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Crítica | Chappell Roan, “The Rise and Fall of a Midwest Princess”

O “femininômeno” do ano faz sua estreia com um álbum divertido e potente na mesma medida.

Nascida e criada no interior do estado de Missouri, Chappell Roan — ou Kayleigh Rose Amstutz — tinha todos os motivos para se apropriar do conservadorismo americano que a cercava, no entanto, a “artista favorita do seu artista favorito” vai na contramão e nos convida a mergulhar de cabeça no pop irreverente em seu irresistível álbum de estreia. 

“The Rise and Fall of a Midwest Princess” chegou no segundo semestre de 2023, mas foi só em 2024 que o disco atingiu a atenção do público mainstream, transformando a cantora em um dos nomes de grande destaque e na maior aposta para um Grammy de Melhor Artista Revelação. Os holofotes começaram a se inclinar em direção a Chappell Roan com a sua participação na turnê do segundo disco de Olivia Rodrigo,  as duas até dividem um laço em comum: os trabalhos de ambas são assinados pelo compositor e produtor Dan Nigro.

“Femininomenon” é a faixa responsável por abrir o álbum e por apresentar um dos principais temas do trabalho: prazer feminino, ou melhor, prazer sáfico. Com uma junção das palavras “fenômeno” e “feminino”, a cantora usa do trocadilho para descrever a sensação de se relacionar com uma mulher pela primeira vez e de finalmente se entender como queer.

Seguida de músicas que se equilibram entre o divertido e o sensual, “Red Wine Super Nova”, “After Midnight” e “Naked In Manhattan” brincam com a ideia do flerte, do prazer sem remorsos e da excitação de se descobrir sexualmente. Na última, Chappell Roan até consegue citar David Lynch, Meninas Malvadas e Lana Del Rey de forma pós-irônica, sem soar cafona como provavelmente aconteceria se ela não fosse a intérprete do single.

Destaca-se também a vingativa “My Kink is Karma”, música que a própria cantora descreve como “tóxica” e “nada saudável”. Com composição de Justin Tranter, artista responsável por hits de Justin Bieber, Miley Cyrus e Lady Gaga, a faixa serve como manifestação para que sua ex-namorada pague de forma cruel por todo o caos causado em sua vida.

A cantora também se garante em canções mais melancólicas, as ótimas baladas “Casual” e “Picture You” são exemplos de faixas responsáveis por desacelerar o ritmo do disco e apresentar uma Chappell mais vulnerável e sentimental, sem os trocadilhos e o efeito cômico dos hits maiores. São nesses momentos em que a voz da cantora ganha  protagonismo e escancara a vocalista por trás da maquiagem pesada de drag queen. 

Além da sonoridade, que te faz sentir saudade de quando Marina and the Diamonds surgiu no início da década de 2010, o visual escolhido por Roan para o ciclo do seu primeiro trabalho também chama bastante atenção. Com uma mistura improvável de moda high school estadunidense e o excêntrico estilo drag queen, a artista parece beber da fonte da subcultura new romantic, movimento que teve figuras como Bowie e Boy George como padrinhos.

Há quem compare os figurinos extravagantes da novata com a ousadia de Lady Gaga, afinal, as duas já trocaram elogios pelas redes sociais e Roan já deixou claro que tem a Mother Monster como grande inspiração, mas Chappell Roan caminha para solidificar uma identidade visual original sem se apoiar no conceito datado do que antes foi considerado chocante.

Em síntese, o álbum é uma celebração teatral sobre a experiência de Chappell Roan como mulher lésbica e do seu nascimento como artista promissora, trazendo um respiro de alívio e originalidade para a música pop dos anos 2020.

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