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Crítica | Luísa Sonza, “Escândalo Íntimo”

Em “Escândalo Íntimo”, Luísa Sonza surpreende com produção devastadora e sonoridade experimental enquanto explora sua própria versatilidade.

Na onda de calor da evolução ultrassônica do pop nacional, artistas tendem a se aventurar cada vez mais em ritmos e espaços diferentes do usual para se manterem em evidência artística — até mesmo em propósito de desafiar sua própria arte. “Escândalo Íntimo” de Luísa Sonza se torna, sem dúvidas, um dos pilares para a construção desse novo cenário na indústria.

Não muito distante de sua própria bolha, o primeiro single abre sua nova fase de forma chocante e surpreendente. Líricamente, já conhecemos seu estilo e — quase sempre, sabemos exatamente o que esperar de seus trabalhos. A diferença em “Campo de Morango” é que tudo parece estar muito bem alinhado em cada segundo, devido a sua produção experimental visivelmente cautelosa. Apesar da sonoridade mais agressiva e crua, Sonza descobre uma mistura de funk, trap e acrescenta um toque especial que faz parecer diferente de qualquer coisa que já tenha sido feita ao longo de sua discografia. De acordo com a própria cantora, essa é apenas a ponta do iceberg para um projeto totalmente fora da curva.

Vendido desde o princípio como um álbum diferente dos demais e que nos emergiria num lado mais sensível e experimental da artista, “Escândalo Íntimo” cumpre com esse papel até certa instância. A produção do álbum surpreende do início ao fim, conseguindo segurar sem tédio os mais de 40 minutos de álbum — até então. Passeando pelo rock, samba, funk e bossa nova, a sonoridade do disco é original e eclética. Sustentando bem o caráter experimental, Sonza brinca não apenas com os ritmos musicais mesclados ao pop original, mas também com os próprios vocais.

O novo trabalho de Luísa Sonza peca, no entanto, por abusar das referências ao ponto de parecer uma tentativa de mimese. Referenciando obras de Caetano Veloso, Elis Regina e Rita Lee, o álbum tenta assumir seu lado inclinado à “nova MPB”. É quase como se a cantora estivesse trabalhando numa transição forçada de gênero musical apenas para o agrado alheio, e não, de uma forma natural.

Essa tentativa contrasta com letras altamente literais. Ainda que a literalidade não seja, por si só, um problema, ela esvazia parcialmente o caráter lúdico proposto, evidenciando que ainda diante de um avanço, o repertório segue limitado.

Por outro lado, é fácil reconhecer a naturalidade quando falamos em canções como “Chico“, que sem deixar de flertar com a música pop, alcança a bossa nova de um jeito orgânico e apaixonado, sendo o maior êxito da obra. A faixa é ilustrada por uma letra genuinamente tocante na pureza de sua simplicidade. O sentimento também aparece em “Penhasco2“, talvez pelo fato da canção ser uma extensão crua do trabalho de Luísa em seu último lançamento “DOCE 22“.

Uma narrativa conduzida por colaborações e interlúdios em ‘Escândalo Íntimo’

Surpreendendo com as colaborações, Duda Beat, Marina Sena e Baco Exu do Blues são os nomes que compõem a trilha de participações excelentes no disco. No entanto, todas reforçam a importância da versatilidade sonora brasileira, cada uma em suas próprias singularidades.

Num cenário quase inédito, a canção com Demi Lovato causa uma primeira impressão surpreendente. Em português brasileiro, a composição abraça totalmente a nossa cultura e nacionalidade com seu verso impactante: “saudade não tem tradução“.

Amarradas entre blocos por interlúdios que atuam de forma essencial na construção do projeto, cada uma das colaborações estão exatamente onde deveriam estar. Atualmente composto por 18 faixas, Luísa desenvolve uma narrativa com a personalidade que já conhecemos, mas que, de certa forma, funciona como um suspiro de alívio entre um momento e outro.

Uma vez que a cantora adentra este novo universo em sua carreira, um novo caminho tende a ser trilhado. É interessante observar a trajetória da artista, entretanto, por vezes, falta originalidade. Por um juízo de valor popular errôneo do que seria uma “música de verdade”, a cantora parece tentar o encaixe em linguajares poéticos e metafóricos, típicos da MPB.

Escândalo Íntimo” ainda esconde 6 faixas e promete manter consistência e coerência, a fim de conduzir seu curta-metragem, dando vida ao seu primeiro álbum visual. Não à toa, Luísa arrematou o título de álbum brasileiro a atingir mais rápido o montante de 1 milhão de streams no Spotify, mostrando mais uma vez, que têm números e ainda é artista (por mais que digam o contrário).

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