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Crítica | Willow, “COPING MECHANISM”

Em seu álbum mais recente conhecemos o universo quebradiço de uma revolta que não soa imatura, enquanto ouvimos hipnotizados a cantora se libertar de tantos traumas.

Desde que estreou na música com “Whip My Hair”, em 2010, Willow se colocou nos holofotes de uma forma difícil de se esconder. De lá para cá se passaram treze anos, nos quais a artista mudou drasticamente sua forma de ver o mundo, e consequentemente, de cantá-lo.

Foi em 2017 que a cantora pareceu “resetar” sua carreira com o lançamento de “The 1st” (“O Primeiro”, em tradução livre) — que é de fato o primeiro álbum completo de Willow. E foi de lá para cá que ela pareceu querer experimentar mais com sua voz, sua poesia e sua música. Os três álbuns (e um EP) que vieram desde então apresentaram elementos de soul, pop, indie, psicodélico, R&B e rock, e se antes todos os estilos pudessem causar estranheza pela mistura ou pela “bagunça” nos álbuns passados, é com “<COPINGMECHANISM>” que Willow parece organizar todos os estilos e colocar tudo no lugar, causando uma harmonia surpreendente para um trabalho que fala de tanta tormenta.

Neste trabalho mais recente, o rock é o principal elemento. Assim como em “Lately I Feel Everything”, álbum anterior que saiu um ano antes, os riffs de guitarra e a bateria mais pesada são elementos definitivos nesse projeto. A diferença, porém, é que o caminho aqui é bem melhor traçado. As melodias são mais harmoniosas, interessantes e atmosféricas. Mesmo nas faixas mais pesadas, há um respiro — pautado tanto pela voz de Willow, que desacelera num tom bem aconchegante e hipnótica, quanto pelas pitadas mais R&B de suas harmonias e escaladas vocais.

Nas faixas mais vulneráveis como “Split” e “No Control” é onde temos alguns dos momentos mais deliciosos do <COPINGMECHANISM>. É ali que Willow nos permite sentir conforto no caos, onde canções começam quase acústicas e cantadas de forma doce e calma, antes de ser agitada por uma instrumentação mais pesada e vocais gritados — que não soam apelativos ou esganiçado, mas sim como gritos bem calculados de socorro.

O tema das canções aborda ansiedade, depressão e dilemas de uma cabeça confusa. “WHY?” é outro exemplo que aborda muito bem a poesia da dúvida, o peso do rock e a transparência da vulnerabilidade, com os vocais que soam tão ricos e maduros e surpreende por virem de uma cantora de 21 anos.

É notável em cada faixa o comprometimento de Willow com sua arte e seu trabalho. Todas as faixas se parecem com a cantora: não há momentos discrepantes ou falsos. Canções mais animadas como “hover like a GODDESS” ou “Falling Endlessly” seguem todas as estruturas anteriores, mesmo com a mudança de tempo no instrumental. Faixas como “Perfectly Not Close To Me” (que é inclusive o único feat do álbum, com Yves Tumor) e “curious/furious” trazem bem o elemento da nostalgia rock dos anos 90/00 — sendo a peimeira uma ótima referência a algo mais pesado que o Gorillaz lançaria numa parceria com o Blink 182.

Sendo assim, o álbum é o projeto mais sólido e original de Willow: um trabalho coeso e que reflete toda sua personalidade. As letras parecem vindas de seu diário, enquanto seus vocais condizem com o caos de uma mente turbulenta — da melhor forma possível — e o afago de um coração cansado. A atmosfera do <COPINGMECHANISM> também é um ponto de destaque: desde a melancolia até as batidas mais insistentes que agitam o corpo do ouvinte. É um convite para sessões e sessões de terapia, em que os mecanismos de enfrentamento de Willow encontram os nossos e nos convida para gritar as dores em conjunto.

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