Crítica | Japanese Breakfast, “Jubilee”

Com um álbum primoroso e autêntico, Japanese Breakfast faz retorno fenomenal após trabalhos com o último disco, lançado em 2017.

Se há uma palavra essencial em meio a várias outras que servem como elogio para descrever o que Michelle Zauner traz com o Japanese Breakfast (projeto encabeçado pela musicista, diretora e autora coerana-americana) é pureza. É verossímil sentir as cores e sensações que suas produções evocam de longe. E hoje, todas as variações possíveis que a artista podia emanar com suas obras, dão vida ao que é um dos melhores trabalhos do ano: o seu 3º álbum de estúdio, o “Jubilee“.

De acordo com a bio da própria no Spotify, “a partir do momento que começou a escrever o seu novo álbum, Japanese Breakfast sabia que queria o chamar de “Jubilee”. Afinal, um jubilee é uma celebração da passagem do tempo – um festival para inaugurar a esperança de uma nova era em cores brilhantes.” Ninguém pode descrever melhor um produto além do seu dono, nós, a quem nos é oferecido o tal produto, temos o objetivo de compreender da nossa melhor forma, e sempre, mesmo não querendo, levamos em consideração nossa bagagens, escolhas ou interesses enquanto consumimos o produto.

E já com “Paprika“, canção de abertura, Zauner demonstra que o seu festival acima de tudo é só seu: “Qual é a sensação de estar no auge de seus poderes / Para cativar todos os corações? / Projetar suas visões para estranhos que as sentem, que ouvem, que se demoram em cada palavra” (tradução da parte final do refrão). São os sintetizadores barulhentos que nunca sanam-se misturados com trompas que abrem em enorme estilo (como uma marcha) o trabalho para já noticiar o ouvinte que há pressa em contar histórias envolventes e eufóricas por todos os lados.

O lead single “Be Sweet” (que me fez adentrar pela primeira vez no mundo da artista quando foi lançado) soa magicamente incrível o tempo todo com uma narrativa de fundo se auto proclamando. Os vocais da artista ungidos a toda a sistemática da canção são envolventes e dançantes. É pra cantar gritando. Essas sensações erradicam-se em “Kokomo, IN” (faixa favorita de Zauner), e temos no lugar vibrações reflexivas e calmas ressonadas por cordas, que permitem sentir um sabor doce e gentil, mesmo a letra (ótima) trazendo a dor na nostalgia de um personagem inventado que está se despedindo de sua namorada do colégio.

Watching you show off to the world the parts I fell so hard for
God, I wish we could go back there
Left alone in my room
I know they deserve you too

Parte final do verso 2 de “Kokomo, IN

Com saxofone e guitarras, “Slide Trackle” ilustra a terceira melhor música do álbum, que mostra-se chiclete e extremamente confiante sonoramente, e também liricamente, onde as palavras deslizam e ficam no consciente fácil fácil. Curiosamente, a segunda melhor obra do disco figura a seguir: “Posing In Bondage” é cordialmente pensada para em sua composição transmitir sentimentos sombrios e que de maneira etérea, pontuam uma melancolia incisiva. É um dos pontos mais altos de todo o projeto.

O registro possui a música anterior como single e ganhou em abril um vídeoclipe que serve como epílogo para uma das faixas abaixo na tracklist. E como se não bastasse trazer a peça inteira com maestria, os vídeos dessa fase esboçam a atmosfera perfeitamente. O clipe de “Posing In Bondage”, que traz Zauner com um vestido preto e com manchas de sangue no rosto, replica a soturnidade da canção com simplicidade, mas com ótimo jogos técnicos. Já a espetacular adição visual feita para “Savage Good Boy“, a faixa mais alegre que melodicamente impecável rascunha um relacionamento abusivo, é essencial para entendermos toda a situação.

Perto do fim, “Sit” começa com guitarras pesadas, que no fundo possuem adereços deliciosos de se prestar atenção e que encaixariam em alguma produção da banda The xx. A diagramação e o refrão no final fortalecem o melhor da faixa. “In Hell” prepara um terreno pra soltar a respiração e mostra-se aliviante, indo corajosamente na contramão com a letra: “Hell is finding someone to love / And I can’t, I can’t”.

Sob uma bela condução de cordas, “Tactics” incendeia-se como um clássico, que logo monta um cenário de despedida muito bem elaborado. Aqui, Zauner lê uma carta para saborear memórias. “Posing For Cars” é o abraço fatal no ouvinte. A canção de seis minutos é o maior ápice de todo esse festival, onde com um fechamento pontuado por um solo de guitarra fenomenal e estimulante, todas as preocupações se esvaiam.

So say, say what you want
Dose up on fiction, disfigure the truth

Parte do refrão de “Tactics“.

Tiro certeiro de Michelle Zauner finalizar o “Jubille” com essa faixa, já que a soma dela com todas as outras nove, formam um redemoinho de criativade que constrói um horizonte e personificam uma pessoa capaz de ditar toda uma geração. E mesmo que na primeira viagem o álbum pareça díficil, é extremamente recomendado escutar uma vez atrás da outra.

Nota do autor: 90/100

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