Entrevista | LP fala sobre álbum novo, queer pop e vinda ao Lollapalooza Brasil

A cantora e compositora LP conversou com o ESC sobre queer pop, o cancelamento do Lollapalooza Brasil e sobre seu próximo álbum.

LP é uma cantora irreverente, que coloca todo o seu coração em seus trabalhos. Por mais que ainda seja uma artista em ascensão, muitos de seus trabalhos enquanto compositora são mundialmente conhecidos: a musicista já compôs canções para artistas como Backstreet Boys, Christina Aguilera, Rihanna, Rita Ora e Cher. Depois de um grande sucesso com o lançamento de seu último álbum, “Heart to Mouth”, LP conversou com o ESCUTAI de sua casa em Los Angeles, no dia do aniversário de seu cãozinho, Orson, que ficou grande parte da entrevista no colo da cantora e compositora.

Para saber mais sobre os novos projetos da artista, Letícia Finamore, integrante do time do ESCUTAI, conversou com Laura Pergolizzi, mais conhecida por sua alcunha artística LP.

Leia a entrevista:

ESCUTAI: Ei, LP! Como anda a vida nesses tempos malucos?

LP: Eu tenho passado bem, na verdade. Quero dizer, tem sido um período de adaptação para todos. A maior questão para mim é justamente tentar me adaptar. Mesmo com o jeito que a minha carreira tem sido afetada nesse momento, eu sei que eu tenho que esperar. Eu conheço esse jogo da espera, sei que não se pode forçar para que as coisas mudem repentinamente, então eu tento dar o meu melhor e me manter criativa e esperançosa, sabe? Acabei de voltar de um período de férias no México, foram dias incríveis que me fizeram apreciar ainda mais uma certa sensação de liberdade. Esse momento caótico tem me permitido apreciar ao máximo as coisas que eu posso, ao invés de gastar meu tempo pensando quando tudo isso vai passar. 

ESC: Para começar, vamos falar sobre “One Last Time”, seu último lançamento! É uma canção fantástica! Como foi o seu processo de composição?

LP: A maioria das canções que eu componho passam um tempo maior pelo processo de produção do que pelo de composição em si – o processo de composição, na verdade, costuma durar um dia, no máximo dois. “One Last Time” passou por uma jornada engraçada porque teve uma produção pré-pandêmica. Minha equipe e eu fomos para a Grécia, e por lá começamos a trabalhar em muitas canções. Muitas melodias dos meus trabalhos que estão por vir surgiram nessa viagem. Foi só depois do início da pandemia que eu cheguei a pegar nas letras. Muito do que irei lançar em breve passou por muitos estágios – “One Last Time” está inclusa neste pacote. Foi divertido, de certa forma! Eu escrevi e reescrevi as letras várias vezes para que o resultado fosse menos romântico e mais voltado para o público. Depois eu escrevi tudo do zero para que “One Last Time” pudesse abranger a natureza romântica de todos os relacionamentos que uma pessoa pode ter. A vida está fugindo e em algumas situações pode ser difícil, inesperada, e nós devemos aproveitar cada momento.

ESC: Você também lançou outros dois singles: “How Long Can You Go” e “The One That You Love”. Essas faixas também passaram por esse processo de várias etapas?

LP: “The One That You Love” foi composta rapidamente na Grécia. “How Long Can You Go” demorou um tempo maior para sair – na verdade, essa faixa deveria constar em “Heart to Mouth” (último disco de LP, lançado em 2018). Ela não ficou pronta a tempo para entrar no álbum. Foi uma compilação de amalgamação de diferentes experiências que eu tive que foram colocadas em metáforas – quais direções a sua vida está tomando se não presta atenção nas coisas? “How Long Can You Go” é uma canção de três anos de idade. É por isso que eu continuo compondo música mesmo que não caibam mais canções no álbum que eu estou trabalhando no momento, eu sempre posso guardar essas canções e inseri-las em um disco futuro. Não sei se outros artistas também fazem desse jeito, mas é assim que eu costumo fazer. Tento sempre me manter em movimento para que eu não perca o momento do que está acontecendo no agora. 

ESC: Por falar nisso, tem um álbum no caminho, não é mesmo? 

LP: Sim, exatamente! Ele está programado para sair no fim deste ano.

ESC: Como está sendo a execução desse projeto?

LP: O próximo single que eu vou lançar não vai soar como “One Last Time”. É como se cada faixa tivesse seu próprio universo. “How Long Can You Go” é uma composição que está em um mundo completamente diferente do que eu estou acostumada, e para ser sincera eu amei isso! Talvez tenha uma ou outra canção que não chegue a entrar nesse álbum, mesmo que esse projeto seja mais longo do que os que eu já lancei até então. “One Last Time” e “How Long Can You Go” precisavam entrar nesse disco por causa do momento atual, por causa dos momentos furiosos que eu vivi ao longo da pandemia e também por questões da minha vida pessoal. Acredito que eu esteja sempre tentando ter diferentes pontos de vista – seja compondo com pessoas diferentes, em lugares diferentes -, mas esse álbum é um reflexo da minha mente. Tentei pegar um pedaço maciço da minha vida e colocar em um disco.

ESC: Você começou a sua carreira em 2001, quando lançou seu álbum de estreia, Heart-Shaped Scar. O que você percebe que mudou no seu trabalho ao longo desses vinte anos?

LP: Uau, tanta coisa mudou… Quando eu comecei, o YouTube ainda nem havia sido lançado. As pessoas não tinham tanto costume de investir em vídeos, principalmente artistas iniciantes como eu. Se eu tivesse me envolvido com isso, provavelmente teria que andar com fitas cassete por todos os cantos. É interessante pensar que hoje em dia posso investir em clipes que são acessíveis para o público, qualquer pessoa tem acesso ao universo do YouTube. Em 2006, quando eu fechei meu primeiro grande contrato com a Island Def Jam (gravadora subsidiária da Universal Music Group), lembro de ter o sonho de chegar arrebentando com a indústria musical. Pouco tempo depois as vendas de CDs começaram a cair em todo o mundo com a chegada do streaming, e isso preocupou os profissionais que estavam ao meu redor. Eu virei e falei para essas pessoas que estava tudo acabado para eles, porque eu continuaria dando o meu melhor e correndo atrás do meu sucesso. Por mais que esse fosse um pensamento grandioso, eu penso que meus sonhos são ainda mais grandiosos hoje. Eu sei que não conheço aquele tipo de sucesso, vendas estratosféricas e tudo mais, mas também não me omito, não deixo que as pessoas me desmotivem. Afinal, eu nunca fiz nada disso por dinheiro. O streaming é divertido, mais pessoas podem ter acesso ao meu trabalho, mais artistas estão se lançando nesse ramo. Essas mudanças são processos de reeducação, buscas por fluidez. Temos que aceitar que as coisas mudam e sempre vão mudar. Nós não devemos nos prender muito a isso para que possamos sempre evoluir e ver o resultado positivo desse cenário. 

ESC: Você se reconhece como uma representante do chamado “queer pop“? (Queer significa “esquisito”, em tradução literal; é um termo comumente usado para designar pessoas fora das normas de gênero).

LP: Alguém disse queer pop? (risos) É engraçado dizer isso, queer pop é uma junção de palavras divertida. É claro que eu me reconheço. Eu não poderia dizer que não, certo? Como eu me atreveria? Muitas pessoas me colocaram nesse patamar antes mesmo que eu percebesse que eu estava imersa no universo queer. Eu fico contente que alguns fãs me digam que o meu trabalho os ajudou a aceitar quem são, a ter menos medo de se expressarem. Tem espaço para todos no âmbito artístico, e eu fico verdadeiramente feliz por todos aqueles que chegam a esse ramo. Eu sinto na pele o que é ser uma artista queer, isso sempre foi um desafio. Por muitos anos eu pensei que houvesse uma cota de artistas lésbicas na indústria do entretenimento. Hoje em dia, em compensação, eu me sinto completa e percebo que não é bem assim. Não importa mais quantas pessoas estão se atrevendo a se mostrarem como queer. Muitas pessoas vieram antes de mim, batalharam por um espaço na arte, e é importante que, assim como eu, os artistas queer continuem lutando por nossos direitos. Fico feliz por fazer parte desse movimento.

ESC: Você era um dos nomes confirmados no lineup do Lollapalooza Brasil de 2020, porém o festival foi suspenso por um tempo indeterminado. Como você recebeu essa notícia?

LP: Esse é um motivo pelo qual eu posso sentar e chorar, de verdade. Você está brincando comigo? Não vai ter Lollapalooza? Eu não vou fazer uma turnê pela América do Sul? OK (risos). Existem muitos problemas maiores do que eu não poder tocar no festival, mas eu admito que eu estava alucinada para poder me apresentar por aí. Mas a minha hora vai chegar, eu ainda vou fazer alguns shows pelo Brasil.

ESC: Esse é o momento em que você nos conta o que tem escutado recentemente! O que está na sua playlist do momento?

LP: Ah, que difícil! Eu sempre fico paralisada com essa pergunta! Eu escuto música ininterruptamente e de repente parece que não me lembro de nada que eu ouvi nos últimos dias. Deixa eu pensar… Desde que voltei do México, tenho ouvido bastante Cesária Évora. Ela tem uma canção chamada “Sodade” que eu escuto em looping. Também tenho escutado muito Riot, Lana del Rey. Tantas coisas… Sinto que eu tenho diferentes momentos com a música dependendo do lugar onde estou. Eu acabei de voltar do México, então muitas canções em espanhol estão na minha playlist, o que é bacana. A verdade é que eu sou bem eclética, e durante a pandemia tenho me concentrado mais no meu mundo musical para ficar no clima e conseguir compor minhas canções. 

Laura é uma pessoa incrível e nosso bate papo, como vocês viram, foi incrível. O próximo álbum de LP ainda não tem data de lançamento definida, mas até lá, você pode conferir seus últimos lançamentos nas mais diversas plataformas de streaming.

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