Uma das vozes mais singulares da música brasileira atual, a cantora Tulipa Ruiz — que na pluralidade de seu trabalho já batizou seu som até de “pop florestal” —, faz parte do line-up do Flui SP, um festival sustentável e gratuito que acontece no dia 28/10, no Auditório do Ibirapuera.
Conversamos brevemente com a artista e falamos sobre protagonismo feminino na música, nos palcos e em ambientes de enaltecimento de talentos. Tulipa nos contou sobre sua relação com o Grammy e sobre o espaço que sua arte ocupa, a importância da sustentabilidade e sobre o álbum “Habilidades Extraordinárias”, seu trabalho mais recente.
Confira a entrevista:
Tulipa, você foi indicada ao Grammy Latino de 2023 na categoria “Melhor Álbum de Rock ou Música Alternativa Brasileira”, com o disco “Habilidades Extraordinárias“. Qual a sensação em receber sua quarta nomeação à premiação?
É sempre bom se ver reconhecida, principalmente quando isso se dá de forma espontânea já que o trabalho é independente e, sobretudo, feito por uma mulher. Indica que caminhamos na direção certa e que estamos abrindo caminhos.
O título do álbum, “Habilidades Extraordinárias”, está indiretamente também ligado à premiação. Pode contar um pouquinho dessa história?
A história, que já virou folclore, é que Gustavo e eu estávamos no consulado dos Estados Unidos querendo renovar nossos vistos quando o encarregado nos perguntou se possuíamos alguma “habilidade extraordinária”, Imediatamente me veio à cabeça, “voar, respirar debaixo d’água, equilibrar dez pratos em varinhas enquanto se anda de skate” e outras bobagens. Meu irmão foi mais rápido dizendo, “ganhamos um Grammy com nosso último disco”. O funcionário imediatamente nos cumprimentou e assinou os passaportes pois esse mérito tem destaque no protocolo que ele cumpre. Logo a ideia evoluiu na minha cabeça. Comecei a enxergar como habilidades extraordinárias gestos, comportamentos, reações que sempre considerei corriqueiras. A gente se manter vivo, são e produtivo em um mundo com o clima bagunçado, com governos disfuncionais, guerras, epidemias, IA, informação caótica, distópica, já é uma HB por si só!
A categoria que você concorre já foi vencida por artistas como Erasmo Carlos e Emicida, mas não tem uma mulher vencedora desde 2002, quando Rita Lee levou o prêmio com o álbum 3001. Para você, qual a importância de termos mais corpos femininos nesses espaços de validação e premiações?
Não é uma questão de importância ou espaço de validação, mas de lógica. A história do rock é eminentemente masculina, o que não ocorre com a sua gênese, o rock’n’roll. A mulher sempre esteve presente na história da música, mas sempre foi apagada e diminuída pela indústria fonográfica patriarcal. Rita Lee, por exemplo, além de intérprete, é uma das maiores autoras de nosso país. Você sabia que apenas 8% dos direitos autorais de música foram destinados às mulheres em 2022?
O FluiSP tem como mote principal a sustentabilidade, pode nos contar um pouco como você enxerga a importância desse tema e de festivais que abordem esse protagonismo?
lhando ao redor ou atentando para a dinâmica da sociedade moderna, a melhor palavra para descrever o que acontece no mundo é desperdício, uma que geralmente vem acompanhada da sensação de “acúmulo do desnecessário”. Essa abastança sugere que devemos “jogar fora o excesso” sendo que não existe “fora”. Só em bando é que nos damos conta do “social”, do “público”, do “comunitário”.
Gostaria que você deixasse um convite especial, convidando as pessoas a ouvirem a sua música, especialmente o novo álbum, “Habilidades Extraordinárias”.
Para poder lembrar de olhar pro céu, perder o medo de avião, para parar se você precisar
Para sair de casa com ou sem batom, tudo que brilhe em você, para poder chegar em casa só
Se você tem bebê ou se você não tem, se você desafina ou se você canta no tom, tem coisa que não tem tradução
Se você nunca errou ou se você errou, tá tudo incerto afinal, tudo bem nunca entender
Não é preciso saber e também dá pra esquecer
Tudo bem”
“Você merece o sol”
Desfrutar disso é sua mais extraordinária habilidade!