St. Vincent já provou ser uma artista versátil e inovadora, mas continua a surpreender. Seja com a persona ousada e rock’n’roll de Masseduction (2017) ou o tom mais introspectivo de Actor (2009), Annie Clark demonstra um domínio impressionante ao transitar entre diferentes gêneros musicais, algo que reafirma em seu mais recente trabalho, All Born Screaming. Cabe dizer que este álbum é completamente produzido pela artista, enfim sem contar com a co-participação de Jack Antonoff.
O álbum apresenta um equilíbrio notável entre a experimentação de suas primeiras obras e a busca por uma sonoridade mais acessível, característica marcante de seu trabalho anterior. Em All Born Screaming, Clark entrega uma fusão fascinante de elementos contrastantes, alternando entre momentos delicados e introspectivos e explosões intensas, criando uma experiência auditiva rica e multifacetada.
A faixa Broken Man é uma excelente porta de entrada para o álbum. Com letras poéticas e inquietantes, acompanhadas por arranjos minimalistas que evoluem gradualmente, a música constrói uma tensão crescente. O som começa de forma contida, mas se transforma em uma paisagem sonora industrial, evocando referências a Nine Inch Nails, culminando em um clímax emocional poderoso que evidencia a habilidade de Clark em cativar o ouvinte.
Parte de um bloco mais agitado, Flea conta com guitarras distorcidas que muito lembram seu trabalho anterior, para os saudosistas. Já Big Time Nothing passeia por guitarra e baixo que se assemelham ao funk, mas com um gostinho eletrônico que remete ao início dos anos 2000. A mesma atmosfera já considerada retrô também perpassa a faixa seguinte, Violent Times.
O álbum também é marcado por uma contínua exploração sonora, passando pelo eletrônico ao reggae, do rock ao funk. É como podemos ver em So Many Planets, uma das faixas mais simples do álbum — mas não menos primorosa.
All Born Screaming, faixa-título, finaliza o álbum com uma melodia mais otimista, mas com uma letra tão introspectiva quanto qualquer outra música do trabalho. St. Vincent transmite sentimentos de isolamento e uma busca constante por autoconhecimento. Embora o álbum tenha momentos de irregularidade, ele permanece coerente dentro da proposta da artista, revelando que Annie não teme desafiar convenções e que segue em uma jornada contínua de transformação criativa.