Noah Cyrus ignora direções óbvias seguindo estilos mais clássicos

Prestes a se apresentar no Brasil pela primeira vez, Noah Cyrus surpreende com maturidade melancólica em carreira curta, porém consistente.

Quando Noah Cyrus surgiu em 2016 com a música “Make Me (Cry)” em parceria com o talentoso produtor e vocalista inglês Labrinth, houve alguns comentários se perguntando: “que tipo de pop é esse?”. A música continha versos estranhos, melodia desconectada e uma produção que abusava do eletrônico sem deixar a voz da cantora como coadjuvante.

O impacto surtiu efeito, e desde aquele momento o nome de Noah já aparecia no radar de pessoas que buscavam novas caras para o pop. Pulando seis anos após aquele começo, a cantora lançou seu primeiro álbum oficial: “The Hardest Part”. A sonoridade era totalmente diferente daquilo que ela havia feito anteriormente, não só indo em direção oposta ao seu primeiro single, mas também não trazendo ligações tão fortes com os EPs que ela lançou durante o caminho até seu maior projeto.

O trabalho surpreendeu quem não conhecia as raízes e influências de Noah, que, assim como o pai Billy Ray Cyrus e a irmã, a super estrela Miley Cyrus, também tinha um gosto que ia além do pop e flertava muito com o folk e country. Mesmo nos momentos mais comerciais, ainda é possível sentir arranjos que vão para esse caminho, como em “Mr. Percocet” e “I Just Want a Lover”. Noah fez desse disco sua porta de entrada e, a partir daí, criou uma atmosfera que atrai muito mais quem tem interesse em estilos mais clássicos e uma honestidade mais madura, e tão melancólica quanto.

Nascida nos anos 2000, Noah Cyrus foi acompanhada de perto por portais de celebridades, justamente por vir da família que faz parte. E mesmo que quando criança tenha sido vítima de comentários maldosos sobre aparência e estilo, agora ela se tornou ícone de personalidade, esbanjando uma atitude forte e apostando em uma estética gótica, e em momentos até fantasmagórica. Musicalmente, sua discografia tem momentos que combinam com quem busca reflexão e sente certo abatimento, mas mergulhar em seus primeiros (porém sem tanta personalidade) EPs é uma lição de casa para entender que entre tantas tentativas diferentes, a cantora parece finalmente ter se encontrado na musicalidade que a define.

O crescimento da cantora a fez blindar-se e seguir o que quisesse fazer. Entre polêmicas envolvendo relacionamentos antigos, brigas de família e comentários controversos, Noah se mostra como alguém dura na queda no que diz respeito à opinião pública, mas que expressa toda sua tristeza interna através de suas letras. Essa armadura que veste já é algo que vive com ela desde muito cedo, e os efeitos de como alguém imagina como os outros a veem são transformados em acordes frios, mas que têm muito a dizer sobre quem os embala com sua voz.

Mesmo causando uma boa impressão com o que fez até aqui, Noah Cyrus está apenas começando e é válido torcer para que ela continue no apelo com o folk, country e quem sabe até tente molhar mais os pés no estilo americana, pois esse seria um caminho óbvio, porém o melhor de todos.

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Noah Cyrus toca no domingo dia 19 de maio, na segunda edição do C6 Fest.

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