Gossip Girl é de um tempo em que as séries eram escassas e as plataformas de streaming estavam longe de ser uma realidade acessível e cotidiana. Atualmente para quem quer rever ao já considerada “clássico”, a série se encontra completamente disponível na HBO Max, ao lado de seu revival que chegou já sendo um tanto quanto polêmico.
Ao reassistir, reencontramos diferentes memórias que estavam escondidas no nosso passado adolescente. A série, que teve a sua estreia em 2007, ficou popularmente conhecida no Brasil como “Gossip Girl – A Garota do Blog” e foi um grande sucesso em suas 6 temporadas transmitidas pelo SBT até 2012 quando a série chega ao fim. O revival da série aconteceu em 2021 e atualmente também está disponível na HBO Max.
Para quem ainda não conhece, a premissa datada da série é contar a história da elite jovem de Manhattan, mostrando o cotidiano dos estudantes da Constance Billard St. Jude’s School, escola em que a maioria dos alunos estudam no famoso Upper East Side, um bairro luxuoso de Mahattan. Ao longo das extensas 6 temporadas novos personagens foram sendo introduzidos para compor o drama que, a cada episódio, conseguia se arrastar e se renovar. Confira os detalhes interessantes da série.
O enredo
O enredo das primeiras duas temporadas é bastante vinculado a Constance, o contexto dos anos finais da escola e a entrada de todos na liga Ivy das universidades — as 8 melhores universidades dos Estados Unidos. A maior parte das situações estão vinculadas à escola cujo desdobramento sempre se dá em confusão, drogas, sexo, irresponsabilidades, e falta de limites. Tudo isso sendo observado e principalmente narrado no blog da misteriosa Garota do Blog, que está em todos os lugares e em lugar nenhum.
Mostrando as garras e ditando as regras do jogo, logo na primeira temporada “a garota do blog” se apresenta como uma pessoa determinada em escancarar a parte não glamurosa daquela elite que envolve problemas com drogas, manipulações, traições de todo tipo e um jogo pelo poder que acontece por trás de todo o luxo opulento da elite de Nova Iorque. Os personagens principais são escrachados logo de cara: Dan Humphrey (Penn Badgley), que ficou conhecido por ser o garoto solitário do Brooklin, sua irmã Jenny (Taylor Momsen), o encrenqueiro riquinho Chuck Bass (Ed Westwick) e seu melhor amigo Nate Archibald (Chace Crawford), a icônica Blair Waldorf (Leighton Meester) e sua amiga, Serena van der Woodsen (Blake Lively).
Personagens
Serena é a protagonista bonita e problemática, uma socialite com problemas de excesso de drogas que sempre se vê em conflitos com a família e com os amigos. No início da série ela se interna por conta própria em um internato distante de tudo após estar envolvida com um crime que será revelado só no decorrer do drama. Blair Waldorf, amiga de Serena e alma de todo e qualquer esquema dessa trama, é filha de uma famosa estilista e por sua causa de sua carreira, é bastante ausente. Por isso, a governanta Dorota (que depois ganhou até um spin-off só dela) é sua cuidadora principal tendo nela uma figura materna.
Chuck Bass é um herdeiro de um poderoso industrial, pai ausente, que possui um hotel de luxo onde mora e compartilha do cotidiano fazendo dos funcionários sua família. Nate Archibald é de uma família de políticos e herdeiros que luta contra sua própria vida política pré-definida pelo seu avô. Por último temos Dan Humphrey, um jovem solitário cujo a escola é a sua única forma de ascensão social. Mora com o pai e com a irmã no Brooklyn e é o único que não compartilha do cotidiano de Upper East Side, e se apaixonando secretamente por Serena.
6 temporadas e dramas infinitos
Na primeira temporada Dan se aproxima de Serena após o seu retorno do internato, desse encontro se desenrola o romance que aos olhos do expectador é o principal mote da série, até então os demais personagens ficam em segundo plano. É uma temporada de entrada, não tem muito desenvolvimento mas o carisma dos personagens já garante a audiência dos telespectadores.
Na segunda temporada o foco da série se estabelece nessa mudança dos personagens para a entrada na universidade. Cresce na série a relação de amizade tóxica entre Serena e Blair sempre competindo pelas mesmas coisas e duelando por atenção e prestígio. Todos os boatos e confusões são disparados pela Gossip Girl, que cria diversas situações de conflito escancarando esses acontecimentos e ao longo do tempo revela ter uma grande obsessão pela figura da Serena.
Essas duas temporadas são bastantes coerentes, a “garota do blog” — estrela do show — que controla muitas das informações e cumpre com o papel de divulgar muitas polêmicas. No fim da segunda temporada todos se preparam para descobrir quem é a “garota do blog”, o tempo escolar acabou e todos vão se separariam pois vão para universidades diferentes.
Para justificar a continuação da série foram usadas várias estratégias, primeiro continuar escondendo quem é a garota do blog, segundo, houve a tentativa de estabelecer um novo núcleo principal na Constance, afastando o elenco principal anterior, que agora se tratavam de veteranos e adotando um novo elenco principal com Taylor Momsen como protagonista.
Outro acontecimento que modificou completamente a série foi o sucesso do casal Chuck e Blair, que antes eram os grandes vilões da série e se tornam os principais personagens por um bom tempo. Essa troca de protagonistas é bastante evidente e até constrangedora para os antigos protagonistas que vão no escanteio continuando em desenvolvimento quase que secundário.
De fato, o casal Chuck e Blair era muito mais coerente, mais intenso e maquiavélico, traziam movimento pra série, agradavam a audiência, eram os preferidos. Já Dan e Serena se perderam em meio a tanto drama e indecisão, o que os tornou um casal chato e relapso. O famoso casal sem sal.
Enquanto isso, o enredo, que tentava se adaptar há algum tempo, se perdeu completamente para servir o famoso fan service. De repente, ninguém foi pra universidade, a garota do blog se tornou irrelevante e muitas vezes fazia o papel narrativo da história apenas para lembrar ao telespectador que ela ainda existia ou relembrar algum detalhe (quase inútil) que passou despercebido.
O arrastar da série como um todo foi tão grande que ao torcer pelo casal Chuck e Blair, o telespectador chegava ao fim da temporada com eles ficando juntos, o que é desejável para todo fim de série. No entanto ao iniciar a nova temporada eles já não estavam mais juntos e inventavam algum motivo fútil ou não, que levasse a separação do casal. A série terminou no décimo episódio da 6ª temporada, quando os personagens já estavam tão gastos que não haviam mais desculpas para Chuck e Blair não ficarem mais juntos (até que enfim).
No decorrer das seis temporadas aconteceu de tudo: traições de todos os tipos, falsas mortes e muita manipulação. Participações especiais como as de Hilary Duff, Tyra Banks, a famosa estilista Vera Wang, serviram de deleite pra quem acompanhou fervorosamente. Como a série caminhava lado a lado com o que estava em alta na época, principalmente com os grandes sucessos da música pop, as participações de cantoras foram as mais populares da época: Lady Gaga em seu ápice com “Bad Romance”, Florence and The Machine, Robyn e por aí vai.
O final (cuidado com um spoiler de 15 anos) não poderia ser mais confuso. O casal principal, Serena e Dan, que estavam adormecidos desde a terceira temporada, vivendo ali às margens da série. ressurgem no penúltimo episódio como quem não quer nada e toma a frente da trama inteira — não sem antes presenciar o casamento mais esperado, o de Blair e Chuck. A garota do blog que a essa altura já tinha sido desligada, raqueada e perseguida, então se revela sendo o Dan que desde a quinta temporada já é um famoso escritor de livros a la Scott Fitzgerald (O Grande Gatsby).
Com um drama interminável, muitas pontas soltas ficaram pelo caminho. Outros núcleos da série ficam sem um final ou esclarecimento, o que frustra muita gente até hoje. O relacionamento da mãe da Serena com o pai de Dan, por exemplo, sem dizer ou mostrar nada ao público, aparece resolvido no último episódio. Ou tudo foi muito sutil, ou ninguém saberá como nem porquê.
Gossip Girl continua um ícone pop, mesmo depois de quase duas décadas?
Além de incoerências de enredo, furos sem explicação, núcleos sendo jogados pra lá e pra cá a todo momento e seis temporadas intermináveis, a série serve o puro e refinado suco de cultura pop (da época e de hoje). Sua passagem no Hall das séries adolescentes é sempre lembrado por sua iconicidade nostálgica e roteiro malandro, que para os anos 2000 era um índice de novela delicioso pra se acompanhar. Suas referências se fazem presente em filmes, séries, clipes e muitos outros aspectos da cultura pop — não é a toa que uma série/sequência saiu dos papéis em 2021 e deu o que falar.
A recomendação é, caso não tenha assistido ainda, assistir por pura nostalgia. Ou pelo momento em que a Blair quase vira a princesa de Mônaco, que é um plot maravilhoso, imitando várias situações da princesa Diana de forma icônica.
Completando seus 15 anos de lançamento no dia 19 de setembro, Gossip Girl tem sua taxa justa de erros e acertos, e por isso permanece como uma das séries mais icônicas da TV — pelo menos pra gente.