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Crítica | Britney Spears, “Blackout”

Há pouco mais de 13 anos a lendária Princesa do Pop nos fazia sentir em uma boate dançando no pole dance ao som de “Blackout”, uma das obras mais certeiras de sua carreira até hoje

“It´s Britney B*tch!”

É com esta icônica frase, conhecida por todo bom amante da música pop, que começa um dos álbuns considerados mais lendários da pop music. Falar de Britney Spears sem citar seu quinto álbum, “Blackout” (2007), seria impensável e praticamente uma gafe, por estarmos falando de uma de suas obras mais marcantes.

Há 13 anos, foi responsável por smash hits que consolidaram ainda a Princesinha do Pop na cena mainstream, é impossível não lembrar, de um jeito positivo, o quanto o trabalho representa uma tentativa de superação das famosas polêmicas da “Britney de 2007”. Entre surtos, divórcio e perseguição da mídia, a resposta de Spears a tudo isso é clara: bloquear a negatividade e abraçar a vida inteiramente, ou seja, um blackout!

O disco é uma obra extremamente divertida e dançante, com canções de andamento acelerado sobre affairs, fama, massacre da mídia, sexo e festas. E isso não soa apelativo, bem ao contrário, ela nos coloca em uma boate dançando no pole dance nos primeiros segundos de qualquer música. Sua concisão é um fator primordial e que (quase) não tem fillers.

Por si só, o trabalho é um tanto quanto controverso e carrega consigo um misto de reações das mais diversas possíveis, desde seu conceito visual polêmico à sua sonoridade extremamente comercial e eletrônica. Os vocais robóticos e o uso excessivo de recursos vocais insistem em nas produções eletrônicas pesadas, e até mesmo “com um Q” de experimentais. Mas ainda sim, colocando em dúvida se Spears realmente está experimentando ou se encontrou uma fórmula para se apoiar.

Não podemos negar que com “Blackout”, a cantora e outras artistas de peso como Kylie Minogue e a novata que iria chegar em 2008, Lady Gaga, o legado do electropop voltou ao mainstream e ditou uma nova era na música pop daquela época e da década de 10. Em seus mais de 50 minutos, temos uma artista muito distante de sua obra anterior, “In The Zone” (2003), e se desafiando na missão de criar algo mais grandioso que ‘Toxic’.

Aqui Britney leva ao extremo as referências eletrônicas e também traz um toque de R&B. Uma clara tentativa e certeira na maior parte do material, de se reinventar.

É como se a cantora não ligasse para sua fama de garota festeira, abraçasse isso e não desse a mínima para o repertório sexy, ousado e incansavelmente dançante proposto no projeto. Isso é claramente visto logo no começo da obra, onde a cantora bombardeia o ouvinte com as suas balas mais certeiras.‘Gimme More’ é um hino de fazer qualquer um querer estar em um pole dance. Desde a sua introdução aos sintetizadores, mostra que Spears já estava em um nível de muito conhecimento de sua musicalidade e estava pronta para provar que seus hits não iriam parar em ‘Toxic’.

Se estava pronta para desbravar novos cenários sonoramente, ao contrário de projetos anteriores a artista não se envolveu tanto na composição dessas letras (apesar de diversas teorias e informações de que tivemos acesso apenas ao trabalho “filtrado” pela gravadora). Porém, um desses poucos momentos pode ser considerado “O momento”. ‘Piece of Me’ simplesmente é uma autobiografia sobre seu status de princesinha da América e uma alusão sarcástica sobre a perseguição dos paparazzis. Em sua letra excessivamente perspicaz e batida viciante, temos um dos grandes atos de sua carreira.

Eu sou a “Miss Sonho Americano” desde que eu tinha dezessete anos
Não importa se eu entrar em cena
Ou escapulir para as Filipinas
Eles ainda vão colocar fotos do meu traseiro na revista
Você quer uma parte de mim?

‘Radar’ e ‘Break The Ice’ são outros belos exemplos de brilhantes e grandiosas canções que não parecem nada forçada. E também de como a produção é um dos fatores essenciais. 

Com espaço para alguns experimentos, ‘Heaven On Earth’ bebe da fonte de ‘I Feel Love’ de Donna Summer para um momento transcendente dentro do disco, exótico e refrescante. Inclusive, experimentação em outras faixas como ‘Get Naked (I Got a Plan)’ e ‘Toy Soldier’, soam bastante exageradas, porém ousadas.

‘Freakshow’, ‘Hot as Ice’ e ‘Why Should I Be Sad’ são um dos poucos momentos que nos lembram, bem de longe, que estamos ouvindo um álbum da mesma cantora de “Britney” (2001). Chegando até a destoar da atitude forte e triunfal que o álbum começa, indo para um pop mais óbvio. O que claramente não é um problema, sendo ‘Hot as Ice’ um dos melhores momentos do disco, com um coral que vai acompanhando sua voz única pelo refrão.

Outro fator que merece ser destacado são as composições milimetricamente bem elaboradas e robustas.

Isso é visível em momentos completamente autorais, como em ‘Ooh Ooh Baby’, em que canta sobre um “simples sentimento de amor” de uma forma que torna a música um dos minutos mais interessantes do trabalho. E isso é levado até mesmo quando não se envolve na composição. O DNA de Britney Spears está no seu critério seletivo de músicas dignas da Princesa do Pop. Deixando momentos mornos como ‘Perfect Lover’ e ‘Get Back’ serem fáceis de passar sem serem pulados.

Um fato bem curioso é ‘Everybody’, mais uma amostra de como a artista tem seus momentos de versatilidade musical e consegue repaginar grandes clássicos com a sua cara. O sample do lendário hit ‘Sweet Dreams’ do Eurythmics não soa tão icônico com a regravação de ‘I Love Rock’n’Roll’ e pode até parecer como uma forma confusa de finalizar um disco. Apesar de todos exageros excêntricos e altamente dispensáveis, possui seu atrativo.

O resultado final é um trabalho decerto uma “auto permissão” de Britney consigo mesma para cantar sobre sua agitada e glamurosa vida de festas e sexo, com espaço para alguns romances, em novas e experimentais batidas.

“Blackout” é a prova de que um artista não precisa necessariamente sair de sua zona de conforto para inovar e trazer novas facetas.

Se até mesmo em um momento conturbado e obscuro de sua vida ela conseguiu proporcionar uma experiência musical única, isso só nos mostra que Spears é uma verdadeira artista que não tem o título de Princesa do Pop à toa. Ela sabe como entreter o público, entregar canções divertidas e despretensiosas, além de dominar o gênero. “Blackout” foi e continua sendo um, se não o maior, ato em uma discografia robusta e consistente.

Nota do autor: 80/100

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