Physical Graffiti, de Led Zeppelin, é o novo disco cinquentão

Um dos trabalhos mais marcantes e perseverantes da história do rock, Physical Graffiti completa meio século de existência

Physical Graffiti (1975), o sexto álbum de estúdio da banda britânica Led Zeppelin, é o mais recente cinquentão do pedaço. Pode não ser considerado o melhor trabalho da banda por alguns de seus ouvintes, porém é, definitivamente, um dos mais memoráveis. E tudo isso por causa de um conjunto maior: a capa com múltiplos elementos, o design escolhido para apresentar os discos de vinil — o primeiro trabalho duplo feito pela banda, que vendeu oito milhões de cópias só nos EUA e, por ser duplo, foi certificado com 16 discos de platina —, o lançamento realizado no auge da pulsão criativa do grupo e durante uma turnê, as faixas para lá de ricas que compõem o repertório do álbum… Uma sopa de notas musicais, estratégias de marketing e, de fato, um trabalho consolidado do Led Zeppelin nos anos anteriores ao nascimento de Physical Graffiti. 

Após cinco álbuns que ajudaram a moldar o hard e o blues rock, Jimmy Page (guitarra), Robert Plant (vocais), John Paul Jones (baixo e teclados) e John Bonham (bateria) decidiram ir além do que já buscavam. Os trabalhos anteriores da banda eram ousados, porém por seu caráter roqueiro disruptivo da sociedade da época e não necessariamente por sua sonoridade. No fim da década de 1960, a herança deixada pelo festival Woodstock e o movimento flower power e os hippies, o grupo se enquadrou ao que era visto como “revolucionário” por quem não era adepto a essas ideologias.

Antes e depois de Physical Graffiti

Foi com Physical Graffiti, obra produzida por Page, que a virada de chave do Led Zeppelin rolou. A banda já era conhecida, tinha um time consolidado de fãs e fazia shows mundo afora. No entanto, foi só em meados dos anos 1970 que o quarteto decidiu implementar o experimentalismo em suas composições. Há uma mescla refinada e infundada de blues, rock, folk, funk, psicodelia e até mesmo de gêneros orientais pouco difundidos. 

A banda gravou parte do material em 1974 no Headley Grange, casarão inglês que foi usado nas gravações de Led Zeppelin IV e Houses of the Holy. A banda aproveitou o espaço para compor com mais liberdade, criando faixas longas, complexas e levitantes — como é o caso de  “In My Time of Dying”. Parte da segunda metade do disco duplo resgatou trabalhos que haviam ficado de fora de discos anteriores.

Dentre tantos marcos, Physical Graffiti foi o primeiro trabalho do Led Zeppelin lançado pelo próprio selo da banda, a Swan Song Records, fundada no ano anterior à concepção do álbum. Antes disso, todos os discos do grupo saíam pela Atlantic Records.

O sucesso imediato

Logo de cara, Physical Graffiti entrou no topo dos charts britânicos e estadunidenses. À época, o Led Zeppelin era uma das bandas mais reverenciadas. Hoje, quase sessenta anos depois da estreia do quarteto nos palcos, essa realidade não mudou. Na verdade, a reputação do grupo enriqueceu com o passar dos anos e de seus trabalhos. Ela ainda ecoa vibrante e constantemente, seja no rock de Greta Van Fleet ou no hip-hop dos Beastie Boys e de Puff Daddy. Gerações e mais gerações de músicos se basearam nos trabalhos de Led Zeppelin, principalmente nos resultados de Physical Graffiti. Não à toa, o álbum figura na lista dos 200 álbuns definitivos no Rock and Roll Hall of Fame. Indo além, foi considerado pela revista Rolling Stone o 70º melhor álbum de todos os tempos. Depois de uma revisão feita em 2020, o trabalho caiu para a 144º posição.

Sobre as 15 faixas

A duplicidade do disco indica que a quantidade de faixas é extensa — o que é verdade. Essa escolha é arriscada pois abre espaço para um dos erros mais comuns (até mesmo em discos de curta duração): a inconsistência. Porém, a banda consegue entregar um álbum coeso, constante e completo. As tantas composições, cada uma com suas particularidades, criam uma aura sonora sem muitas alterações. Sim, os estilos são variados e é um dos trabalhos mais ousados do Led Zeppelin. É justamente essa mélange que enobrece Physical Graffiti. Não disse que era um álbum e tanto?

Os holofotes do disco ficaram voltados para o funk rock enérgico de “Trampled Under Foot“, o blues de “In My Time of Dying”, o hard rock clássico de “Custard Pie” e a mistura desses dois últimos gêneros, resultando em “The Rover”. Além disso, “Kashmir” se tornou uma das assinaturas musicais do Led Zeppelin, uma das músicas mais magnânimas da história do rock, ousa-se dizer. A mistura de escalas orientais, a orquestração épica e a batida marcial de Bonham é para lá de hipnótica. 

A parte visual

A capa de Physical Graffiti é a mais urbana — e enigmática — de qualquer trabalho do Led Zeppelin. A foto retrata um edifício em Nova Iorque (96 e 98 St. Mark’s Place) que remete ao Dakota, prédio onde John Lennon foi assassinado. Também é similar à cena final do filme Taxi Driver (1976), de Martin Scorsese, com Jimmy Page sentado na escadaria. Um detalhe curioso está nas janelas: na primeira coluna, à esquerda, as letras formam a palavra “PIG” (porco, apelido jocoso usado na língua inglesa para se referir a policiais). Enquanto isso, na terceira coluna, na horizontal, aparece “GRAF”, referência às aeronaves batizadas em homenagem ao seu construtor no início do século XX. 

Meio século depois

Cinco décadas se passaram e Physical Graffiti segue firme enquanto um marco sensorial, uma obra congruente, uma referência para as coisas boas da vida. Não se trata de um trabalho que marcou o rock ou a indústria fonográfica — ou melhor, é por aí mesmo. Mas o disco vai além e se desenrola na ousadia e criatividade do Led Zeppelin. Sempre há um pouco a se descobrir entre uma escuta e outra, revelando algo novo a quem se aventura por esse cinquentão.

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