“15 anos é muita coisa, né?”. A frase que abre a conversa com Felipe Dieder, baterista da banda baiana Maglore, dá o tom do momento vivido pela banda. Com mais de uma década e meia de estrada, o grupo celebra essa marca com uma turnê especial, percorrendo diferentes cidades do Brasil, relembrando fases da carreira e revisitando faixas que há tempos não eram performadas. E Belo Horizonte não ficou fora da turnê: a Maglore desembarca na capital mineira para comemorar a longa caminhada no dia 11 de julho, no Distrital.
A abertura da noite fica com o som da banda donaclara. e o intervalo entre os shows terá sets do DJ Crase, condensando o trabalho de um grupo recém-formado ao de uma banda que já tem uma longa caminhada. Os ingressos estão à venda pela plataforma Sympla.
Para aquecer o “Motor”, o escutai conversou com Felipe Dieder, baterista da Maglore, sobre as memórias acumuladas nessas quase duas décadas, a construção coletiva do som da banda e o carinho especial por Belo Horizonte.
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Letícia [escutai]: 15 anos é muita coisa, né? Já vou até começar perguntando: como está sendo revisitar todas essas fases da banda no palco?
Felipe Dieder [Maglore]: Tem sido muito bacana. Ao longo do tempo, naturalmente a gente vai focando mais nos últimos discos, então os shows mais recentes tinham uma concentração maior de músicas mais novas. O Aquela Força acabou gerando shows mais voltados para ele, por exemplo. Mas o mais legal dessa turnê de 15 anos é justamente isso: poder voltar a músicas que a gente não costuma tocar tanto. Isso não acontece sempre. A Maglore não é uma banda que muda muito o repertório de um show para o outro, sabe? Mesmo quando estamos em turnê de um disco específico, às vezes acabamos tocando só ele. Então revisitar o repertório mais antigo é uma oportunidade rara e especial.
Tem alguma música mais antiga que, ao tocar hoje, soa diferente para você? Algo que ganhou outro sentido com o tempo?
Ah, com certeza. Tem músicas que a gente toca hoje e percebe outras coisas nelas, mesmo que a estrutura seja a mesma. Às vezes, é mais uma questão de abordagem — como a gente toca hoje, como isso se mistura com nossa sonoridade atual. Então sim, rola essa sensação de que algumas canções mudaram com o tempo, mesmo que sutilmente. A gente atualiza o retrato, digamos assim.
E qual é o maior desafio — e também o maior prazer — de manter uma banda por tanto tempo nesse circuito?
Os prazeres são muitos. Eu costumo dizer que estar numa banda como a Maglore é uma espécie de loteria na vida. Mesmo que a gente não seja uma banda gigantesca, temos uma projeção nacional, conseguimos circular bem. Há menos de um mês, a gente estava no Norte — tocamos em Rio Branco, em Porto Velho. E na sequência fomos para Porto Alegre. Isso é muito raro. Sair de um projeto e conseguir outro que tenha esse alcance é muito difícil. Então esse é um privilégio enorme: fazer música autoral e ainda ter público, crítica, gente acompanhando. E o mais bonito é que, como a gente não tá num lugar do mercado onde há muitas amarras, o compromisso é com a gente e com o público. Isso dá muita liberdade.
Já os desafios… viver de música no Brasil já é desafiador. Viver de qualquer coisa no Brasil é difícil, né? A gente tem uma série de limitações estruturais, econômicas… E no caso da música autoral, isso se intensifica. O país é continental, então as distâncias encarecem tudo. E não é de agora, é sempre. Fazer as coisas acontecerem aqui é um desafio constante.
Na época em que a Maglore começou, o hype era outro. Como vocês se mantêm ativos mesmo com tantas mudanças no mercado e na cena?
Naquela época, o que estava na crista da onda era bem diferente do que é hoje. Alguns artistas daquela geração ainda estão ativos, outros ficaram pelo caminho, e muita gente nova apareceu. A gente continua lançando discos, recebendo resposta positiva do público, da crítica. Acho que isso tem a ver com o ofício mesmo, sabe? O ofício da canção pop.
Cada disco nosso tem um retrato de um momento específico. Não é sempre que estamos sintonizados com o que o mundo está fazendo naquele momento, mas seguimos nosso caminho. Isso é uma prova de que existe uma trajetória particular ali. Às vezes a gente se conecta com o que está rolando, às vezes não. E tudo bem.
Queria falar agora sobre o álbum acústico que vocês lançaram recentemente. Como foi o processo de pegar músicas queridinhas do público e “descascar” elas, deixar tudo mais cru?
Foi mais intuitivo do que planejado. A gente fez uma lista de músicas que achava que poderiam funcionar bem nesse formato. Algumas entraram, outras não. Teve coisa que a gente gravou e achou que não encaixava na proposta. Outras acabaram entrando no disco quase como registros descartados de estúdio, mas que contavam bem a história.
Foi um processo de laboratório mesmo. Algumas músicas a gente conseguiu desconstruir bem, outras não tanto. Algumas ficaram muito parecidas com as versões originais, outras ganharam outra cara. Mas é isso: faz parte da história da banda. E foi legal se permitir experimentar.
A Maglore tem uma relação forte com Belo Horizonte. Tem algum show ou história por aqui que te marcou especialmente?
BH tem uma importância enorme na história da Maglore. Eu gosto muito da época de 2012 a 2014, que foi quando a gente frequentou muito a cidade. Tínhamos uma relação muito forte com os amigos músicos daí. O disco V foi gravado em BH, por exemplo, e ele tem um clima de fim de tarde, que é diferente de cidades como Salvador ou o Rio. A gente gravou outros discos no Rio, como o Todas as Bandeiras, mas V tem essa conexão com BH. Eu lembro de um show gratuito que fizemos em uma praça em 2018, com o Djonga e o Giovani Cidreira. Eu tocava com o Giovani na época. Foi muito legal dividir palco com amigos, fazer parte daquele cenário.
Pra gente finalizar, quais são as expectativas para o show em BH? Vi que vocês até soltaram a setlist no Instagram, mas tinham umas músicas ali com ponto de interrogação… Vem surpresa por aí?
Sempre tem surpresa! Tem umas músicas que a gente não costuma tocar e que vão entrar nesse show. E BH é sempre especial. A galera de Minas é a mais simpática do mundo, né? A gente fica muito animado de ir, de reencontrar os amigos, tomar uma cerveja depois, trocar ideia. Tem um clima especial nos shows em BH. Vai ser massa demais.
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