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“Emilia Pérez” é fascinantemente polêmico e único

Direto do Festival de Cinema do Rio 2024, assistimos “Emilia Pérez”, um dos mais únicos e polêmicos filmes dessa temporada de premiações.

Um musical francês falado em espanhol que mistura um cartel de drogas com transição de gênero e uma advogada frustrada? Tinha tudo para dar errado, mas de alguma maneira, “Emilia Pérez” joga tudo isso no liquidificador e cria uma obra extremamente única e fascinante.

Após bater mais de 1 milhão de espectadores na França, sem dúvidas, é um dos filmes mais populares da temporada de premiações 2024-2025, por isso “Emilia Pérez” foi o escolhido para a Gala de Abertura do 26º Festival do Rio e esgotou todas as suas sessões em poucos minutos. Ainda vem aguçando a curiosidade do público em todos os festivais que têm estreado pelo mundo. É a principal aposta da Netflix, que distribui o filme na América do Norte, enquanto a Paris Filmes se encarrega do lançamento no Brasil.

A obra dirigida pelo ilustre Jacques Audiard, premiado pelos Prémios César, BAFTA e Cannes, narra o período em que a advogada Rita recebe uma oferta inesperada: ajudar Manitas, um temido chefe de cartel a se aposentar de seus negócios e desaparecer para sempre, tornando-se a mulher que sempre sonhou ser. Estrelado pelas excelentes Zoe Saldaña (Rita), Karla Sofía Gascón (Emilia Pérez), Selena Gomez (Jessi Del Monte) e Adriana Paz (Epifanía) que levaram merecidamente o prêmio de “Melhor Atriz” no Festival de Cannes pelas performances espetaculares no filme.

O quarteto de mulheres é o que move a história do filme para vários lugares e nuances. Cada uma com suas questões e olhares próprios. O filme funciona principalmente por causa delas, sendo impossível imaginar outro elenco. São suas performances que ajudam a amarrar o enredo um tanto confuso em um lugar comum: as dores de um grupo de mulheres que sofrem e precisam continuar seguindo em frente.

É difícil definir quem é a verdadeira protagonista: Zoe ou Karla, já que as histórias de suas personagens se entrelaçam de diversas maneiras em um enredo narrado principalmente do ponto de vista de Rita, mas que é diretamente movido pelas decisões de Emilia. Já Selena Gomez, viúva do mafioso Manitas, e Adriana Paz, um repentino interesse amoroso, funcionam muito bem como coadjuvantes nos papéis mais marcantes de suas carreiras até agora e com performances eletrizantes que se destacam sempre que estão em tela. Não há o que dizer de ruim sobre esse elenco, que merece o prêmio de “Ensemble Cast” no SAG Awards.

Em uma história que vai para diversos lugares ao mesmo tempo, as músicas são mais um ponto fora da curva, diferentes de tudo já visto no gênero. Diferente de “Coringa: Delírio a Dois” com números musicais jogados ao vento, as performances de “Emilia Pérez” integram a história organicamente, potencializando os diálogos e falando de maneira direta com o que está acontecendo no filme. Os maiores destaques vão para “El Mal”, cantada por Zoe Saldaña em um número de tirar o fôlego, e “Mi Camino”, que traz a amada alma de popstar de Selena Gomez para as telas.

A atmosfera que muitas vezes lembra um grande drama de novela mexicana pode desanimar alguns espectadores, já que é sem sombra de dúvidas, uma obra que divide opiniões. Não é de se esperar menos de um filme musical que fala sobre transição de gênero de maneira tão direta e sem medo, além de abordar outras críticas sociais importantes e apresentar interações surpreendentes ao longo da montanha-russa que são suas 2 horas de duração. A dica é procurar saber o menos possível sobre a história e ir se surpreendendo ao longo do filme, por isso esta crítica é livre de grandes spoilers.

“Emilia Pérez” é totalmente inesperado e cheio de fogo no olhar. É um filme que tenta ser muito ao mesmo tempo, mas não transforma isso em seu ponto fraco, pois de algum jeito isso é o que se torna sua força. Uma obra totalmente original e inesquecível, que poderia facilmente ter se transformado em uma bagunça de clichês totalmente chata, mas é um filme fresh, inovador e que vale muito a pena assistir. É cinema!

Após sua estreia exclusiva e antecipada no Festival do Rio, “Emilia Pérez” chega oficialmente aos cinemas brasileiros em 6 de fevereiro.

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