Hatchie evolui musicalmente sem medo de transitar entre gêneros

Hatchie tem discografia tímida, porém potente para a definir como uma das artistas que melhor funde sonoridades como pop e alternativo.

Harriette Pilbeam possui uma discografia concisa, consistindo em apenas dois álbuns e um EP que marcou o início de sua carreira como Hatchie. Portanto, pode parecer prematuro afirmar que a cantora australiana já moldou e desenvolveu sua identidade sonora de maneira sólida. Isso ocorre porque entre o lançamento de “Keepsake” em 2019 e “Giving The World Away” em 2022, observa-se uma evolução que estabeleceu firmemente Hatchie como um exemplo de fusão entre Dream-Pop e Pop, com um toque de tempero Shoegaze.

Em sua mais recente obra, os vocais e as produções aparentam estar em conflito, não se conectando à primeira vista. No entanto, após um momento de audição, torna-se evidente que esses ‘desencontros’ propositais entre a voz de Harriette e os arranjos desenvolvidos pelos produtores do álbum (inclusive Dan Nigro, agora amplamente reconhecido e queridinho de Olivia Rodrigo), desempenham um papel crucial. Eles atuam como um guia poderoso, permitindo ao ouvinte perceber a impressionante habilidade dessa artista em se flexionar e se reinventar musicalmente. O objetivo subjacente é bastante simples: criar músicas cativantes.

Entre algumas guitarras levemente distorcidas (como na faixa título), canções que soam como trilha sonora de comerciais dos anos 90, como “The Rhythm”, e muitas que, se cantadas por titãs do Pop, morariam nos lugares mais altos das paradas, como “This Enchanted”, “Giving The World Away” demonstra ser o tipo de trabalho que podemos chamar de ‘redondinho’. Do começo ao fim, em um percurso composto por doze paradas, o disco carrega uma energia de fim de tarde chuvoso. Mesmo que para chegar a essa sensação, ele também traz músicas que parecem feitas para o verão (por exemplo: “Thinking Of” e “The Key“).

A habilidade sonora da cantora em despertar emoções distintas a partir de um mesmo projeto é uma prova de que Hatchie não está disposta a se acomodar na mesmice. O charme de suas mudanças reside em apresentá-las como uma evolução natural. A música se transforma sem perder a essência e suas inspirações.

Seu maior ‘hit’ até o momento é “Obsessed”, faixa presente em seu primeiro trabalho completo. Aqui, ouvimos algo mais enigmático na produção de John Castle, mas nada tão distante do que ouviremos no futuro da carreira da artista. A conexão que ela estabelece é como um fio extenso que continua se adaptando até alcançar a musicalidade perfeita a ser exposta.

Talvez o maior trunfo de Hatchie seja alcançar um ponto de equilíbrio divino na música que cria. Em alguns momentos, é bastante desafiador categorizar suas músicas estritamente como Pop ou Alternativo, uma vez que a fusão que ela realiza entre essas duas energias em sua discografia se apresenta como a maneira mais cativante e atrativa de despertar o interesse do público por seu trabalho.

Desde o seu EP de estreia, fica evidente que ela não busca se fixar em um único estilo, mas sim transitar entre vários. Ela faz isso quando sente a vontade e identifica a melhor abordagem para cada uma das músicas que cria. Crescendo em um ambiente musical, filha de pais que se conheceram enquanto trabalhavam em uma rádio, a cantora carrega em suas raízes a profunda importância de expressar-se por meio da arte.

Essa expansão, que teve início após a conclusão de seu lançamento mais recente, tende a continuar crescendo. O excelente acolhimento por parte dos fãs trouxe também um aumento no número de pessoas dispostas a acompanhar de perto o que ela ainda pode fazer.

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Hatchie é uma das atrações confirmadas na edição de 2023 do festival nacional Balaclava Fest, que acontece em 19 de novembro, no Tokio Marine Hall

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