Em entrevistas recentes, Mick Jagger, lendário vocalista dos Rolling Stones, afirmou que o Måneskin é a maior banda de rock da atualidade. O quarteto, que já havia passado pelo Brasil com duas datas no fim de 2022, deu ainda mais força à opinião do rockstar em um show quente no Espaço Unimed, em São Paulo, na última sexta-feira, (3).
Há pouco mais de um ano, escrevi aqui no escutai como a primeira vez do grupo na capital paulista havia sido arrebatadora. Eles estavam empolgados por tanta gente estar os acompanhando pelo país, principalmente pós show no Rock In Rio. Naturais da Itália, essa é a primeira vez que um grupo de rock do país consegue alcançar o estrelato em grande escala. No entanto, agora, entre a maturidade de já carregar na bagagem uma tour mundial bem sucedida e um ótimo novo disco na discografia, os italianos parecem ter dado um protagonismo maior para o que, teoricamente, deveria ser o principal: o som.
A apresentação parece menos apressada. Eles ainda estão influenciados por nomes clássicos do hard rock da Sunset Strip, Damiano David parece continuar sendo um grande admirador de Iggy Pop e ícones sex simbol dos anos 80 e Thomas Raggi permanece carregando a apresentação no quesito técnico, mas o novo show dos europeus soa mais redondo e menos ansioso nesta turnê.
Os músicos exploram a ideia de cada um ter seu próprio momento, há espaços para brincadeiras com os fãs e um bate-papo descontraído com algumas palavras arranhadas em português.
‘RUSH’, o novo trabalho, obteve críticas mistas, mas no geral foi bem recebido. Alguns dizem por aí que eles ainda não evoluíram, que continuam batendo nas mesmas teclas de seus trabalhos antecessores e que não há margem para crescimento na até então recente discografia. Na opinião de quem vos escreve, o disco só é mais descompromissado que Teatro D’ira e Ill Ballo Della Vita.
A verdade é que, em tese, o Måneskin ainda está na fase de não se levar tão a sério e de transformar a imagem de fenômeno mundial em combustível para a própria diversão. Isso se explica com as jams ao vivo que o grupo adicionou na apresentação ao vivo desta turnê, onde Vic DeAngelis e Ethan Torchio sustentam os momentos mais descontraídos do frontman, Damiano.
O cantor faz caras e bocas, inventa alguns passos de dança sensuais, pendura os sutiãs arremessados ao palco no suporte de seu microfone, até acende um cigarro no meio do show… seguindo a cartela do rockstar autoconfiante. A diferença é que a voz de David é capaz de fazer oito mil pessoas se divertirem sem muita limitação por quase 2h, coisa que muitas lendas, hoje em dia, não conseguem mais.
Os hits se justificam por si sós, uma homenagem ao povo brasileiro através de um cover de “Exagerado“, de Cazuza, torna a apresentação ainda mais adorada, a qualidade técnica de Raggi faz com que o público se impressione com os ótimos riffs característicos do grupo, fãs sobem ao palco para cantar com a banda… no final das contas, tudo é uma grande festa.
Se há algo a ser criticado é a pouca valorização de grandes tracks do disco que está sendo divulgado, como ‘Baby Said‘ e até ‘Feel‘, e a repetição de ‘I Wanna Be Your Slave‘. Por que tocar duas vezes uma faixa quando se tem ótimas novas opções? O quarteto já possui um grande leque de canções poderosas e tão boas quanto o single de 2021. Vale a reflexão.
Contudo, a longo prazo talvez a conversa se torne outra, mas, por enquanto, o Måneskin entrega com muita energia o hard rock redondinho que encanta os pais, órfãos de grandes nomes do estilo, e os filhos, que se sentem representados em seus momentos mais livres por uma figura jovial de um som já explorado em décadas passadas.
Acho que passou da hora da gente reconhecer que os italianos não são mais os azarões nesse jogo vicioso do mainstream, pelo contrário; na noite da última sexta-feira, (3), ficou mais do que claro que o potencial de vida útil do quarteto é muito, mas muito grande.