Ao longo dos últimos anos a Disney tem seguido um caminho quase que duvidoso e vem trazendo toda uma gama de live-actions de seus grandes sucessos em 2D — de Aladdin, A Bela e a Fera, Cruella e muitos outros — que tiveram boas bilheterias mas críticas bastante mistas.
Dessa vez, o clássico refeito é Pinóquio, que chegou ao Disney+ no dia 8 de setembro, com roteiro e direção de Robert Zemeckis e Chris Weitz. Diferente do original, de 1940, o longa traz detalhes novos e dividiu muitas opiniões. O escutai foi convidado pela Disney Brasil para assistir em primeira mão o live-action e aqui estão nossas impressões.
Essa nova versão, estrelada por Tom Hanks, Benjamin Evan Ainsworth e Joseph Gordon-Levitt, reconta a história de Pinóquio, um boneco de madeira que ganha vida, mas mesmo assim, não é considerado um menino de verdade. Para que sua transformação seja completa, ele precisa se mostrar uma pessoa boa e consciente, e para isso conta com a ajuda de sua consciência: o grilo falante!
Acho que uma das coisas que valem a pena questionar é: até que ponto podemos considerar esse filme um live-action? Porque a grande maioria das cenas é protagonizado por personagens em CGI — algo inclusive que pesou muito no filme. O CGI e seu uso exacerbado tem gerado uma onda crescente de questionamentos dentre os entusiastas e grandes entendidos de cinema.
Por exemplo, Fígaro, o icônico gato de Gepeto, causa um certo desconforto de tão computadorizado que ficou. Gatos já são naturalmente muito expressivos e quem sabe usar isso seria bem mais interessante. Outra personagem que também sofre com o CGI é a Fada Azul, trazida à vida pela incrível Cynthia Erivo, que fica tão desconectada do cenário que incomoda a vista. A personagem parece tão pouco em cena que se apenas dissessem que uma estrela cadente o fez criar vida, já teria sido o suficiente.
Ao contrário de muitas críticas, mesmo que o filme cause incômodo visualmente, a história e suas atualizações foram boas. Digo isso como uma pessoa que durante a infância teve uma experiência muito negativa com Pinóquio, pois o achava muito assustador e punitivo — como boa parte de quem conheceu a história quando criança. Então, ver os rumos da história menos amedrontadores e com mais afeição do boneco com seu criador, foi um bom nostálgico e bastante positivo.
Tom Hanks faz um trabalho delicioso, como sempre —adequadamente adaptada ao estilo de um filme infantil. É interessante como trouxeram uma história pregressa ao Gepeto pra explicar seu desejo de criar um boneco para ser como um “filho”, um ótimo gancho para conhecer melhor o personagem que sempre foi bastante enigmático sobre seu passado e suas vontades.
Outro detalhe positivo na nova adaptação do clássico foi a adição da personagem Sabina, a marionete que ganha vida pelas mãos de Jaquita Ta’l. A personagem trouxe um tom de leveza necessário ao filme ao mostrar que mesmo nas situações mais difíceis, em que Pinóquio estava sem seu pai e sua consciência, havia algum outro apoio.
É fato dizer que o live-action jamais superará seu clássico de 1940 — por inúmeras razões (das quais muitas foram citadas aqui). São mais de 80 anos eternizados na infância de avós, pais e filhos, com um enredo extremamente marcante e uma animação muito bem feita. Mas devemos ser justos e dizer que a versão de 2022 não é um completo desastre. Poderia ter sido melhor executada? Definitivamente.
A grande escala exagerada da adaptação e o uso duvidoso do CGI são os astros do longa que aqui mais incomodam na hora de criar um laço afetivo com o público, do que acrescentam em efeitos visuais.
Pinóquio (2022) tem seus pontos positivos por tornar a narrativa menos pesada, mas com certeza falta uma dose de cuidado em tornar o filme um live-action visualmente agradável, trazendo minimamente que seja alguma relevância à nova e crescente lista de remakes da Disney.
Pinóquio (2022) está disponível no Disney+