Bruna Pena celebra o poder da inadequação em “Destrambelhada”

“Destrambelhada” vai além da produção musical para traduzir sensações em prol da narrativa

Popularmente, uma mulher destrambelhada é aquela vista como confusa e desordenada, que não se encaixa em normas pré-estabelecidas. Em “Destrambelhada”, a multiartista curitibana Bruna Pena rompe com esse significado negativo para celebrar o poder da inadequação e conta com o apoio de outras vozes na jornada. A faixa chegou às plataformas no dia 27 de março.

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Bruna Pena entendeu cedo que os rótulos que lhe eram impostos delimitavam sua identidade e visão de mundo. Para expressar as inquietações e questionamentos desse impacto na construção da sua subjetividade, ela sugere uma postura de autenticidade e resistência diante críticas e rejeições em “Destrambelhada”, single que abre os trabalhos do seu primeiro EP.

“Destrambelhada” se apoia no conceito de desordem sugerida pela palavra-título, apostando em diferentes elementos sonoros e mudanças de harmonia ao longo da música, enquanto o eu-lírico afirma sua individualidade e posição de resistência e integridade. Letra e melodia, compostas por Bruna, ganharam corpo com contribuições de Érica Silva, que também assina a produção musical.

Transcendendo limites técnicos para focar em sensações, metáforas e intenções poéticas, o trabalho explora outra faceta criativa de Bruna – a de diretora e roteirista – ao utilizar recursos de sonoplastia para elaborar a sonoridade da faixa, trazendo para a produção sons não convencionais como os de mesas de sinuca e ping-pong e de pratos quebrando, entre outros.

A escolha de timbres e sons foi cuidadosamente planejada, levando em consideração a intenção de construir uma experiência sensorial que dialogasse com a letra. “Eu não levei músicas de referência para a Érica, eu levei vídeos pra ouvirmos o desenho de som”, revela. Sobre a composição, ela diz que “destrambelhada era uma palavra que já tinha uma fonética e sonoridade interessantes”.

O processo criativo envolveu ainda a participação das cantoras Klüber, Mayah, Noe Carvalho, Rubia Divino e Uyara Torrente (A Banda Mais Bonita da Cidade), que participam da música ao lado de Bruna. Juntas neste trabalho, elas representam as diferentes faces da música feita em Curitiba e fortalecem a mensagem de “Destrambelhada” através do coro da canção.

O registro das vozes sucedeu uma imersão onde as artistas puderam compartilhar experiências e reconhecer diferenças e pontos em comum. “Acredito que isso reforçou o simbolismo da música. Era importante reunir outras vozes e subjetividades para construir essa história. Em algum lugar, todas  compartilhamos angústias similares”, Bruna reflete.

Para criar os visuais que acompanham “Destrambelhada”, Bruna Pena também encontrou inspiração na infância, quando decorava seus próprios cadernos com recortes de revistas. Utilizando técnicas como stop motion e colagem, ela apostou na sobreposição analógica e digital de imagens para traduzir graficamente o conceito e as suas intenções com a música.

Essa estética se estende ainda ao visualizer de “Destrambelhada”, marcado pela participação de outras mulheres, refletindo o desejo da artista em criar uma experiência coletiva, onde diferentes pessoas contribuem com suas nuances e experiências. “Eu sou cantora-diretora, essas duas coisas se interseccionam naturalmente no meu trabalho”, conclui.

“Destrambelhada” é a primeira música do EP (ainda sem título) que Bruna lançará neste ano em parceria com Henrique Geladeira.

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