“O Despertar da Primavera”, uma história que poderia ser escrita em 2020

Pode parecer muito pretensioso, mas a história que se passa na Alemanha do final do século XIX mostrando Melchior e Wendla, de “O Despertar da Primavera”, pode ser facilmente vista nas grandes capitais do Brasil ou nas cidades mais escondidas do interior – ainda mais nelas.

Melchior, um jovem brilhante e rebelde que ousa questionar as instruções que são ensinadas pela sociedade. Wendla, integrante de uma família de classe média alta, educada por uma mãe com rígidos princípios morais e religiosos. O encontro dos dois prova a explosão do desejo, vontade de conhecer o sexo e se aventurar no amor. A história que se cruza com vários outros jovens, como o oprimido e trágico Morits ou a bela Ilse, que tem a coragem de se aventurar pelo mundo. Todos eles, cada um dos personagens, precisa enfrentar o peso da repressão e do conservadorismo.

Nos deparamos com questões como abuso sexual, violência doméstica, gravidez na adolescência, suicídio e homossexualidade, tudo acontecendo na antiga Alemanha, mas vivenciada pelo adolescente do século XXI.

A peça de teatro denunciada os preconceitos e o conservadores das três principais instituições que regem a educação do homem: a família, a igreja e a escola. Criado por dramaturgo Frank Wedekind (1986-1918), “O Despertar da Primavera” causou polêmica do seu lançamento por mostrar os tabus e levantar a bandeira da liberdade. Tantos questionamentos, não conseguiu encontrar ninguém que bancasse o projeto e o próprio autor financiou a publicação, em edição limitada. A primeira montagem foi apenas em 1906, com o ator Peter Lorre (Casablanca) no papel de Moritz e Lotte Lenya (Moscou contra 007) como Ilse, mas logo o espetáculo foi proibido.

Em 1908, foi vetado qualquer manifestação sobre ‘O Despertar’, com punições que poderia levar os infratores para a privação. Após quatro anos, em 1912, Wedekind conseguiu novamente montar texto na Inglaterra, mas somente em alemão e com portas fechadas.

Nos Estados Unidos, a autorização para uma versão em inglês foi obtida em 1917, mas um dia antes da estreia, em Nova York, o espetáculo foi novamente banida. No ano seguinte, Wedekind faleceu e não conseguiu assistir o espetáculo, que, como o período nazista foi esquecido durante anos.

Até que a Kadidja Wedekind, filha de Wedekind, durante seu exílio na América e conseguiu montar o espetáculo na Universidade de Chicago, em 1959. O “Despertar da Primavera”, se tornou obrigatório nas escolas norte-americanas e virou um hino entre os jovens, com uma série de montagens ao redor do mundo.

A primeira vez que “O Despertar da Primavera” foi montado profissionalmente e não teve nenhuma adulteração, aconteceu em 1974 na Inglaterra, 83 anos após o texto ter sido escrito. Na oportunidade, a tradução de Edward Bond para a língua inglesa, era fiel e tinha a ironia de Wedekind, o que foi reverenciada pela crítica e no futuro, foi a base de todos os trabalho de adaptação da peça teatral para uma peça musical.

Somente em 2006, agora com músicas de Ducan Sheik e letras de Steven Star, “Spring Awaking” entrou na Broadway em 2006, e recebeu inúmeras críticas favoráveis. “A Broadway nunca mais pôde ser a mesma após Spring Awakening”, publicou o New York Times, já o crítico The New Yorker afirmou que “Com uma poderosa e poética inteligência, o despertar aqui não é apenas o da sexualidade, mas o da narrativa musical”.

A montagem que aconteceu tanto nos teatros da Broadway como off-broadway, teve a participação de grande artistas no elenco, como Lea Michele no papel de Wendla.

E o Brasil, não ficou de fora e Despertou!

O espetáculo que chegou em 2009, na versão musical, pelas mãos de Möller e Botelho, foi um fenômeno no cenário das peças musicais no Brasil, conquistando fãs e diversos prêmios. A versão brasileira de ‘O Despertar da Primavera’ conseguiu autorização para ser a primeira non-replica no mundo.

Utilizando mesmo texto e canções, a peça tinha a primeira direção e concepção artística diferente da original, obtendo um resultado primoroso e grande repercussão.

 

“Foi um fato inédito montarmos uma produção tão recente da Broadway com a autorização para uma direção autoral. Geralmente, os espetáculos de grande sucesso levam muitos anos para que comecem a ser ‘licenciados’ pelos autores sem a obrigatoriedade da cópia. Tive total liberdade para a tradução dos textos e as versões das canções”, revelou Claudio.

“Eu já era muito apaixonado pela peça, antes mesmo de virar um musical. Várias vezes, em adaptações para musicais, perde-se a força do texto, mas o caso do ‘Despertar da Primavera’ é uma coisa raríssima, pois o musical consegue ser ainda mais contundente do que o original”, afirmou Charles.

Mas, assim como a vida da montagem original do “O Despertar da Primavera”, antes de sua versão musical, o Brasil teve uma montagem em 1979 com um elenco de peso, que ganhou o apelido de ‘O pessoal do Despertar’ com Miguel Falabella, Maria Padilha, Paulo Reis, Fábio Junqueira, Clarice Niskier, Daniel Dantas e Zezé Polessa.

Foi o espetáculo de estreia do grupo e a primeira encenação do texto no Brasil.

Mas, o que mudou após dez anos da primeira versão musical brasileira?

Atual. Voraz. Intenso. Essa são três palavras que resumia o ‘O Despertar’ em 2009. E repito novamente essas três palavras-chaves para resumir a primeira parte da temporada revival do musical no Rio de Janeiro.

Na direção de Möeller& Botelho (os mesmos que trouxeram em 2009), conhecemos um enorme elenco jovem e apenas dois adultos que se dividem nos personagens que precisam ser mais velhos.

 

Sem tirar uma vírgula, sem trocar uma música. O elenco jovem, entra no palco para mostrar o que é liberdade e como mesmo acreditemos que “já somos livres”, vivemos em uma prisão dos ensinamentos e comportamento.

Dividida em dois atos, nós vemos um crescimento dos personagens, descobrimos os segredos e ficamos nos questionamos: “será mesmo que sou livre?” e gera uma comoção do público com as histórias, chegando a uma explosão do público com os artistas gritando: “blá blá blá” no final do espetáculo – arrepios são gerados.

Muito bem recebido e esperado pelos amantes dos musicais no Brasil, a primeira parte reuniu os fãs novamente no Theatro NET RJ e encontramos um público que veio de diversas partes do país e sessões esgotadas (dica: sempre compre os ingressos antecipados!)

A surpresa que os fãs não esperavam, o reencontro dos elenco de 2009 com o de 2019, que aconteceu na última semana do espetáculo em cartaz. Assista como aconteceu:

Agora, para 2020, Möeller & Botelho anunciaram a vinda do “O ‘novo’ Despertar” para São Paulo – ainda sem local e data previsto.

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