Dirigido por Pablo Larraín, conhecido por filmes como “Jackie” (2016), sobre a ex-primeira-dama dos Estados Unidos, e “Spencer” (2021), sobre a princesa Diana, “Maria” explora os dias finais da icônica soprano Maria Callas. No papel de Callas, Angelina Jolie veste a carcaça da cantora em uma atuação com potencial para ser considerada a melhor de sua carreira. Sutil, Jolie domina a tela sem recorrer ao exagero para se mostrar imponente.
O problema da obra, no entanto, não está na atuação. O roteiro, assinado por Steven Knight, bate nas mesmas teclas o tempo todo e não consegue capturar as dimensões de uma mulher de tantas camadas. É frustrante, especialmente porque a outra colaboração entre Larraín e Knight, “Spencer“, consegue explorar com maestria as complexidades e nuances de uma figura igualmente intrincada.
Mesmo assim, a experiência dificilmente se torna negativa. Não há como se afastar de um filme de Larraín quando dois elementos são garantidos: a parte visual, imersiva e grandiosa, e as atuações, sempre profundas e carregadas de uma intensidade impossível de ignorar. A fotografia é deslumbrante, com imagens meticulosamente desenhadas, quase como pinturas. A atuação de Jolie, por sua vez, transborda vulnerabilidade, até nas expressões mais delicadas, que conseguem comunicar tudo aquilo que o roteiro falha em transmitir.
No longa, Maria se vê em constante oscilação entre a realidade e a fantasia, navegando por suas memórias numa tentativa de se reconectar com sua voz. Talento que, desde sempre, foi o que a validava como ser humano. Sua voz não era apenas o que a definia, mas o que a tornava capaz de receber o afeto que sempre lhe foi negado. Sem ela, Maria se sente desprovida de identidade.
Larraín, em “Maria”, assim como em suas outras representações de mulheres emblemáticas do século XX, vai além da exploração do ícone, direcionando seu olhar para a pessoa por trás dessa figura. Mesmo com os tropeços no roteiro, o filme se desvia da estrutura das biografias convencionais, oferecendo uma reflexão profunda sobre a fragilidade da essência humana.