seja na escola ou dentro de seu próprio lar.

Com sua aproximação quase que documental desse contexto, a diretora promove reflexões sobre como a desigualdade se torna o principal fator a retroalimentar essas violências tão naturalizadas na sociedade. A umidade presente no local parece encobrir e enviesar todas as problemáticas ali presentes, colaborando ainda mais para uma invisibilização de questões que afetam não somente a vida de cada um, mas a comunidade como um todo.

Diante de toda essa vulnerabilidade, o barco / bote contém a principal simbologia da obra, que transmite esperança e independência à protagonista para que, de alguma forma, ela possa atravessar os momentos conturbados que a cercam.

Curiosamente composta por não-atores, a produção chega ao Brasil nesta quinta (20), disponibilizada pela Zeta Filmes.

Nota do autor: 81/100

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