Abalado por cancelamentos, Lollapalooza Brasil 2024 entrega edição morna

Paramore, Rina Sawayama e Dove Cameron são alguns nomes que desfalcaram o line-up e decepcionaram os fãs.


Dois anos após o movimento de retomada da cultura e de retorno dos festivais, podemos afirmar que a “febre” e a sede por novos eventos passou. Se antes o público se submetia a condições insalubres, esgotavam todo e qualquer show e evento de line-up duvidoso, as produtoras hoje encontram, entre outros problemas, um público mais criterioso e artistas mais complicados.

Depois de edições históricas e com recordes de público como vimos com Miley Cyrus (em 2022) e Billie Eilish e Rosalia (em 2023), a edição de 2024 amargou com ingressos em primeiro lote até o dia do evento e público abaixo do esperado. A primeira edição sob o comando de Roberto Medina (criador do Rock in Rio) seguiu bem as réguas já estabelecidas do evento: disposição de palcos, shows pontuais, ativações/camarotes e área vip como já era de se esperar. Com banheiros incrementados e metrô 24h, vimos algumas melhorias — mas o fantasma dos cancelamentos que já rondava outras edições, não deixou essa de lado.

Se a ausência de Drake, Willow e Blink-182 devastaram os fãs no ano passado e causaram um rebuliço de questionamentos quanto às cláusulas de contratação dos artistas, esse ano o festival já encontrou o público com uma confiança bem menos resistente. Antes mesmo dos novos cancelamentos começarem, não eram raros os consumidores que afirmaram não confiar no evento, dizendo que só comprariam na semana do festival, quando o line-up já está, em teoria, mais sólido.

Não sendo a exceção então, desde o anúncio do line até o festival, novos cancelamentos estremeceram de novo a relação do público. Primeiro, um dos maiores nomes: Paramore. Com alegações rasas e um pedido de desculpa tanto quanto superficial, o festival perdia uma de suas atrações de maior peso. Dove Cameron foi outro nome que chamou atenção: com a desculpa de que “precisava finalizar seu álbum de estúdio”, os próprios fãs se voltaram contra a cantora e a justificativa apresentada, lembrando shows recentes nos EUA que aconteceram mesmo com um repertório mais “curto”. Jaden Smith seguiu os passos da irmã, Willow, que cancelou no passado, e desmarcou seu show na edição atual — seguido por Rina Sawayama, que faria também sua tão esperada primeira apresentação no país.

Conforme apurado pelo G1, não há nenhuma cláusula mais forte nos contratos que faça com que os artistas repensem a alteração na rota. Para eles, não há multa ou prejuízo maior que o não recebimento (ou devolução) do cachê. Já para os fãs, o valor gasto muitas vezes não é recuperado, já que o cancelamento apenas dá direito ao reembolso do ingresso Lolla Day (comprado para um dia de festival). Para quem se empolga e compra o Lolla Pass (o passaporte para todos os dias de evento), entende-se que as outras atrações seguem de pé e não lesam o consumidor. Para além do ingresso, o valor muitas vezes investido em hospedagem, transporte e mais não são retornados: causando revolta, prejuízo e frustrações.

A aparente “falta de compromisso” dos artistas pode, sim, prejudicá-los, mas o impacto maior recai sobre a organização, que não tem um “pulso firme” na contratação e perde boa parte de sua reputação. Fãs de outras cidades e estados ficam inseguros no investimento, e acabam ficando de fora, impactando as vendas.

Quem confiou e se aventurou no Autódromo, encontrou um line-up bem morno em relação ao prometido, além de um mar de lama. Embora uma pequena parte do espaço tenha sido recentemente reformada, a área ainda corresponde a muito pouco do espaço total do Autódromo, fazendo com que a maioria do público ainda precise enfrentar situações quase insalubres, com lama, tombos e muita sujeira.

Para além dos percalços, a edição contou com bons shows que agradaram o público e fizeram a experiência valer em alguns aspectos, como as apresentações de Sza e Sam Smith — que mereceria o palco principal, visto a multidão que se aconchegou no frio do domingo para ver o espetáculo.

Mesmo com o público morno e o espaço não tão cheio como nos anos anteriores, as produtoras não aparentam receio, com a nova edição não apenas confirmada (nos dias 28, 29 e 30), mas também com um early bird esgotado.

Agora resta aguardar e torcer por um line-up com prestígio e principalmente responsabilidade, para devolver a alegria aos fãs e parte da boa reputação ao festival.

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