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Crítica | Clairo, “Charm”

Dizem que a terceira vez é o Charme. Com um pé fora do bedroom pop, Clairo explora o jazz no 3º álbum.

Há pouco mais de duas semanas, Claire Elizabeth Cotrill, ou Clairo, como conhecemos na internet desde 2017, dispnibilizou seu terceiro álbum, “Charm”. O disco é produzido pelo também musicista Leon Michels, cuja carreira como produtor é trilhada por jazz e soul, o que influenciou diretamente no novo álbum da agora não tão jovem, e nem tão tímida Clairo.

Acredito que, para apreciarmos o crescimento pessoal e profissional de Clairo em Charm, é preciso de contexto ao que antecede o álbum. Se você estava na internet tanto quanto qualquer outro jovem entre 2017 e 2019, então com certeza você conhece o bedroom pop. E foi ali que surgiu Clairo, com uma estética 1990s, tanto sonora quanto visualmente, com as músicas que a fizeram ascender na internet “Pretty Girl” e “4EVER”, com letras ainda ingênuas — algo que Clairo trabalhou com sucesso em Immunity, seu álbum de estreia em 2019, de uma delicadeza e vulnerabilidade ímpar, que explorou ainda mais em 2021, com Sling, segundo disco da cantora, de características mais sóbrias na instrumentalidade.

Chegamos em Charm com uma Clairo ainda mais consciente sobre o que quer fazer com sua sonoridade. Com “Sexy to Someone”, primeiro single do álbum, Clairo nos deu pistas sobre a intenção por trás da história que Charm nos contaria, “Sexy para alguém, isso me ajudaria / Eu preciso de uma razão para sair de casa”, um contexto divertido e atraente, totalmente certeiro para quem estava acostumado com a cantora habituada em explorar temas românticos com versos discretos, agora temos à nossa mão (ou ouvidos) canções como “Second Nature” e “Juna”, favorita do público.

E não há dúvidas sobre a grandiosidade de Juna na discografia de Clairo, segundo single do álbum, cujo título vem da junção de Joanie e Luna, nomes dos cachorros de Clairo e Leon, e reafirma a leveza da parceria entre a cantora e o produtor. Como se não bastasse a experiência que o sintetizador e instrumentos de sopro proporcionam embalados pela voz de Clairo, a performance com banda completa, incluindo a mímica da cantora simulando um trompete no The Tonight Show foi a cereja do bolo. Apesar de toda a expressividade tímida de Clairo, há um senso de humor e de estilo sonoro próprio da artista e incentivado pelo produtor, que impulsiona a cantora explorar tantas cores nas suas músicas em um álbum que nos faz viajar do indie pop, ao folk e até um pé no psicodélico dentro de 38 minutos.

Temos canções que nos lembram da “clássica” Clairo, como “Pier 4” e “Add Up My Love”, e, num geral, o álbum faz todo o sentido para a proposta da artista em nos fazer pensar nos sentimentos de ser encantada (to be charmed) e encantar (to be charming). O tema dá luz a um tópico interessante para mim: o desejo em querer, e o tédio em ter, principalmente com os versos finais do álbum, “Quando perto ainda não é perto o suficiente / Qual a graça nisso? E agora estou mais difícil / Por estar perto demais”, ah, e se isso não é a representação mais clara do que é fazer charme.

A junção única entre Clairo e Leon Michels nos presenteia um álbum lindo e coeso na discografia de Clairo, respeitando suas preferências de vocalização ao mesmo tempo que divertido em um instrumental indie-folk-jazz, e se a cantora quiser lançar versões suite, assim como Faye Webster fez há dois anos atrás, nós ficaremos muito gratos.

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