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Crítica | Rachel Chinouriri, “What A Devastating Turn of Events”

A jornada pessoal de Rachel Chinouriri explora temas profundos e dolorosos com sinceridade, destacando sua voz singular no cenário do indie pop

Rachel Chinouriri emergiu na cena indie britânica com um vigor emocional e criativo, trazendo à tona uma mistura única de indie pop, soul, R&B e uma boa dose de vulnerabilidade lírica. Mas, foi só em seu segundo disco “What a Devastating Turn of Events”, que Chinouriri transitou por uma montanha-russa de emoções, entregando um novo trabalho que equilibra fragilidade, força e redenção.

Suas letras carregadas de profundidade, que narram duras experiências com suicídio, solidão e auto-estima, traçam paralelos com as confissões líricas de Amy Winehouse e a honestidade crua de Mitski, criando um universo próprio onde uma série de eventos devastadores, como o nome do álbum diz, são transformados em arte.

O álbum abre com “Garden of Eden“, uma faixa que parece preparar o terreno para a viagem emocional que está por vir. Com uma combinação de guitarras melódicas e uma batida dramática, a faixa reflete a intensidade de uma alma que questiona tudo ao seu redor, como a própria vontade de viver. É uma abertura poderosa, onde a artista já coloca à mostra suas principais marcas: vocais hipnóticos e uma narrativa lírica profundamente pessoal.

Um dos pontos altos do projeto é “The Hills”, uma explosão sonora de indie pop com uma pitada de rock, onde Chinouriri retrata suas dolorosas relações consigo mesma. Essa mistura de letras melancólicas, mas com uma sonoridade agitada, lembram as dissonâncias emocionais de Robyn, onde o brilho da melodia dançantes contrastam com a escuridão das palavras.

A força lírica de Chinouriri brilha novamente em “Dumb Bitch Juice“, uma canção divertida com uma força de autocrítica, onde ela reflete sobre os erros cometidos ao escolher os parceiros errados, apesar dos seus amigos sempre terem alertado-a. Mesmo nos momentos mais leves, seu trabalho não perde a profundidade.

No entanto, é na segunda metade do álbum que “What A Devastating Turn of Events” toma um rumo ainda mais sombrio e introspectivo. A faixa-título é um grande exemplo disso. Chinouriri narra a história trágica de sua prima, que, após engravidar e ser abandonada, tirou a própria vida: narrativa dolorosa que ressoa de forma pesada para uma artista tão nova, mas necessária. A canção se desenrola como um soneto trágico, com versos que ressoam como capítulos de uma história de luto e desespero, mas também de cura e luta.

Em seguida, “My Blood” atua como um complemento, mergulhando nas questões de Chinouriri com a depressão e automutilação, um apelo desesperado por ajuda. Essa atmosfera etérea criada pela combinação de vocais suaves e arranjos de cordas dá à canção um ar quase fantasmagórico, como uma ferida exposta, mas prestes a cicatrizar.

Ainda que o álbum seja repleto de momentos densos e emocionais, Rachel sabe dosar essas sensações com faixas mais leves, como a encantadora “Pocket”, onde a cantora explora um amor secreto, e a nostálgica “So My Darling”, um aceno para seu início de carreira. A inclusão dessa última música, que viralizou no TikTok, demonstra o quanto a artista está conectada com seu novo público.

O álbum também traz momentos de autorreflexão pungente, como em “I Hate Myself”, onde Chinouriri aborda transtornos alimentares com uma clareza desconcertante, mas termina com uma mensagem de aceitação e empoderamento, relembrando o público da importância de amar a si mesmo. As letras confessas que encerram a canção dizendo “Eu me amo. Amo minha pele”, ressurgem como se fossem um suspiro de esperança, mostrando o quanto a vida da cantora é sobre encontrar luz, mesmo num mundo tão devastador.

Com este segundo disco, Rachel Chinouriri não apenas consolida seu nome na cena musical britânica como uma artista a ser acompanhada de perto, mas também entrega as mesmas reflexões que artistas globais como Olivia Rodrigo e Ariana Grande emergem a cada passo de suas carreiras.

What a Devastating Turn of Events” é uma obra que reflete a complexidade de crescer, sofrer e, eventualmente, se curar com apenas 25 anos de idade. O álbum tem seus momentos entediantes — algumas faixas podem soar excessivamente estruturadas e a produção em certas partes acabam semelhantes demais — mas o que falta em alguns aspectos, sobra em emoção e sinceridade. O equilíbrio entre o indie pop vibrante e as baladas introspectivas faz com que o ouvinte transite por um mar de sentimentos, tornando o disco uma experiência imersamente envolvente.

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