Os fãs do Twenty One Pilots, por mais diversos que sejam, tem uma particularidade que é quase única desse fandom. Além das roupas pretas com fitas amarelas e vermelhas coladas e as faixas estilizadas no pescoço (e os diversos modelos de capas de chuva), grande parte do público da dupla começou a acompanhá-los nos meados dos seus 14,15 e 16 anos, quando a banda estourou com Blurryface. A efervescência dos trabalhos do grupo e a falta de vindas para solo brasileiro armaram terreno para algo histórico.
Por mais que tenham conquistado diferentes faixas etárias e tipos de público, quem compunha grande parte do Allianz Parque tinha um perfil bastante específico: não só os Gen Z no alto dos seus vinte e poucos anos, mas quem viu Tyler Joseph e Josh Dun crescerem como pessoa e artista e, não obstante cresceram juntos. Toda uma geração que, assim como o duo, viu a ansiedade como um de seus grandes vilões, agora ansiava pela passagem no nosso país, que finalmente se concretizou entre os dias 22 e 26 de janeiro, com a The Clancy World Tour.
O fechamento da sequência de shows no Brasil chegou ao Allianz Parque com expectativa e preocupações. São Paulo, junto com Buenos Aires, são as datas mais importantes dessa turnê Latam, muito por ser o ‘ponto de encontro’ do fandom no Brasil e Argentina, respectivamente – os dois públicos mais energéticos que um artista pode performar. Logo em sua chegada no hemisfério sul, a preocupação veio com o grupo cortando duas músicas de enorme apelo público, “Oldies Station” e “Fake You Out”, além de alguns rearranjos nas estruturas de palco e dinâmicas do show, comparados aos shows na América do Norte.
Em território paulista, os dois chegam um dia após o aniversário da cidade, estendendo a comemoração, agora para o fechamento em solo brasileiro de 10 anos de uma narrativa sólida e extremamente inventiva. Como todo janeiro na terra da garoa, as horas que precederam o show foram de muita chuva, que, somados com uma não confirmação de ingressos esgotados, colocava um medo quanto ao público.
Mas logo ao chegar nos entornos da Barra Funda, uma fila quilométrica – fruto de certa desorganização – dava indícios do que viria a seguir. Dentro do estádio, o céu parecia não dar trégua e os primeiros acordes energéticos e cheios de groove da cativante Balu Brigada começaram com uma plateia ainda tímida.
Pontualmente às 20h45, a inconfundível intro de “Overcompensate” botava o Allianz abaixo e ditava como seria o resto da noite a partir dali. Após emplacar a sequência “Holding on to You” , “Vignette” e “Car Radio” e elevar a adrenalina do público presente, Tyler falava com a plateia pela primeira vez e constatava a chuva, que aquela altura da noite, já se confundia com as lágrimas da plateia.
Mal sabiam eles que aquela chuva era algo quase místico, que já caiu para coroar performances de Harry Styles, Paul McCartney e Taylor Swift. Agora era a vez deles e de toda sua carreira serem exaltados, e o duo fez por onde. Mesmo falando pontualmente com o público, a dinâmica capitaneada por Tyler não deixa em momento nenhum a plateia esfriar. Entre e os grandes momentos da noite, destaque para o medley no palco secundário, principalmente para o show de luzes de “Mulberry Street”.
Apesar de 26 músicas ser considerado pouco dado toda a discografia – todo fã naquele estádio tinha a ‘música favorita que não vai ser tocada’ –, o Twenty One Pilots soube muito bem condensar as que funcionariam como performance de arena e as que realmente fariam sentido para a história a ser contada. Nesse sentido, os atos iniciais e o que apresenta Dema com “Nico and the Niners” intercalam perfeitamente com as performances de “Tear in My Heart”, “Lavish”. Até mesmo músicas que já não tem mais tanto prestígio no fandom, como “Heathens” e “Ride” (essa catapultada pelas crianças incluídas na dinâmica) caem nas graças do público.
O encerramento, assim como a anos já acontece, se deu com a simbólica e emblemática “Tress”. Na letra, Tyler fala sobre querer conhecer quem realmente você é, querer te ver e dizer um olá. Ao longo de toda a The Clancy World Tour, mas, especialmente naquele Allianz Parque com 55 mil pessoas, maior público da carreira do duo, podemos dizer que o desejo de conexão da faixa foi concedido.
O próprio Tyler, em um discurso conhecido pelo fandom diz que ‘Quando você escuta música, sozinho em casa, é quando você está lutando. Mas quando você vai para um show e vive a experiência daquela música, com um monte de outras pessoas, é quando você celebra’. A noite deste domingo (26), assim como toda a passagem do Twenty One Pilots pela a América do Sul foi a melhor celebração que alguém quem os acompanha a mais de uma década poderia receber, a celebração e constatação de que a banda que pediu para que continuassemos vivos, está mais viva do que nunca no coração de milhares.