Uma das mais famosas figuras mundiais tem uma história dúbia. Por um lado, grande estrategista, inteligente e conquistador. Por outro, pode ser considerado um grande saqueador e por muitos é ainda tido como arrogante e bruto. Independente de que lado você prefere, o longa “Napoleão” (Napoleon, em inglês), dirigido por Ridley Scott (que também dirigiu filmes como Gladiador e Casa Gucci), chega aos cinemas para tentar nos apresentar sua própria versão da lenda.
Vendido em seus trailers e materiais promocionais como um filme “épico” e com batalhas de encher os olhos, o filme apresenta dificuldade de sustentar sua longa minutagem e entreter — ou instigar — os espectadores em sua duração. Com quase 3h, o filme tem diversos problemas: de ritmo, consistência e até veracidade histórica.
Joaquin Phoenix faz um bom trabalho como Napoleão. Mesmo passando longe de suas atuações mais marcantes e memoráveis, ele entrega bem tudo que é proposto. Já Vanessa Kirby brilha como Josephine: amante, esposa e amiga de Napoleão. Todas as suas aparições na tela são hipnotizantes, e a atriz é a responsável por apresentar um carisma que quase não é vista em outros momentos do filme.
Embora tente apresentar um lado mais “íntimo” de Napoleão, e em alguns momentos até um lado mais cômico, é difícil se identificar ou se deliciar com essas experimentações na tela. O avanço na história se marca pelo uso de lettering com as datas, mas pouco se explica ou se aprofunda sobre cada período, fazendo com que o expectador se desligue do recurso na terceira ou quarta aparição — que é usado repetidamente.
Os demais personagens e contextos históricos também tem pouco peso ou importância, deixando Napoleão um homem sem propósito. Suas batalhas ou ambições se tornam vazias, ao passo que o filme não apresenta nenhum oponente ou antagonista de forma satisfatória. Sim, as três ou quatro cenas de batalhas são brilhantemente executadas — e talvez sejam o único apelo do filme para além de Vanessa —, mas é difícil até torcer por Napoleão ou sofrer com suas derrotas quando tudo parece tão sem propósito.
Enquanto algumas cenas se arrastam — aparentemente na tentativa de simular um filme cult e intimista —, outros momentos históricos importantíssimos acontecem num piscar de olhos, parecendo que duraram pouco mais que um possível final de semana. Essa disparidade incomoda quem sabe ao menos um pouco da história, e tira ainda mais peso dos acontecimentos para quem não tem conhecimento da narrativa original.
Ridley Scott se apresenta como um diretor bem mediano, diferente do que entregou filmes como Gladiador. Mais cedo no texto, citei Casa Gucci em seu currículo de propósito, evidenciando como os recentes filmes do diretor desapontam, mesmo com um potencial estelar que já vimos outrora. Napoleão finaliza como um filme raso, sem ritmo e sem substância, longe do épico divulgado e tampouco o filme de ação que o marketing promete.