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Crítica | Com nove indicações ao Oscar, “Os Banshees de Inisherin” divide opiniões

Com muitas críticas sobre ser um filme tedioso e parado, o longa surpreendeu com um carisma diferente.

O que você faria se seu melhor amigo parasse de falar com você? Provavelmente suspeitaria de uma mágoa, uma chateação que você causou e não se lembra. Talvez um mal entendido, algo que você possa ter dito e soou mal interpretado, mas… E se nada disso fosse o motivo? Você continuaria tentando descobrir? Correndo atrás daquela amizade tão especial, que sempre fez parte da sua vida, e que agora parece talvez nunca ter gostado tanto de você assim?

Esse é o principal dilema de “Os Banshees de Inisherin”, que estreia agora nos cinemas e surpreende com nove indicações ao Oscar. Entre as categorias de Melhor Ator, Ator Coadjuvante, Atriz Coadjuvante, Melhor Trilha Sonora Original, Direção, Roteiro, Montagem e Melhor Filme, conferimos o longa de quase duas horas e tivemos algumas surpresas.

Embora o filme tenha sido taxado por muitos espectadores como um filme “chato”, “entediante” ou “parado”, nossa impressão foi bem diferente. Embora sim, sua narrativa não apresente grandes explosões, perseguições alucinadas e tiroteios acelerados, “Os Banshees” consegue nos fisgar nas sutilezas. Como uma história sobre dois amigos que param de se falar, numa ilha costeira e interiorana da Irlanda, em plena época da Guerra Civil Irlandesa, em 1923, consegue guiar nosso interesse do começo ao fim já é um motivo justo para algumas das 9 indicações.

Com uma fotografia de tirar o fôlego e uma direção muito acertada de Martin McDonaugh, a trama se sustenta no colo da atuação impecável de seu elenco. De todos eles. De Colin Farrell a Sheila Flitton, a aparente simplicidade da narrativa é enfeitada com cada um de seus personagens, desde um ex-amigo que decide arrancar cada um de seus dedos a cada tentativa de contato do personagem de Colin, a esquisitíssima e engraçada bruxa de Sheila. Do “bobo da corte” de Barry Keoghan a equilibrista de Kerry Condon, que se esforça o tempo inteiro para manter tudo em seu devido lugar.

É quando o espectador se relaciona com aquele cotidiano aparentemente tão aleatório e disfuncional que conseguimos enxergar nos personagens várias partes de nós mesmos. E na metáfora cinemática que o filme traz a burrice da guerra para personagens tão relacionáveis que entendemos a falta de sentido e bom senso em tudo.

A “tragicomédia”, como foi anunciada, é exatamente isso. Um retrato de uma batalha fútil e sem vencedores, que molda a vida de todos os envolvidos de formas irreversíveis e inimagináveis. E mesmo com certa leveza consegue nos trazer horror, melancolia e reflexões que não imaginamos quando sabemos que o filme é, apenas, sobre o fim aparentemente bobo de uma amizade.

Vale todas as indicações e merece sim alguns dos prêmios! Definitivamente, vale o ingresso: entre na sala, esqueça o tempo e suas preocupações e se deixe apenas assistir ao impasse inebriante e revoltante de Pádraic e Colm.

85/100

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