Comunicador, irreverente e polêmico — esta pode ser uma breve definição de quem é Silvio Santos, o apresentador com mais de 60 anos de carreira, criador do SBT e ícone da televisão. Para homenagear este personagem da história brasileira, o Star+ lança no próximo dia 19 o primeiro episódio da série “O Rei da TV”, e o Escutai teve a oportunidade de ver os dois primeiros episódios e traremos nossas primeiras impressões.
Silvio Santos já é um grande nome da televisão em 1988. Contudo, após um problema nas cordas vocais, o apresentador é obrigado a fazer uma pausa. A partir deste revés, o público conhece a sua história desde camelô, até se tornar um dos principais comunicadores das últimas seis décadas.
A série gira em torno de uma questão que ronda os últimos anos de Silvio Santos: “Quando ele vai se aposentar?” Na série isso se intensifica, pois com o problema de saúde, o apresentador percebe que já não tem a mesma disposição para o trabalho, mesmo sendo um workaholic. Agora, Silvio lida com o embate entre ele e sua disposição, e com seu pupilo — Augusto Liberato, o Gugu, que nos anos 1980 era um símbolo da juventude.
O maior destaque da série é a atuação dos intérpretes de Silvio Santos, tanto José Rubens Chachá, quanto Mariano Mattos Martins e Guilherme Reis arrasam no papel, pois não ficam caricatos, algo muito difícil — destaco aqui a primeira cena em que Chachá aparece: ao abrir o sorriso, ele torna-se Silvio Santos e não sai mais do papel.
Além disso, o espectador vê outras facetas do personagem: o jovem que ama geleia de morango e é ótimo em matemática, vendedor carismático, o “marqueteiro” do circo e homem bom de lábia, que explicam bem o seu estilo de apresentação e sua personalidade.
Contudo, não é apenas a atuação que torna os “Silvios Santos” tão bem feitos, mas a caracterização e figurino, organizados por Mafê Torrezani e Davi Parizotti, que conseguem exprimir não apenas a imagem só protagonista, como toda a época retratada. Apesar disso, há alguns momentos em que a caracterização deixa a desejar, por exemplo, a peruca de Gugu é muito incômoda, pois fica muito evidente que aquele cabelo é falso.
Falando um pouco sobre Gugu, interpretado por Paulo Nigro — ele tem um fator que lembra muito o personagem Tyrell Wellick (Martin Wallström) em Mr. Robot: a ambição e a obsessão pela própria imagem comum quando se retrata pessoas em grandes negócios no cinema e na tv. Neste quesito, o intérprete acerta muito e torna-o ainda mais fascinante.
Uma parte bem elaborada da série é o roteiro de André Barcinski, os diálogos e a construção da história são bem amarrados. Com essa estrutura de memórias, os fatos do passado e do presente (da série) se explicam. Apesar de um estilo clichê, é muito bem feito.
Além disso, a montagem da série é muito boa e segue uma estrutura das séries e novelas, ou seja, termina o episódio com uma cena de impacto, e de fato, você fica interessado em saber o que acontecerá em seguida. Ao final do segundo episódio, já queria assistir o terceiro — mesmo que já saibamos a conclusão, ainda assim, dá vontade de ver como tudo irá se desenrolar, e isso é o que faz uma série ser boa.
É importante ressaltar também o trabalho incrível de fotografia de Rafael Martinelli (3%, Sintonia), que consegue trazer um visual bem anos 1980, que lembra um pouco o filme “Bingo: O Rei das Manhãs”.
Um fator preocupante é se personagens, como Sérgio Mallandro, interpretado por Gui Santana aparecerá mais vezes. Em sua única aparição, o ator pareceu um pouco caricato. Talvez por ser uma passagem muito breve para apresentá-lo, ou então por seu histórico em programas como Pânico e no Escolinha do Professor Raimundo, em que o exagero é essencial para o humor. Espero que isso seja melhorado nos próximos episódios.
O que esperar dos próximos episódios de “O Rei da TV”? Provavelmente uma história muito interessante, com grandes momentos do passado recente do Brasil. Aguardo os próximos episódios muito empolgada, pois mesmo com tantas polêmicas e problemáticas que envolvem a imagem de Silvio Santos, é inegável que sua jornada é fascinante, e unida ao trabalho de direção de Marcus Baldini, tem tudo pra ser uma ótima série.