Crítica | Young Fathers, “Heavy Heavy”

O quarto álbum do trio escocês dita muito da já conhecida urgência dos projetos anteriores, mas absorvendo façanhas íntimas, sólidas e fortes

Diante de um número estratosférico de preferências na indústria, é possível puxar forte o fôlego e gritar que o trio escocês Young Fathers são os donos de uma originalidade estralante que muitos procuram. O projeto de Alloysious Massaquoi, Kayus Bankole e ‘G’ Hastings sempre soou extremo e composto por linguagens sonoras inteligentes de soul, rock, hip-hop e o neo-psicodélico.

Mas agora, com o quarto álbum de estúdio, o “Heavy Heavy“, todas as vertentes musicais que foram percorridas por anos parecem chegar a um ápice, mesmo que eles sempre tenham estado no pico mais alto possível de suas carreira.

Geronimo“, “I Saw” e “Tell Somebody” chegaram ano passado e serviram como precedentes volumosos para o disco; a primeira é marcante num nível nunca visto para eles e a terceira, na conjuntura, torna-se carregada ao ponto de transformar-se num colosso dentre as outras canções.

Foram com esses quatro singles (“Rice“, última prévia, chegou em 9 de janeiro) que o trio conseguiu colocar um feito totalmente insólito na mesa: algo tão novo ao ponto de nos fazer questionar que mares eles poderiam nadar. Porém, com a junção de todos os insumos e detalhes vistos ao decorrer de 10 peças, o ouvinte sente-se desarmado de vez ao ver um tipo de som que pulsa poderosamente.

Shoot Me Down” começa como algo feito por Kendrick Lamar no “DAMN.” e logo foge de um batimento sub-grave que recicla o sentimento de correr livre .”Ululation” não possui vocal de nenhum dos membros, mas a faixa em zulu torna-se rápido uma das melhores do álbum ao trazer a ululação como um fragmento cultural espetacular. A voz, não identificada, adentra de modo perfeito na instrumentação refinada que foge da urgência usual do trio, mas sem perder o requinte.

O eu lírico encontra as já usuais fortes linhas que fogem de ordinárias ideias sobre amor, amizade, tempo e principalmente viver, o simples ato de respirar sempre reverberou por toda a carreira do trio em inúmeras consciências, mas escutar “Breath in like a lion / Breath out like a lamb” (verso da dourada “Geronimo”) em uma música sobre o contraste da vida e o peso da corrida que carregamos, é visceral ao ponto de nos fazer querer um abraço ardente.

Esse é o peso que nos é oferecido ostentar no “Heavy Heavy“, o de encontrar novas potências e iniciativas que conseguem fazer o seu peito revirar por entre a calorosa (às vezes) ideia do inédito, do desconhecido. O álbum serve como uma mão em suas vísceras, mas também como o ruído que você quer escutar ao arriscar-se no mais puro ar livre. Aqui, os sons vêm de dentro, de fora, dos lados, devido à cidade, pela vida, por como o coração se sente e por como podemos querer nos sentir.

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