Crítica | Manhãs de Setembro sela conexões com convívios reais

Estrelada por Liniker, “Manhãs de Setembro” é acima de tudo, sobre a realidade dos muitos brasileiros que ainda estão longe dos holofotes.

O catálogo do Prime Video vem a um tempo se expandindo de maneira sublime. As produções que vemos no streaming, não dariam certo em outro lugar. Seja pela originalidade que tais obras carregam, ou também, os tons e nuances que só um programa da plataforma tem. E mais uma vez, com “Manhãs de Setembro”, a autenticidade dessas obras originais é refletida em uma produção única. A série nacional do streaming é carregada em seus cinco episódios de menos de quarenta minutos, com um aconchego que confunde devido a trama que trata de assuntos desconfortáveis, fato curioso, já que assim que se começa, não dá vontade de parar. Ela te abraça e sem receio, fala tudo que tem pra falar.

Palavras sem medo são ditas com calor por Liniker, que aqui, estrela a sua primeira obra audiovisual como Cassandra, uma motogirl que após longos anos alcançar a felicidade em ter se encontrado como uma mulher, uma mulher independente e repleta de cicatrizes. Até que certo dia, Leide bate no novo apartamento de Cassie para anunciar que Gersinho, estava ansioso para conhecer o “pai”. Logo, ter um filho como um dos personagens fala, “não é como pacote”, mas Cassandra passa a ver a situação toda assim, como algo descartável.

Essa visão da protagonista é algo cruel e parece nunca parar de progredir, e é uma ideia tão dura e cheia de si, que permeia por bastante tempo. Tanto é que, aos poucos a trama decide inserir os breves contatos de carinho entre Cassie e a criança, um sorriso ou até um pensamento feliz, provocam borboletas no estômago.

Decisão ótima essa de ir devagar, já ninguém quer mudar sua vida do avesso novamente após acabá-la de consertar. Logo, o roteiro de Josefina Trotta, Alice Marcone e Marcelo Montenegro começa a dar pequenos indícios para Cassandra que ter um filho não é um tremendo ato ruim, Isso se mostra lá pelo episódio três (o melhor da obra), onde com muita ternura, Gerson vê sua mãe cantar e temos um dos melhores momentos da produção. Essa ocasião em questão, também mostra uma sentimental sobreposição de cenas, que vêm através da direção de Dainara Toffoli.

As canções da cantora e compositora Vanusa ganham vida com um tom angelical, onde são reforçados pela voz da protagonista. E o momento citado anteriormente é regado inteiramente pelo desempenho absurdo de lindo de Liniker performando “Pararelas”, música de Belchior. São esses palcos que a artista toma para si dentro da série que reservam os melhores pontos, onde sua voz ecoa forte pelas dilatações de um eenredo em que as dificuldades da vida brasileira são postas na equação. E sua voz aqui também ressoa forte quanto à atuação.

A estrela do show não é de fácil interpretação, tanto para quem tem o cargo de dar-lhe vida para quem vê-la de longe. Mas Liniker consegue entregar uma personagem que brada o tempo todo de maneira crua e expoente. É difícil enxergar “Manhãs de Setembro” sem ela. Sua aura mostra-se presente durante todos os episódios e é fácil dizer que a entrada da artista como estrela para o ramo visual é notória e magnífica. Karine Teles, já acostumada com as vivências desse palco, entrega o ponto mais florescente da produção. É uma mãe que deu o sangue para criar seu filho, e ela trata em evidenciar isso por todas as vias. Assim como todo o quadro perante Liniker, também é difícil enxergar a obra sem a atuação espetacular da atriz. Gustavo Coelho soma muito bem e entrega uma criança dócil, e confusa com todos os problemas ao seu redor.

O que de fato mais acrescenta corpo na produção é esse trio. Com o propósito mais óbvio é claro, que é ilustrar o quanto é difícil para Cassandra agora ser mãe, e o quão tremendo é complicado também para Leide, ser uma mãe. Essas duas narrativas se unem e acabam às vezes perdendo tempo em outros arcos, mas que sempre acrescentam em discussões importantes.

Uma delas por exemplo é o núcleo envolvendo Ivaldo, interpretado por Thomás Aquino, que está ótimo. O namorado de Cassandra põe em foco o fato de ser casado e ter uma relação com a protagonista. Isso resplandece em debates importantes, mas que ainda assim, não agregam muito. Mas valem a pena pela inserção para preencher a trama como um todo.

Nessas idas e vindas para colocar lacunas, o programa reserva momentos incríveis que nos fazem considerar a série como pontual onde tem que ser. Os cinco episódios, que poderiam facilmente ser maiores, mantém-se em ritmo constante que perpetua uma obra única em muitos pontos, mas que acima de tudo, marca todos eles devido ao seu trio protagonista.

Se houver uma nova temporada e a trama se manter ainda mais madura, se é que isso é possível, teremos em mãos uma produção nacional visceral que valoriza os mais diversos assuntos que aí afora, são tratados sem os menores dos cuidados, mas aqui, resultam em belas conexões com quem assiste. No fim, “Manhãs de Setembro” ficará nas nossas cabeças por um bom período de tempo após essa bem construída “amostra” na primeira leva de episódios.

Assista a 1ª temporada de “Manhãs de Setembro” no Prime Video no dia 25 de junho.

Nota do autor: 80/100

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