Crítica | Anitta, “Funk Generation”

Esperado álbum de Anitta, o “Funk Generation” definitivamente não mostra o gênero musical para o mundo pela primeira vez, mas sim o fortalece

A Anitta ter uma jornada inflada até esse atual momento, o que ela lança o “Funk Generation” no ar, não é novidade. Entretanto, até que ponto o ouvinte precisa fazer parte desse conturbado jogo de xadrez, que envolve números e rivalidades, para curtir o álbum mais amplo da cantora?

É preciso entender que há inúmeras políticas numa comunidade de fãs, mas ok, até onde isso intervém alguém a produzir sua própria arte? De todo modo, o projeto mais alto da brasileira sintoniza parte desse reagente, mas exporta o funk com potência (finalmente!) ao entender quem vai consumir tal obra e a importância de transmutar o gênero musical com critério.

Meme” entende esse papel e é dentre os registros a menos simbólica nesse sentido — mas não menos boa, já que batiza a liga como algo mais pop; a deliciosa “Aceita” fica na mesma. É nessa sintonia que o ritmo referência fica de canto, mas não o desrespeita. Tal decisão abraça o novo com certa sabedoria de quem (precisamente, ou não) irá escutar o disco.

Entre experimentos com o funk, Anitta mostra seu melhor lado

Tal redução nas tecnologias do funk não fica de escanteio; a proposta é estudada de jeitos diferentes. Por exemplo, “Cria De Favela” tem gestos incríveis mesclados a um lado experimental que reivindica um score altíssimo dentro da produção.

De outro lado, ensaios caretas como “Joga Pra Lua” ou “Puta Cara” surgem. Confuso, mas é gostoso ver essa instabilidade, na prática, gerando um leve espaço para respiro entre as outras peças que soam referenciadas. Ao mesmo tempo, essa sensação estranha vai embora por faixas boas como “Ahí” serem reais.

Anitta grita por músicas que projetam parte extrema do funk “raiz”, mas dilatando essa veia com ciência de que ele estará sendo destrinchado para um tipo de público que, em consciência, não entende totalmente a voracidade do gênero. Ou seja, a lição é dupla: agradar quem já estava aqui e também aqueles que virão consumir um terreno inegavelmente diferente, tudo sem abandonar aspectos importantes de uma trajetória histórica.

Funk Generation” é o seu projeto com mais compromisso, onde o empenho em tornar tudo coeso e com coligações entre si resiste. Sem contar que é possível encarar o disco como um terreno de estudo insano para o que ela pode fazer daqui em diante.

Se boa parte desse álbum mostra como ela reagirá agora e no futuro, estamos em uma boa jornada. Na totalidade, o mais importante é enxergar como a música de Anitta será vista daqui a um tempo após um lançamento que diz muito sobre quem ela é e quem pode se tornar.

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