“For Melancholy Brunettes (& sad woman)” mantém Japanese Breakfast na aurora

Novo álbum da banda soa excelente como qualquer outro

Cada projeto de Japanese Breakfast, banda guiada por Michelle Zauner, reflete com pureza os momentos mais interiores da vocalista. A maneira como eles transformam tristeza, o amargo (e também os lapsos mais doces) do luto e identidade em sonoridade exibe o lado terno no zelo em traduzir música. Todos os registros de estúdio que antecedem o Jubilee (2021) imprimem tais sensações de forma visceral o suficiente para mexer nos sentidos do ouvinte com veemência. 

Este último disco de 2021 serviu certamente como a virada da aurora, onde uma sofisticada produção remonta um golden hour espetacularmente admirável. Agora, coube ao álbum For Melancholy Brunettes (& sad woman), lançado neste mês, estabelecer essa nova alçada no horizonte. Novo disco da banda finca estacas que estabelecem uma seleção de cores inéditas. O tom de tristeza nas músicas —sempre contado para se dizer muito sobre autodescoberta— ainda tem presença, mas dentro desst obra o corpo toma posse por uma presença mais sorrateira. 

Toda melancolia de For Melancholy Brunettes se faz por uma invocação mais equilibrada, ainda soturna numa totalidade, para evocar uma das atmosferas mais potentes de Japanese Breakfast; aqui, essa tradução de sentimentos expoente (e uma das mais valiosas do projeto de Zauner) não faz muito esforço para ser o que sempre foi, mas ao usufruir de uma nova certeza adapta-se ao agora com respiros em canções que com o tempo deve se infiltrar até nas paredes.

É justamente por essa contemplação que as canções são digeridas: por meio de um tipo de enraizamento sútil e moderado. Quando se é pego de surpresa escutando “Winter in LA”, carta magnífica sobre como os dias invernosos são os estados solares da protagonista, o natural é deixar o som e a voz esplêndida de Zauner receberem do ouvinte retornos que instigam um estado denso de calmaria. Agora, quando a tracklist se posiciona em músicas altas em tom e ainda mais excelentes, como “Honey Water” e “Picture Window”, a única reposta é levar-se pelas texturas guiada das guitarras. Mike Mills ganha pontos pela produção exaltante, não apenas exclusivamente nestas propostas.

A grande maioria das peças no For Melancholy Brunettes chegam, se infiltram, passam e ganham o ouvinte. É de perder a conta de quantas vezes este ciclo se repete ao longo dos quase 33 minutos de duração. O grande mérito no álbum sem dúvida vai para como tudo é afiado, onde o lirismo confessional habitual de Zauner atenua de modo potente as texturas sonoras do disco.

Da mesma maneira que as especificações dadas por um autor para seus personagens e história atiçam um leitor a conhecer mais da história, o For Melancholy Brunettes (& sad woman) atinge como se os poemas das várias peças ganhassem som.

90/100




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