Crítica | Não Se Preocupe, Querida estreia com uma superficialidade preocupante

Com elenco de peso e polêmicas que agitam seu lançamento, o filme chega às telonas com mais fofocas que conteúdo

Florence Pugh e Harry Styles. Esses dois nomes já são capazes de criar burburinho por si só. Agora imaginem a promessa desse casal juntos, em um filme com estética sessentista e inúmeras cenas de sexo. Certamente é um chamariz e tanto. Dirigido por Olivia Wilde (que também atua no longa), a distopia moderna Não Se Preocupe, Querida (Don’t Worry Darling, no título original) chega aos cinemas envolto a inúmeras polêmicas. Nós assistimos o filme e, fofocas de lado, te contamos o que esperar caso compre o ingresso!

O filme apresenta um estilo de vida perfeito, simétrico, nostálgico, controlado. A ideia de que controle é segurança é fortemente disseminada, bem como tudo que venha a divergir disso deve ser erradicado. Jack e Alice, interpretados por Harry e Florence, respectivamente, são o foco principal da narrativa, que também apresenta outras famílias imersas no mesmo universo.

Florence Pugh em Não Se Preocupe, Querida / Warner Bros. Pictures (reprodução)

O cotidiano é representado com estética impecável, uma fotografia confortável e que quase nos dá um senso acolhedor. Não demora muito até que as repetições deixem claro que nem tudo está bem, mas os visuais são de encher os olhos. A direção de arte embasada em anos clássicos americanos também é confortável ao nosso imaginário e muito acertada. Para quem gosta dessa sensação visual que apela para a nostalgia imaginária, é um prato cheio.

Mesmo assim, o espectador fica ciente nos primeiros minutos de filme que aquela é uma sociedade experimental, ou seja: eles são uma espécie de teste. Todos os homens trabalham em um projeto secreto, aparentemente gigante e cuja discrição é de imensa importância. Enquanto isso, as mulheres são donas de casa, figuras de apoio dos maridos, vivendo em fofocas do pequeno e superficial mundinho de bonecas.

Partindo para pontos específicos, o roteiro é a peça central que peca em diversos momentos do filme. O ritmo é um deles: grande porção de Não Se Preocupe, Querida passa sem que a realidade seja questionada. Quando é, muito se passa dando pistas de que algo não está bem. No momento em que algo efetivo acontece na trama, o filme acelera e engasga bastante em seus minutos finais. Ou seja, mesmo com um plot twist significativo que poderia agregar valor, dinâmica e profundidade aos personagens, o tempo de tela é desperdiçado em muitos momentos, e acelerado ao final — soando apressado e mal executado. Isso faz com que o desfecho não seja tão satisfatório, e que nós não nos aproximemos tanto dos personagens a ponto de desenvolver empatia para que torçamos por ações diferentes.

A atuação de Florence Pugh entrega o que se espera dela, Harry Styles está bom no papel, mas o roteiro raso exige pouco de ambos. Outro ponto de incômodo é a forma como a relação deos dois é retratada: não há muito companheirismo ou momentos de intimidade e conexão. Há sexo. Ao menos 3 cenas delas, em que Jack estimula a esposa sem exigir muito em retorno. Mesmo assim, não convence quanto à potência do laço que possuem — o que dificulta que tenhamos emoções muito significativas nas reviravoltas do roteiro. Se não nos aproximamos do casal, pouco ligamos quanto ao que acontece com eles, certo?

Olivia Wilde, diretora de Não Se Preocupe, Querida, possui algumas cenas, bem como Chris Pine, que consegue ser um dos personagens mais “carismáticos” em cena, mesmo com um desfecho bem aquém de sua narrativa.

O fato é que Não Se Preocupe, Querida parece ter a faca e o queijo na mão, mas não faz bom proveito de nenhuma das duas coisas. Embora construa sim boas cenas de suspense e tensão, a superficialidade que é criticada acaba enraizada no roteiro e seus personagens, fazendo com que sintamos que todo o filme é um grande desperdício — infelizmente.

Não Se Preocupe, Querida / Warner Bros. Pictures (reprodução)

Saímos da sala de cinema pensando em como a história poderia ser um dos maiores acertos do cinema atual se possuísse, principalmente, um roteiro com mais desenvolvimento e profundidade, que permitisse que os atores nadassem ali e se entregassem com mais verdade, transbordando em seus próprios papéis. É difícil até criticar a direção de Olivia quando a história apresenta tantas falhas.

Talvez por isso o filme esteja embebido de tantas polêmicas sem sentido. A ideia de usar o nome das celebridades envolvidas em situações toscas é óbvia em resultar cliques e atenção — que Não Se Preocupe, Querida, só com o material entregue, não vai conseguir obter. Uma pena.

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