Crítica | David Fincher garimpa a era de ouro de Hollywood com Mank

Com dez indicações ao Oscar, Mank se consagra como o favorito da temporada e ostenta homenagens à indústria cinematográfica.

Em Mank, David Fincher surpreende com sua versatilidade ao se aprofundar na era de ouro do cinema Hollywoodiano, revelando as peripécias e os truques da sétima arte. O renomado diretor, que conta com um currículo impressionante, explora e desconstrói a trajetória da maior indústria fílmica do planeta, destacando algumas de suas maiores injustiças e destrinchando personalidades icônicas do momento histórico em questão.

Mank, candidato a dez estatuetas no Oscar deste ano, acompanha os dias finais da elaboração de um dos roteiros mais problemáticos da história, o de Citizen Kane, obra-prima dirigida por Orson Welles e lançada em 1941. Mesmo após todo esse tempo, ainda existem dúvidas sobre quem realmente escreveu e conduziu o roteiro do clássico, considerado por muitos como o melhor filme já feito.

Entretanto, ao longo da obra, é perceptível que as questões relacionadas à escrita ficam em um segundo plano, como se fossem detalhes e pontos de apoio para uma narrativa mais abrangente, abrindo espaço, assim, para um panorama do cinema e das figuras emblemáticas da famosa Era de Ouro de Hollywood.

O filme se distancia bastante dos espectadores ao se adentrar num universo cinematográfico do período retratado, com suas próprias personalidades, piadas internas e inúmeras referências, fatores desconhecidos por grande parte dos espectadores. Mesmo com esse distanciamento involuntário, é possível mergulhar na velha Hollywood de maneira intensa e perceber que ela não foi, sem sombra de dúvidas, o que aparentava ser.

Como apresentado no longa, a chamada Golden Age foi dourada e reluzente apenas para uma pequena parcela dos trabalhadores da indústria, enquanto a grande maioria sofria com demissões em massa, cortes de salário e falta de reconhecimento. Os grandes estúdios e seus respectivos magnatas dominaram e tomaram o cinema de outrora em suas próprias mãos, reflexos que podem ser sentidos até mesmo nos dias de hoje.

Fincher traz todo esse contexto de forma espetacular ao observar a indústria através dos olhos e da memória de Herman Mankiewicz (Gary Oldman), um roteirista alcoólatra que se descobre vítima, culpado e também juíz desse sistema manipulador que é Hollywood, por mais velado que seja. Mank, que conta com um elenco brilhante, com destaque para Amanda Seyfried e Charles Dance, apresenta as dinâmicas da indústria cinematográfica que muitos se recusam a ver. É desconstrução da magia do cinema, assim como afirmação metalinguística dessas ilusões.

Assista “Mank” na Netflix.

Nota do autor: 80/100

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