Crítica | Em sua psicodelia, “Please Baby Please” discute os papéis de gênero

“Please Baby Please” traz discussões sobre relacionamentos e genêro em um cenário dos anos 1950

Finalizando o março com chave de ouro, a plataforma de streaming MUBI traz para seu catálogo “Please Baby Please”, um musical estrelado por Harry Melling (Saga Harry Potter) , Andrea Riseborough (Birdman) e Karl Glusman (Animais Noturnos). O filme conta a história de Arthur e Suze, um casal boêmio dos anos 1950, que um dia inesperadamente se deparam com um assassinato cometido por gangue greaser. A partir daí, os protagonistas lidam com uma novidade erótica, que mudará suas visões sobre o relacionamento e sua ligação com a violência.

Desde o início, já somos apresentados ao seu estilo que, ao mesmo tempo, é muito único, mas também é repleta de referências, como “West Side Story” (1961), “Grease” (1978) e até “Cry-baby” (1991). Tudo isso aliado a uma estética que explora a combinação de luzes, uma interpretação que beira ao teatral, caracterizações fascinantes e versões de músicas bem mais cruas. Sua introdução traz um número de dança muito interessante e bem coreografado, que dá o tom e o ritmo da história.

Ademais, o enredo é um dos pontos mais altos da histórias, principalmente por trazer uma questões muito populares com uma estética muito artística: Existem papéis as serem cumpridos por cada gênero? O que mantém os casamentos? E também a complexidade dos relacionamentos e a sexualidade, tudo isso, levado até às últimas consequências.

Um dos destaques do filme é a atriz Demi Moore, que faz uma participação curta, mas muito marcante, pois sua personagem, Maureen representa todos os impulsos reprimidos de Suze, além da contradição da vida conjugal dela e de Arthur, já que ao mesmo tempo que ela deseja ser a “esposa de alguém” e ter um marido com o comportamento mais “masculino”, ela espera viver experiências que fogem aos padrões da monogamia cisnormativa.

As inspirações do filme

Além de Moore, outros atores que roubam a cena são Karl Glusman, como Teddy, um dos membros da gangue, que conquista o imaginário de Arthur com seu jeito bruto, mas que esconde uma fragilidade e um desejo de impressionar seus amigos. Dickie, interpretado por Ryan Simpkins também se destaca, justamente por ser o oposto de Teddy: deixa sua fragilidade exposta, mas guarda um instinto violento. De acordo com o ator, em suas redes sociais, o personagem tem inspiração em Alex DeLarge de “Laranja Mecânica” (1971) e John “Plato” Crawford de “Juventude Transviada” (1955).

Assim como há diversas referências a musicais, é notável as influências que a diretora Amanda Kramer buscou ao criar “Please Baby Please”: o exagero cênico em alguns momentos, o trabalho de luz e toda a visão surrealista, remete ao famosos diretor David Lynch. Inclusive, em Arthur, de Melling vemos que não apenas sua aparência, como a crise existencial se assemelham ao protagonista de “Eraserhead” (1977), Henry. O filme ainda possui um fator extremamente irreverente a história: o surrealismo. Em diversos momentos vemos as fantasias sexuais dos personagens de uma forma honesta, camp e queer, tudo isso unido a uma aura de sonho e um desejo de libertação.

Portanto, se você deseja assistir um filme que traga um ar de psicodelia, sonhos, eroticismo e muita representatividade queer, “Please Baby Please” é uma ótima escolha. Além de todo o seu enredo inovador, interpretação exagerada, caracterização divertida e um elenco impressionante, sua trilha musical traz uma versão visceral de “Since I Don’t Have You”, dos Skyliners, mas mais famosa pelo cover do Guns N’ Roses, o que torna o filme ainda mais fascinante.

O filme está disponível no streaming da MUBI, que agora faz parte das assinaturas premium da Amazon Prime Video.

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