Crítica | 10 anos do “Ultraviolence” de Lana Del Rey

Há 10 anos, “Ultraviolence” surpreendia com a direção sonora escolhida, mas já predestinava como seria o futuro de Lana Del Rey.

Atualmente, Lana Del Rey é considerada uma das cantoras mais interessantes, respeitadas e adoradas tanto por quem a ama quanto por quem simplesmente ouve uma música ou outra. No entanto, o caminho traçado por ela para chegar até onde está foi longo, e não apenas em termos de tempo, mas também de aceitação. Com uma carreira que já existia antes do grande sucesso com o álbum “Born To Die“, a atenção foi voltada para o que ela faria a seguir, somando-se ao interesse de quem gostava de observar não apenas a parte musical de Lana, mas também a persona criada por ela de forma tão envolvente.

Mesmo dizendo na época que não seria necessário um segundo passo pois ela “já havia dito tudo que queria dizer“, a decisão foi ir para um lado mais leve, focada mais na vibe do que na estética que a marcou com o lançamento de músicas como ‘Video Games‘ e ‘Blue Jeans‘, por exemplo. “Ultraviolence” não foi lançado de forma pretensiosa, como se quisesse dizer que agora a artista iria apagar completamente o que já havia feito, e mesmo com um nome forte, a surpresa foi se deparar com um disco que não tem agressividade ou qualquer dose de raiva. O clima é mais voltado à melancolia, a um som que se aproxima mais de dias chuvosos do que de qualquer coisa que remetesse ao tempo ensolarado feito anteriormente.

Não há tanta versatilidade quando tudo é ouvido em uma tacada só, causando a impressão de um eterno mix triste e introspectivo que só alguém em um momento contemplativo da carreira poderia criar. Hoje, sabe-se o quanto Lana gosta de fazer o que quer na hora que quer, já que sua carreira inclui joias inesperadas como “Did You Know That There’s a Tunnel Under Ocean Blvd” e sua maior obra de arte até então: “Norman Fucking Rockwell!!”. Sempre que algo é lançado por ela, é impossível saber se teremos mais um marco histórico na sua discografia ou algo como “Honeymoon”.

Ultraviolence” ainda é o projeto favorito de alguns fãs, e não é errado dizer que há alguns anos ele era o grande queridinho do público. No entanto, hoje em dia, é comum olhar para este momento na carreira dela e perceber que, mesmo com um valor nostálgico alto, o disco lançado em 2014 não envelheceu mal, mas também não sobrevive como um grande destaque na carreira de Lana Del Rey. Focado em estar mais próximo do rock, com uma sonoridade que engata momentos de psicodélico e soft, a combinação de sua voz única com guitarras lentas foi um acerto.

A abertura do álbum traz um combo com ‘Cruel World’ e ‘Ultraviolence’, que se apresentam de forma densa, opaca e escura, quase como uma trilha sonora de cena de enterro chuvoso. É impossível ouvir qualquer coisa aqui sem pensar na veia dramática de Lana com suas criações, e não é só na sonoridade que isso se aproveita. Outro exemplo de como um clima específico é colocado para cada canção é o timbre sensual enquanto a guitarra arranha em ‘Money Power Glory’. 

O romantismo aparece em ‘Brooklyn Baby’, e mesmo que a letra possa ter interpretações que levam a crer em um deboche ou ironia sobre o tema, a composição gruda, quase como uma música pop. ‘West Coast’ e ‘Florida Kilos’ são outros momentos em que o disco decola e prende, mas, analisando de forma geral, a balança de “Ultraviolence” cai mais para o lado da monotonia. Ouvir o disco do começo ao fim não é um trabalho fácil, e isso não tem a ver com a duração (a versão deluxe tem um pouco mais de uma hora de duração), mas sim com a falta de diversidade no trabalho completo.

Ultraviolence”, mesmo em seus momentos mais leves, ainda soa como uma carga pesada nos ombros do ouvinte, e essa densidade não é absorvida de uma forma que facilite entender o objetivo sonoro, mas vem como um encosto que não para de sugar energia. Mesmo que as melhores canções sejam ótimos adendos a qualquer lista de melhores obras de Lana Del Rey, é durante os momentos mais fracos que a sensação de cansaço aparece, e aparece com força.

Há 10 anos, esse disco surpreendeu com a direção sonora escolhida e também predestinou como seria o futuro de Lana Del Rey: composições fortes, som cada vez mais distante do pop e uma boa dose de drama. Felizmente, o aprimoramento do que a artista fazia foi conseguido com lançamentos posteriores, balanceando a densidade e adaptando participações de outros artistas em seus trabalhos.

Ultraviolence” é um registro que, na discografia, não ocupa as melhores posições, mas pensando em como ele foi necessário para a evolução de Lana, o disco ganha pontos. Ouvi-lo é exaustivo; mesmo sendo possível não esquecer dos bons momentos, dar o play mais de uma vez é um trabalho árduo, e colocar para tocar em loop é como se fosse o décimo terceiro trabalho de Hércules. Mesmo assim, os fatores que incomodam não apagam o quanto ele foi bem polido e decidido, porque não há como negar que Lana Del Rey é inflexível em seus projetos, seja para o bem ou para o mal.

68/100

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