Crítica | ‘Priscilla’ de Sofia Coppola evidencia a estética da solidão

Retratando o isolamento e o abuso, no longa de Coppola vemos o outro lado de um relacionamento delicado.

Se “Elvis” — de Baz Luhrmann, lançado em 2022 —, fez um bom trabalho em recuperar o brilho e a opulência da carreira e imagem do artista, o novo (e aguardado) filme de Sofia Coppola pega o lado de Priscilla, ex-esposa do astro, e escancara nas telas.

Com o roteiro baseado no livro “Elvis e Eu”, escrito por Priscilla e lançado em 1985 — e com produção da mesma no longa, temos Cailee Spaeny e Jacob Elordi dando vida ao casal de forma quase oposta ao que vimos no longa excêntrico de 2022. Com foco total na história de Priscilla: do momento em que ela tem apenas 14 anos e conhece Elvis, até o fim do matrimônio do casal, a história que vemos aqui é diferente do que os holofotes sempre mostraram, e retratam os bastidores e a intimidade de uma relação turva, abusiva e complicada.

Com direção afiada de Sofia e uma estética já consagrada nos filmes da diretora, o longa faz um ótimo trabalho em demarcar as problemáticas dessa relação: desde a diferença de idade até a manipulação presente na relação que inicia de um encantamento e depois se marca pelo silêncio e anulação.

Coppola se mostra excelente em escancarar os abusos e principalmente o isolamento, incomodando o espectador com os visuais que remetem ao afastamento que Elvis impõe sobre Priscilla. Longos takes de silêncio, com a personagem perdida ou desolada, “sumindo” no ambiente ou sendo silenciada pelas atitudes do cantor são muito bem colocados para provocar sensações semelhantes às sentidas por ela.

Em outros momentos, o uso de músicas e sons usa um contraste interessante, mesclando o clássico e o moderno, o passado e o presente. Por vezes, temos a impressão de estar vendo um trabalho atual, e em outros momentos a marca temporal fica mais presente.

Isso evidencia um traço interessante: como o filme se torna quase atemporal, sendo marcado pela época em que se passa mas com temas e situações que são presentes na nossa sociedade até hoje. O uso desses elementos faz com que o filme não fique preso no passado, mas correlacione com a atualidade e reforçe esse sentido: de que ainda há abuso, manipulação e imposição de poder em relações afetivas, com sintomas evidentes e traumáticos com danos permanentes.

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