O novo álbum da cantora, que nasceu Ashley Frangipane, é um conjunto coeso e completo em si. Lançado no dia 17 de janeiro, o álbum que foi “feito de Ashley para Halsey”é o terceiro da americana, mas sem nenhuma comparação possível com seus antecessores.
Ouvir o “Manic” é uma verdadeira jornada poética e musical através da mente da cantora, que compôs praticamente o álbum inteiro. Por conta disso, é possível notar quanto cuidado, dedicação e emoção foram depositados no disco. As interludes aqui servem como finais de capítulos, que vão desde aceitação até carência e mudanças de humor. É um apanhado das diferentes Halseys que coexistem – pode até soar confuso, mas funciona perfeitamente bem.
Junto com o álbum, a cantora deu uma recomendação aos fãs através de seu perfil no Twitter: “(…) um álbum deve ser ouvido do início até o final, algumas canções combinam como metades de um inteiro (…) então, por favor, não pulem nenhuma música. Pelo menos não na primeira ouvida”
As palavras de Halsey são uma ordem, vamos à nossa review do Manic, faixa a faixa, como partes de um inteiro:
1. “Ashley”
Abrindo mão de seu nome artístico, só pelo título, já é possível ter uma noção da direção mais intimista e pessoal do disco. Essa introdução é bem mais profunda do que poderíamos esperar, sem rodeios, esse será um álbum sobre dor. Com um tom extremamente confessional, Halsey canta sobre querer morrer em alguns dias e como é angustiante estar em seu lugar. A canção funciona como um verdadeiro soco na cara, não é fácil de ouvir liricamente, mas é uma delícia sonora. Os vocais da cantora estão ajustados com a proposta e entregam uma realidade crua sobre o que se passa dentro de sua cabeça. A cereja no bolo vai para o final da faixa, que conta com um sample do filme “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças”, um dos favoritos de Halsey.
2. “Clementine”
Lembram que ela falou que algumas canções combinavam? Com certeza o primeiro par de músicas do álbum entra nesse grupo. O sample do filme que encerrou a faixa “Ashley” é com a voz da personagem Clementine Kruczynski e diz “Eu sou uma garota bagunçada que está procurando a própria paz mental, não me encarregue da sua”. É aqui onde a americana reafirma sua condição de anti-heroína e entrega uma canção mais literal e expressiva do que a abertura do álbum. Os vocais infantilizados ao fundo são uma agradável surpresa que conversa com a ideia da música: expor como a cantora se vê e sempre se viu.
3. “Graveyard”
Sonoramente, esta é a canção que mais apresenta características da Halsey que conhecíamos até o “Manic”: rimas ágeis, vocais enérgicos e uma letra que nos estapeia na cara. A atmosfera up-tempo e jovial da faixa esconde uma das melhores composições do disco: “É louco quando a coisa que amamos mais é o detrimento” e “É engraçado como os sinais de aviso podem parecer com borboletas” são exemplos da habilidade da cantora em colocar seus sentimentos no papel. Escalando de forma incrível, “Graveyard”atinge seu ápice lá pelo refrão final, onde uma súbita falta de ar entrega um dos melhores e mais ferozes momentos do álbum. Vale lembrar que a música foi um dos singles oficiais do e conta com um clipe tão incrível quanto sua letra.
4. “You Should Be Sad”
Essa faixa funciona como uma grande catarse de todas as coisas que queríamos ter dito ao final de um relacionamento. É direta e sem papas na língua ao falar de como as coisas não foram boas e as mágoas permanecem. O clipe é um espetáculo à parte, com homenagens ao trabalho de grandes nomes do pop como Lady gaga, Shania Twain, Christina Aguilera e Britney Spears. A vibe country da canção é um dos pontos altos do álbum.
5. “Forever…(is a long time)”
Descrita pela própria cantora como “uma canção sobre a jornada de se apaixonar e sabotar esse sentimento com as suas próprias paranóias e inseguranças”, a faixa conta com uma composição mais tímida e intimista, assim como sua produção, que conta com deliciosas notas em um piano, garantindo uma tensão crescente em seu ritmo e energia. Ao final, temos uma sensação de mergulho completo nas situações e na bagunça pessoal do narrador.
6. “Dominic’s Interlude”
O “Manic” é permeado de interludes onde Halsey convida outros artistas. Esse aqui é o primeiro deles e conta com a ajuda do rapper e cantor norte-americano Dominic Fike. Entregando vocais e uma vibe à la Frank Ocean, Dominic se sobressai por conta de suas habilidades no piano e de seus vocais que remetem ao jazz. A frase “Fale com seu homem/diga a ele que você tem más notícias” é uma das mais legais do álbum e casa com o encerramento da faixa anterior, já entregando o que está por vir no disco.
7. “I HATE EVERYBODY”
Assim, toda em caps lock, a faixa grita para ser single e ver a luz do dia nas rádios. Talvez seja a faixa que melhor represente o “Manic”em toda sua sinceridade doída e eloquente. É daquelas de se cantar com os pulsos erguidos em shows e de fazer o coração apertar só de ouvir tiradas como “Se eu pudesse fazer você me amar, talvez você pudesse fazer com que eu me amasse. Se eu não posso fazer você me amar então eu vou odiar todo mundo”. Abrindo a gama de canções sobre a carência, essa é um dos grandes momentos do álbum e uma verdadeira potência lírica nas mãos de Halsey.
8. “3am”
Com a mais rock das canções do álbum, Halsey continua seu ensaio sobre a carência e auto-sabotagem. Com um verdadeiro ode aos singles de rock e emo-rock dos anos 2007-2008, desde a abertura com uma guitarra até o refrão forte e grudento. Outro grande ponto do trabalho de Halsey que conta com outro quote memorável: “Eu preciso de algo digital, porque quando é físico eu termino sozinha”. A canção termina com uma ligação gravada com John Mayer dizendo: “Sua melhor canção é a que está nas rádios. Quantas pessoas podem dizer isso? Que a melhor canção delas é a que está prestes a se tornar um hit? Não são muitas. Parabéns!”. Com certeza eles estavam falando da próxima faixa do álbum…
9. “Without Me”
Essa, sem sombra de dúvidas, é o maior sucesso solo de Halsey até hoje. Com sua vibe “f*ck you” e toda sua raiva e sentimento, sua presença aqui é como um grito de vitoria ao cruzar a linha de chegada. Mais de um ano depois de seu lançamento, entendemos que sua melodia e composição faziam parte de algo maior e conseguimos ver a faixa com um outro olhar dentro do conjunto chamado “Manic”.
10. “Finally // beautiful stranger”
Um dos grandes exemplos de canção que assumiu uma atmosfera completamente diferente quando analisada dentro do contexto do disco, essa aqui é um dos momentos poéticos mais marcantes, uma composição que remete ao trabalho de Taylor Swift (dançando na sala de estar, cantando na rua, etc.), entregando a parte mais romântica do álbum. O ritmo das faixas começa a dar sinais de desaceleração, de forma leve Halsey canta sobre como estava insegura e despreparada em outros relacionamentos, mas agora está pronta para se apaixonar. Linda demais!
11. “Alanis’ Interlude”
O segundo interlude é com a participação de ninguém mais, ninguém menos, que Alanis Morissette. Falando sobre um crush do colegial, as duas entregam talvez a mais pop das músicas do disco. Com várias brincadeiras e aliterações sobre gêneros e seus papeis no relacionamento, o resultado é uma faixa que tinha tudo pra empolgar, mas acaba se perdendo entre outros pontos fortes do álbum. Um dos melhores momentos da canção sã0 as últimas notas de Alanis , que prova ainda ser uma das maiores vozes do pop-rock mundial.
12. “killing boys”
Começando com um sample de uma fala do filme “Garota Infernal”sobre matar garotos, que são apenas pesos, a faixa curtinha entrega vocais maduros e batidas como as de um coração. Halsey canta sobre não precisar mais de uma pessoa, insistindo em buscar vingança. É outra que, apesar de sua duração, tinha tudo para ser um grande momento, mas acaba sendo ofuscada dentro do álbum. Boa, mas nem tanto.
13. “SUGA’s Interlude”
Abrindo a parte final do álbum, a última interlude conta com a participação do rapper coreano Min Yoongi, mais conhecido como o SUGA do BTS. Tendo sua grande maioria de versos entregue em coreano, é incrível ver como a dedicação vocal e rapidez do rapper conseguem dar o tom da faixa independente da língua predominante nela. Versos incríveis como: “A madrugada antes do amanhecer é mais escura que tudo, mas nunca se esqueça que as estrelas para as quais você faz pedidos, só aparecem na ausência da luz” fazem desse interlude o melhor presente no “Manic”.
14. “More”
Essa é a faixa entoada com mais desespero dentre todas as pessoais composições do álbum. E isso a torna extremamente bela e intimista, falando sobre um amor perdido e seus arrependimentos. Os versos são entoados como verdadeiros lamentos e o som de coral no fundo dá tons épicos a uma canção totalmente minimalista. Essa talvez seja a contradição mais interessante em todo o disco.
15. “Still Learning”
O dedo do Ed Sheeran é sensível nessa aqui. Sua cadência de versos, o ritmo que faixa entrega suas frases, é marca registrada do compositor. A canção amarra algumas pontas que ficaram soltas durante o disco, fala sobre amor próprio e aceitação e entrega: “Eu ainda estou aprendendo a me amar”. Suas batidas animadas talvez a destaquem do restante do álbum, com certeza é a produção mais animada de todo o conjunto. Mas, de uma forma positiva, é bom ver um resultado “feliz”e justo ao final de tantas reflexões e questionamentos.
16. “929”
A faixa que encerra o disco é também a mais pessoal e direta de toda a obra. Halsey disse, em uma entrevista, que essa é a canção que ela estava mais apreensiva para apresentar aos fãs e que a versão presente no álbum foi a única que ela gravou. Sem repetições ou tentativas. E isso fica claro pra quem está ouvindo a música. Temos a sensação de que cada um dos versos de “929”foi retirada dos diários de Ashley… Aqui ela fala sobre sua relação problemática com o pai, sobre sua carreira e expectativas dos fãs. O nome da canção é carregado de significado, uma vez que, em uma das voice memos encontradas na faixa, ela afirma que nasceu às 9:29 da noite, no dia 29/09. Tudo aqui funciona como um perfeito encerramento ao “Manic” e comprova que, mesmo quando você acredita se conhecer completamente, ainda existem surpresas.