Após três anos de produção, Tátio finalmente vai dos blocos de Carnaval para a experimentação e introspecção da sua própria poesia com o disco de estreia, “Contrabandeado”. Mesclando o indie rock e a nova MPB, o artista mineiro traz nove faixas produzias por Chico Neves, com participação de Zeca Baleiro e Larissa Linhares.
Em uma chamada virtual, conversamos com o músico sobre o disco, sua trajetória artística e o cenário musical nacional nos dias de hoje.
Tátio começa falando sobre a alegria e a felicidade sobre a recepção do público: “A resposta é muito boa de quem tá ouvindo… É um disco que tá sendo feito há muitos anos, então a gente tava cheio de expectativas que estão se cumprindo, tanto por parte da imprensa, que tá divulgando, mas também de quem tá ouvindo nas plataformas de streaming.”
Por quase quatro anos “Contrabandeado” foi feito em um estúdio com Chico Neves, que produziu O Rappa, Los Hermanos, Paralamas do Sucesso e outros. Quando pergunto Tátio sobre esse processo de concepção do trabalho, o músico elogia o produtor e conta sobre essa construção. “O Chico tem um estúdio na casa dele, em Macacos (interior de Minas), e na pandemia a gente estreitou esse desejo de trabalhar juntos… Foi muito maravilhoso, ele me acolheu lá no estúdio e pegamos uma pré-produção que eu tinha feito em outro estúdio, e começamos a construir.”
Quando falamos sobre as influências geográficas e os estilos musicais presentes na vida de Tátio, pergunto ao músico como é fazer essa mistura e condensar em um único trabalho. “A gente tenta fazer um raio-x do músico e suas influências, mas… a parte legal de trabalhar com a música é sempre estar arriscando, pegar influências novas, brincar com timbres e experimentações… Esse disco possibilitou a gente fazer isso. Eu sou cantor no Carnaval há 3 anos mas minha pegada vem muito da MPB, nos anos 70, anos 80, Tropicália, Mutantes… A música do nordeste, Alceu Valença, Geraldo Azevedo… Então essa bagagem toda vem comigo. As composições do disco caminham desse lugar, mas no arranjos criamos uma coisa ousada, arriscada e trazer essa coisa bem brasileira num universo um pouco mais suspenso, aéreo… Apesar de ter uma percussão e beats mais marcados.”
No processo de composição e letras, Tátio nos conta: “Eu acho que o compositor tem uma função de leitura do mundo… A gente observa o mundo e tem o filtro do sentimento, da sensibilidade, é como se fôssemos uma antena mesmo… De coisas ruins e coisas boas. O processo vem desse lugar de observador, mas também de um lugar pessoal, simbólico e subjetivo do que eu penso. Olhar pro compositor como uma espécie de filósofo, mesmo que não acadêmico, é uma forma de ver meu tipo de composição. Eu não penso muito em “ah, vou falar de amor, isso aqui vai vender”, não… Isso tem passa pela minha cabeça. O que passa é o conteúdo, minha vontade de criar e produzir.”
Pensando no futuro, Tátio é categórico no desejo de fazer shows: “A gente tá lançando o álbum no streaming e queremos que ele rode muito durante o Carnaval, que eu vou tocar muito nos trios. Em março, começo uma imersão nos ensaios para o show do lançamento… A partir daí, nossa ideia é rodar bastante. Como é um álbum com uma pegada mais eletrônica, a gente consegue fazer um formato mais enxuto do show, para tocar em lugares menores e circular mais, sem precisar de grandes shows ou festivais. Isso ao longo do ano… Mais pro final, quem sabe emendar em um novo trabalho…”
E falando em casas maiores e menores, shows e festivais, questiono Tátio sobre o cenário da música atual, com streamings e um aparente boom na valorização de artistas brasileiros.
“A internet possibilita uma democratização no acesso, isso é fato, mas colocar a produção musical nesse lugar de bonança é uma grande mentira, porque na verdade essas grandes redes (de streaming) também exploram os artistas… E aí o artista vai depender de show. Para fazer dinheiro com streaming você tem que ser muito muito muito bombado, então o que o artista quer fazer é rodar com o show, para ser visto e conseguir algum lucro.”
Ao fim da entrevista Tatio se despede, convida a todos que escutem seu álbum de estreia “Contrabandeado” nos streamings, e siga apoiando e divulgando os artistas independentes nacionais.