O segundo dia da GPWeek 2023 alinhou muito bem seu line-up para criar o melhor clima possível para o último momento da noite. Com R&B e rap no foco, o evento ainda fez questão de adicionar um pequeno gosto de pop com elementos eletrônicos e psicodélicos. O público respondeu bem ao formato do domingo e foi ficando cada vez mais animado, sendo que grande parte desta animação vinha dos artistas que estavam dispostos a aquecer a plateia e proporcionar o melhor show possível para qualquer lugar da plateia.
Tasha & Tracie já são figurinhas carimbadas em festivais, mas cada show delas parece o primeiro da carreira devido à empolgação que elas transmitem para qualquer público que as assista. Com o set recheado de batidas e muita intensidade na atitude, elas foram certeiras em preparar o público para o que viria. Presentes não apenas no mundo da música, mas também na moda, as irmãs Okereke trazem sempre shows que também são passarelas para as duas. Mas fica na imaginação como seria a performance da dupla com um tempo menos claro e um pouco mais próximo da noite.
IZA tem presença gigantesca e conexão perceptível com o público
Às 15:30 em ponto, já se ouviam os primeiros barulhos da introdução de IZA. Contando com uma banda e vários dançarinos devidamente uniformizados em peças de couro marrom, a cantora se destacava em um figurino todo preto, o que a fazia parecer uma estrela da era de ouro de Hollywood. Após uma introdução solo no palco, durante a incrível performance de “Que Se Vá”, já se notava algo que parecia até uma versão mais suave do Beychella para a GPWeek, devido à desenvoltura e sincronia de todos os presentes no palco. A animação aqui era o que fazia o público pular, e a cantora era bastante esperta ao se conectar com a plateia, reservando o tempo necessário para dizer que estava de olho em todos e acenando para todos os setores, inclusive percebendo a presença do cantor Masego assistindo a tudo.
IZA fez questão de descer até a pista, e era perceptível que todos queriam ficar o mais próximo do palco possível por sua causa. Momentos de destaque do show incluem a participação de L7NNON durante “Fiu Fiu”, o momento bastante teatral com “Fé” e um combo poderoso com os hits “Dona de Mim”, “Pesadão” e “Brisa”. E para aqueles que achavam que tinha terminado, ela ainda fez questão de embalar “Ginga”. Para quem tinha qualquer dúvida, a cantora mais uma vez provou o quanto é gigantesca quando está no palco, com presença de headliner.
Sofi Tukker e sua forma criativa de interação envolve o público a participar
A dupla, já bastante familiarizada com o Brasil, começou seu momento na GPWeek com um dos maiores hits, “Drinkee”, e já apresentando um cenário bastante envolvente que convidava o público a interagir junto. Tucker assumiu a posição de MC, enquanto Sophie caprichou com um figurino rosa que ia muito bem com sua guitarra branca. Arriscando (e acertando) no português, a cantora se dirigiu à plateia e fez questão de dizer o quanto o lugar era especial para eles. Em “Sun Came Up”, a batida ficou muito mais agressiva, e um dos itens do “parquinho” era também uma bateria.
Um dos momentos mais marcantes foi quando anunciaram a presença de Sophia Ardessore e Mari Merenda, duas artistas que vieram para cantar uma nova música: “Veneno“. A fusão entre o pop com raízes brasileiras estava mais uma vez presente nesta faixa que ainda não foi lançada. Além disso, a dupla também deu vitória à plateia brasileira em uma competição de animação, onde os adversários eram a plateia norte-americana, com sua pontuação alcançada no show anterior da turnê.
Thundercat não economizou no carisma e técnica no baixo para a GPWeek
O baixista Thundercat, fã de anime, estava bastante animado por se apresentar para o público presente no festival. Entre uma música e outra, ele reservava um tempo para falar com os presentes, fazer piadas, perguntar quem gostava de ‘One Piece’ e esbanjar carisma. O músico sabia que muitos dos presentes também estavam ali na expectativa pela atração principal, então transformou seu show em um ótimo aquecimento para isso.
Transições rápidas ditavam uma sequência de solos que não davam tempo para que qualquer pessoa respirasse. Acompanhado de bateria e teclado, o músico também fez os instrumentos ao seu lado brilharem, tornando um solo de bateria uma das partes que mais empolgou as pessoas. A última música foi seu single mais recente: “No More Lies”, em parceria com Tame Impala, onde apenas o músico cantou sua parte do trabalho.
Kendrick Lamar fechou a noite mostrando que tem potencial para levantar qualquer plateia
O artista mais esperado de toda a edição de 2023 da GPWeek fez seu retorno ao país após quatro anos da última presença por aqui. Kendrick Lamar sabia que um grande público o esperava, mas não sentiu medo algum, pois bastava sua atitude e presença para deixar claro que estávamos diante de um dos melhores artistas da atualidade, não só do seu gênero, mas da música em geral.
Seu telão exibia pinturas mostrando pessoas em momentos cotidianos ou apenas efeitos mínimos. Não era necessário tanto apelo visual, pois sua performance é simples. Dividindo o palco apenas com dançarinos que traziam um elemento teatral às músicas, o cantor começou com “N95” e manteve uma energia invejável até o fim.
Os momentos com a trinca “Swimming Pools (Drank)”, “LOYALTY.” e “DNA.” somado a acapella com o público para “Bitch, Don’t Kill My Vibe” foram memoráveis, e alguns arranjos que tinham um toque de rock também surpreenderam. Em um momento, a imagem no telão era capturada pelos próprios dançarinos, algo semelhante à ‘MOTOMAMI Tour‘ de Rosalia.
A parte simpática também brilhou quando ele pegou o vinil de um fã da plateia e o autografou, além de também chamar Thundercat para agradecer publicamente pela contribuição importante para o disco ‘To Pimp a Butterfly’. O final poético com “Savior” deixou dúvidas se o show havia realmente acabado, mas Kendrick voltou para finalizar de verdade com “Alright”, uma das melhores de sua carreira.
Festival tem saldo positivo mas dependeu da energia dos artistas presentes
Mesmo que a separação de pistas tenha deixado alguns buracos na plateia, a GPWeek 2023 acerta em criar uma crescente muito bem balanceada para o último dia de evento. Poderia-se considerar IZA como uma ótima opção para tocar um pouco mais tarde, pois foi um dos shows que mais animou, mas é difícil pensar em uma ‘abertura’ melhor para Kendrick Lamar do que Thundercat. Ao final da noite, a intensidade do público já havia atingido seu ápice, o que tornou a experiência muito favorável.
O ano para o festival termina com saldo positivo, principalmente pela capacidade de trazer grandes artistas nos dois dias do evento, além de combinar as sonoridades para proporcionar a melhor experiência possível. Um lado não muito positivo foi o fato de que a vontade dos artistas foi um combustível necessário para animar o público, e não tanto algo bilateral, como deveria ser sempre.