O verão de Zara Larsson está longe de acabar em “Midnight Sun”

No quinto álbum de estúdio, Zara Larsson deixa claro que o público geral ainda tem muito a conhecer sobre seu lado artístico.

A Suécia é conhecida pelos dias frios e cinzentos, mas Zara Larsson dá luz ao sol da meia-noite — um fenômeno natural que proporciona uma paisagem repleta de cores e sentimentos à flor da pele. Midnight Sun, o quinto álbum de estúdio internacional da cantora sueca, chega num momento em que os ouvintes de música pop querem apenas aproveitar boa música, de forma leve e harmoniosa.

Entre agosto e setembro deste ano, Zara, com 10 anos de carreira e vários hits emplacados, pegou muita gente de surpresa ao ser o ato de abertura da turnê norte-americana de Tate McRae. No fim das contas, as reações foram as melhores possíveis. O desenrolar do lançamento do álbum também aconteceu de forma criativa, mantendo o público engajado nas redes sociais — especialmente no X e no TikTok — algo que Zara não via há bastante tempo.

O disco começa com a faixa-título, que, segundo a própria cantora, representa o álbum e todas as demais músicas de certa forma. Mesmo lançada em junho, “Midnight Sun” é daquelas músicas que não enjoam fácil. Há algo realmente impecável no refrão, nos vocais de Zara e, claro, na produção de MNEK e Margo XS, que transforma a canção em um abraço na alma. É sentir o suprassumo da felicidade, algo até mencionado na letra: “Não tomei nada hoje, mas estou me sentindo tão alta.” É, no mínimo, surpreendente a forma como Zara Larsson combina três fatores: o sol que não se põe à noite, a sensação de alegria e prazer, e o refrão com uma nota alta que ela segura por 9 segundos — e até mais de 14 segundos ao vivo, dependendo da adrenalina do momento no palco. Quando a faixa acaba, é como se ficássemos em êxtase, sem fôlego e com desejo de mais. De longe, é a melhor faixa-título da carreira da popstar e cumpre excelentemente o papel de abrir o projeto.

Na sequência, conhecemos “Blue Moon”, uma música de amor dedicada a alguém especial — não uma exaltação à vida, como “Midnight Sun”. A letra diz: “Você diz que não se fazem mais como eu / Talvez uma vez na vida, outra na morte.” É, provavelmente, uma das declarações de amor mais românticas que você verá hoje. No final há um breve diálogo entre Zara e MNEK, em que ela deixa claro o desejo de “fazer bagunça” — e, de fato, as coisas ficam feias depois, mas no melhor sentido.

“Have you ever seen a pretty girl get ugly like this?”, grita Zara Larsson logo nos primeiros segundos de “Pretty Ugly”. A faixa, primeira lançada da era Midnight Sun, funciona ainda melhor dentro do álbum, mas continua incrível sozinha — especialmente como um hino para mulheres gritarem que podem ser quem quiserem, sem se preocupar com julgamentos: “Todos me dizem pra ser boazinha, dizem que eu deveria saber meu lugar / Às vezes, uma garota não quer ser comportada.” E está tudo bem. Será uma experiência e tanto gritar esse refrão a plenos pulmões ao vivo.

Aos 16 anos, a artista viveu uma história que hoje inspira “Girl’s Girl” — quando teve vontade (e acabou cedendo) de ficar com o namorado de uma amiga, o que resultou em seu isolamento na escola. Doze anos depois, ela diz se arrepender, mas transformou a experiência em uma excelente faixa pop: “Eu quero ser uma aliada das garotas / Mas o que acontece quando a aliada das garotas quer o garoto?”.

Quem conhece o hit “Ain’t My Fault”, do álbum So Good (2016), talvez nem saiba que existe uma versão demo, recebida por algumas rádios e vazada logo em seguida. O que conhecemos como “Não é culpa minha se você continua me excitando e me deixa louca” originalmente era “Não é minha culpa que seu homem esteja ligando para meu telefone e que você não consiga mantê-lo em casa.” A letra foi suavizada para o lançamento oficial, o que fazia sentido naquele ano, época em que certas pautas sociais eram amplamente discutidas.

Agora, em setembro de 2025 e mais destemida do que nunca, Zara Larsson não poupa esforços ao explicitar seus desejos — e não há nada de errado nisso. Será que a letra da demo de “Ain’t My Fault” era tão problemática assim, considerando o que tantos outros artistas pop lançam? Em “Girl’s Girl”, ela canta: “Sei que o que eu quero não é certo / Ter uma quedinha não é crime.” É quase uma justificativa — ou um prenúncio do que vem a seguir.

“Crush” foi escolhida como o terceiro single da era por vários motivos. Talvez seja a faixa mais radiofônica do álbum, enviada às rádios e com ótimo desempenho nos Estados Unidos — mas está longe de ser simples. Aqui, Zara revela a sensação de gostar de alguém mesmo estando comprometida: “Me diga, por que eu anseio por sua atenção? / Tenho alguém em casa que me trata bem.” Tudo isso sem culpa — afinal, it’s just a crush — e o último refrão explode junto da ponte, surpreendendo os ouvintes com uma virada na produção: “OH BABY, I’M CRUSHED!”. Há ainda referências a duas músicas da carreira da artista: “This might get ugly, you will ruin my life”, presente no mesmo álbum, e “Ruin My Life”, do Poster Girl (2021).

Depois do sol ininterrupto, Zara nos leva direto para o Eurosummer. A faixa tem um instrumental envolvente, com acordeão que remete a “Stereo Love”, da dupla romena Edward Maya e Vika Jigulina, presente na icônica coletânea Summer Eletrohits 7. O interlúdio “How sexy am I?” se conecta com a faixa seguinte, “Hot & Sexy”, que traz vocais da diva dos realities Tiffany Pollard, reinterpretando uma fala icônica.

Em “Hot & Sexy”, Zara e suas meninas celebram a ousadia — mas exigem respeito: “Eu só quero vestir o que eu quiser, quero ficar chapada, quero sair, quero curtir, ficar bêbada.” A vibe lembra “Pretty Ugly”. O último refrão vem seguido por um break de baile funk, inspirado pela passagem da cantora pelo Rio de Janeiro em 2024, quando se apresentou no Rock in Rio. No final, descemos até o chão — mas com a mão na consciência — ao ouvir um trecho que originalmente faria parte de outra música, “Let a Girl Live”: “Cansei de me sentir um pedaço de carne, olhando pra trás todo dia / Tem que ser dito, está ficando insano, ficam me dizendo que preciso mudar.” É como se fosse a intensidade de três músicas em uma só, encerrando com estilo a trinca perfeita: “Eurosummer”, “Hot & Sexy” e “The Ambition”, que juntas justificam as altas notas da crítica especializada.

Quem já ouviu falar em Zara Larsson sabe que ela esteve em alta no pop há alguns anos. No entanto, hits como “Lush Life”, “Never Forget You” e “Symphony” se tornaram maiores do que a própria cantora — algo que ela reconhece em “The Ambition”. Com uma pegada de funk melody e uma letra nada alegre, Zara reflete sobre as consequências de suas metas: “Esse é o problema da ambição / Tudo é uma competição / Isso me rendeu muito, mas não é o suficiente / Eu quero ser amada.” O mesmo tema continua em “Saturn’s Return”, que aborda o amadurecimento pessoal e as mudanças de perspectiva conforme envelhecemos. “Quanto mais eu vivo, mais misteriosa a coisa fica / É melhor deixar acontecer / Porque não sou mais tão jovem para saber de tudo”, canta Zara na faixa mais vulnerável do álbum — e ainda mais emocionante ao vivo.

A conversa está tão boa que é uma pena se aproximar do fim, mas quem vai desligar primeiro? “Puss Puss” encerra o álbum com a vibe amorosa, divertida e sexy que já conhecemos da artista. O título, em sueco, significa “beijos” — uma despedida a alguém especial: “Sinto como se você estivesse me tocando com a sua voz.” É mais um exemplo da excelência de produção: segundos versos com instrumentais diferentes, ad libs em abundância, pontes criativas e surpresas a cada transição. Para quem deixou claro que não queria largar o telefone, Zara Larsson nos pega de surpresa no final: “Eu vou te ligar logo depois, tá bom? / Eu te amo / puss puss.”

Com Midnight Sun, Zara Larsson revela o desejo de ser a número um pelo menos uma vez. E não há dúvidas de que ela merece. Ela tem star quality, personalidade forte e talento sem igual. Agora, com a atenção de um público mais amplo, Zara apresenta seu projeto mais pessoal: esteve creditada como compositora em todas as dez faixas e envolvida de corpo e alma, tocada pelo sol deste projeto. Ela merece.

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