Crítica | FLO, “Access All Areas”

Mesmo que “Access All Areas” não seja um trabalho impecável, FLO entrega um disco assertivo e que bebe de referências muito bem escolhidas

Já faz alguns anos que o mundo da música está sedento por um girl group como Destiny’s Child e The Pussycat Dolls. Hoje, cinco anos após nos presentear com seu primeiro single “Cardboard Box“, o promissor trio britânico FLO finalmente lançou um álbum para chamar de seu e reacender essa chama de grupo de estrelas. Intitulado Access All Areas, em 16 faixas —e mais 5 na versão UNLOCKED— o disco nos apresenta quem são Stella, Jorja e Renée, as três brilhantes vozes por trás desse belo projeto de R&B.

Logo ao dar play, escutamos a voz da estrela Cynthia Erivo (Wicked) nos apresentar o trio. “Take a seat, take a seat for the show”, é com essas palavras que o disco se inicia. Daí para frente, somos abençoados com 47 minutos de pura influência ao R&B produzido nos anos 90 e 2000. Logo de cara, o primeiro single do álbum, “Walk Like This”, mostra o lado sensual do trio, falando sobre o “amor” que recebem de seus namorados.

As meninas, que já evidenciaram o R&B referencial em suas vozes, abordam temas diversos em seu álbum de estreia. A faixa-título, “AAA”(“Access All Areas”) mistura arranjos sofisticados com a sample da música “Portuguese Love” de Teena Marie, abordando sobre o controle e a confiança em um relacionamento amoroso. Já “I’m Just a Girl” destaca a necessidade de ser vista pelo seu (inútil) namorado; algo já visto similarmente como em “Normal Girl“, da SZA.

A produção executiva do álbum fica nas mãos de MNEK, famoso por produzir álbuns como ‘So Good’ de Zara Larsson e ‘Glory Days’ do girl group britânico Little Mix. O produtor traz harmonias claras e uma versatilidade diferente para as faixas do projeto, sua produção futurista cria um som muito nostálgico e inovador ao R&B produzido nos anos na última década do século passado. O trio também traz vocais satisfatórios, sem que precisam exacerbar gritos e falsetes para criar algo profundo e melodicamente gostoso de ouvir.

Falando sobre amor próprio, a rapper GloRilla colabora com o FLO no single “In My Bag“, uma das músicas destaque do álbum, trazendo a essência do trap americano e tornando a faixa ainda mais poderosa. É nítido ver que elas não se limitam a romper novas barreiras, pois suas letras apresentam um trabalho coeso e com frescor. Os tons de vozes em harmonia com soul em diversos momentos mostram a capacidade das meninas de entregarem verdadeiros hits.

Fazendo jus ao gênero, o R&B trazido por FLO aqui (e em seus trabalhos anteriores) é muito polido, deixando de lado a superficialidade de produções que costumam circular o mercado, permitindo que as vozes das integrantes brilhem e se tornem o ponto central. Existe um cuidado evidente em cada detalhe, desde as letras até a construção melódica. Este tipo de trabalho molda o som do trio sem diluir sua autenticidade, reforçando o compromisso das três em entregar um trabalho autêntico e acima da média, sem deixar de ser experimental.

É compreensível entender como a chegada do FLO causou entusiasmo no público, já que. frescor delas trouxe reascendeu um desejo sonoro que há muito não existia. Els surgiram em um momento onde ter um grupo feminino de R&B no mundo da música é raro —ainda mais pondo no mundo trabalhos tão essenciais. Sua influência em artistas das décadas passadas destaca essa importância para as novas gerações. Destiny’s Child, TLC, e tantos outros grupos que moldaram o que conhecemos hoje como a “era do ouro” de gêneros e subgêneros.

A trajetória do FLO —comprovada por preamições como o BRITs Rising Star de 2023—, as posiciona como uma força significativa e com enorme potencial para ser reconhecida. Além do impacto musical, Stella, Jorja e Renée também se destacam pela representatividade que trazem ao novo cenário musical como um todo.

Mesmo que “Access All Areas” não seja um trabalho exatamente impecável, FLO entrega um disco assertivo e desenvolto, que bebe de referências lapidadas e mistura, sem medo, diversas das principais qualidades das três integrantes. Existem pontos a serem melhorados, sim, e muitos deles se tratatam puramente de lapidação comercial, algo que com o tempo o trio deve tirar de letra. A tendência é seguir um caminho cada vez mais promissor, que, em sua essência, mostra o poder da geração ascendente em criar, criativamente, sem limites.

78/100

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