No dia 25 de abril deste ano, Coco Jones coloca um ponto final na antecipação por seu primeiro trabalho completo de estúdio. Why Not More?, um compilado de 14 músicas, traz toda a essência com a qual os ouvintes da cantora já estão familiarizados e ainda dá aquele gostinho inédito para quem ainda não a conhece. A artista americana de 27 anos, nascida no Tennessee, teve um destaque enorme com os frutos do seu EP de estreia What I Didn’t Tell You, que rendeu o Grammy de Melhor Performance R&B em 2024 para o single “ICU”.
Entender a carreira artística de Coco Jones requer um pouco de esforço, mas é válido para ter uma noção da importância do lançamento do álbum. Jones iniciou de forma independente em 2011, assinou um contrato de gravação em 2013 na Hollywood Records e no mesmo ano voltou para a fase independente, pelo menos até 2023. Foi uma década de vários singles R&B muito interessantes, mas que não conseguiram atingir o público por falta de estrutura, divulgação e apoio de uma gravadora.
Desde que se tornou parte do quadro de artistas da gravadora Def Jam nos últimos anos e passou a contar com uma equipe dedicada em seus lançamentos, tudo melhorou. Com isso, Coco finalmente conseguiu o merecido alcance, já que estamos falando de alguém que se tornou não apenas uma promessa, mas uma das vozes mais relevantes do gênero — e dona de uma personalidade que dá prazer acompanhar nas redes sociais.
Logo em “Keep It Quiet”, que abre o álbum, Coco Jones mostra sua versatilidade em trazer uma letra de personalidade forte (Se for falar de mim, fala baixo / Eu também falo umas verdades, meu ego é gigante), junto de uma batida impactante e envolvente, algo que ainda não tínhamos visto da mesma forma no EP de 2023. “Taste” é outro sabor inédito para a cantora que usou o clássico “Toxic” de Britney Spears como sample e o resultado não tinha como ser melhor. A faixa foi o primeiro single do álbum e mostra um lado mais sensual da artista. Em seguida temos uma das melhores do disco: “On Sight”. A lista de faixas chama a atenção pela forma como todas, pelo menos até aqui, surpreendem pela sonoridade contínua e fluida. Enquanto isso, a letra mantém a persona ousada da canção anterior e parece ditar o tom síncrono do álbum.
A estética é mantida em “AEOMG”, título que faz referência a uma respiração ofegante, e também na excelente “Thang 4 U”, que, apesar de o título significar “queda por você”, em português, traz uma letra que expressa um sentimento muito mais intenso e profundo (“Amor, eu até enlouqueceria por você”). Os fãs que acompanham a cantora há alguns anos podem notar semelhanças com a sonoridade de “Float”, faixa do EP H.D.W.Y, lançado de forma independente em 2019. “Here We Go (Uh Oh)”, uma crítica para aquelas pessoas que brincam com os sentimentos dos outros, demonstram interesse, mas somem e aparecem o tempo todo. A faixa, que é uma das melhores do Why Not More?, não surpreende por ter sido indicada ao Grammy na categoria de Melhor Canção de R&B.
“Other Side Of Love” marca uma mudança na sonoridade do álbum, revelando um lado mais amoroso, emotivo e vulnerável de Coco Jones. A canção é uma balada, mas com uma pegada mais pop que nos deixa com vontade de ouvir mais. A única ressalva é sua curta duração — a menor do projeto —, mas isso não compromete seu impacto. Afinal, logo em seguida chega a eletrizante faixa-título, “Why Not More?”, com traços de reggae e a participação do icônico YG Marley. Ao fundo, é possível notar uma vibe semelhante à de “Music of the Sun”, música de 2005 da Rihanna.
“Hit Where It Hurts” é a segunda balada do álbum. Coco toca na alma ao mostrar que não leva desaforo para casa. Há duas coincidências com a canção anterior: é ótima da mesma forma e soa como uma interlude, por causa da duração, sendo a segunda menor do projeto. O timbre da voz nos faz viajar e desejar mais — é como se fosse um anseio por algo que não conseguimos controlar.
“Most Beautiful Design” é a segunda parceria de Why Not More?, desta vez com o produtor London On Da Track — com quem Coco Jones trabalhou em “Double Back”, outra faixa excelente do EP What I Didn’t Tell You — e com o consagrado Future. A música, por si só, soa diferente por trazer o rapper nos primeiros versos e Coco apenas no final, mas, no álbum, encaixa perfeitamente, e logo nos vemos cantando: “They tryna treat me like I’m not part of the human race, so I went out of space ever since”. Chega a ser viciante, e não há dúvidas do porquê Coco Jones decidiu incluir essa faixa, lançada em 2024, em seu álbum de estreia.
A artista mostra que também acredita no amor honesto, verdadeiro e de final feliz em “You”. Apesar do tema ser diferente do que a cantora está acostumada a abordar, a batida lenta incorpora a letra que representa um casal que combina e tem vontade de morar junto, nos fazendo até duvidar se tudo isso é vida real: “Is this real life? Is it real?”. Esse estilo, no entanto, não se estende por muito tempo. A Coco Jones arrependida e que sofre de amor retorna em “Nobody Exists”. A partir dessa faixa podemos sentir que o álbum se aproxima do fim em tom mais sentimental, com instrumentais mais leves e relaxantes, aquele toque de R&B que ninguém recusa ouvir. Nessa etapa, parece até que uma música completa a outra com a chegada de “By Myself”, em que Coco se vê melhor sozinha ao perceber que o término acontece na hora certa.
Why Not More? termina com a artista reconhecendo que não dá para prever o fim e que o “para sempre” já não tem o mesmo peso de antes. Chegar à última canção, “Forever Don’t Hit Like Before”, é como concluir uma viagem sonora e sentimental. Também representa o fim de um capítulo de alguém que lutou por mais de dez anos para ter seu talento reconhecido, com erros, acertos e muita persistência.
Por que não mais? Após uma semana do lançamento, Coco Jones lança uma versão estendida do álbum com três faixas adicionais. “Is It Mine”, com Lady London, “Control Freak” e uma versão ao vivo de “Taste” — tornando a faixa ainda mais sedutora.
Para quem acompanha a trajetória de Coco Jones desde o início, Why Not More? mostra uma versão madura e polida da artista, determinada em saber o que está em alta e a tomar decisões importantes que vão moldar os interesses dos ouvintes. Com este projeto, Courtney prova que aceita desafios ao não desejar repetir a mesma fórmula de hits que a definiram, além de se aventurar em tantos gêneros, temas e sonoridades diferentes.