Crítica | Adele, “30”

Maturidade, experimentações e surpresas: o que mais pode ser dito sobre “30”, quarto álbum de estúdio de Adele?

Até mesmo os astros estavam alinhados para o lançamento de “30”, novo álbum de Adele. Se isso é verdade, ainda não sabemos, mas que a Lua cheia com eclipse em Touro, signo solar da nossa querida Adkins (um dos apelidos da cantora) estava estonteante no céu na noite em que “30” foi lançado, isso é real. Para quem não é conhecedor de astrologia, aqui vai uma informação básica: a Lua rege nossas emoções. E quem melhor para falar de emoções – principalmente de amor e de luto pós pé na bunda – do que Adele?

Adele em foto promocional do “30” (reprodução: Adele Access)

Mas pera lá: não espere que “30” seja tão fúnebre quanto seus discos anteriores. Adele sempre foi conhecida por misturar suas experiências amorosas com um pouco de luto e algumas harmonias. Há, de fato, canções em seu último trabalho que abordam a tristeza do fim de um relacionamento, porém agora elas aparecem mais esperançosas. “Cry Your Heart Out”, por exemplo, pode parecer tristonha à primeira vista, levando em conta que seu nome pode ser traduzido para “chore todas as pitangas”. Logo depois vem o consolo: ponha todas as suas lágrimas para fora, mas não esqueça de enxugar seu rosto. Essa é a mensagem de “30”, que aborda os relacionamentos interpessoais de forma madura e experiente.

Embora Adele tenha completado trinta e três anos quando “30” foi lançado, as faixas do disco foram compostas quando a cantora tinha trinta anos de idade. Sua discografia segue o padrão numérico das idades mais decisivas e marcantes para a artista, bem como o de suas capas, que sempre colocam seu rosto de diferentes formas. “30” mostra Adele de perfil, bem diferente do que vimos em “25”: uma mulher que olha diretamente para a câmera. No entanto, mesmo que seu rosto não esteja virado para nós, quase que evitando olhar para alguma coisa definida, Adele olha para frente – assim como em seu disco. Há maturidade, adquirida em suas experiências, que são retratadas em uma sonoridade diferente. “30” pode ser considerado, portanto, extremamente maduro em todos os seus âmbitos.

Outro desses exemplos é a coragem com que a artista se mune para experimentar novos estilos e, assim, deixar o piano como um coadjuvante. Apenas metade do disco conta com as teclas, como o primeiro single do álbum, “Easy On Me”. É uma surpresa gostosa se deparar com uma Adele que investe em ritmos como R&B, lo-fi, gospel e hip-hop – além, é claro, do pop. O tal do pop, onipresente na indústria musical. “30” é, assim como dito anteriormente, um disco visceral da cantora, porém que cativa em seu caminho comercial, justamente por meio do pop, e não vê a música apenas como um produto. É claro que estamos falando da indústria musical, não podemos nos esquecer que números são importantes. Mas a questão de “30” é que se trata de um álbum realmente vendável, mas que não deixa de escancarar os sentimentos de Adele.

A britânica também foi audaciosa: fez uma proposta ao Spotify, maior serviço de streaming de música do mercado, para retirar o modo aleatório dos álbuns. Adele pediu e o Spotify atendeu – mas calma, o modo aleatório ainda está disponível para as playlists! Ficou mais do que claro que “30” deve ser ouvido na ordem, faixa após faixa. Bem, essa é uma sugestão para todos os discos, mas não ouse colocar o álbum no shuffle (no caso de você utilizar outro serviço de streaming ou ainda for fã de iPods e demais aparelhos mp3). 

Adele em foto promocional do “30” (reprodução: Adele Access)

O atrevimento de Adele não se ateve apenas à sua nova sonoridade ou ao pedido feito ao Spotify. O disco, como um todo, é uma trama (à la “Strangers by Nature”, primeira faixa do disco e que entrega uma aura bem teatral). Depois de ser acusada de plágio pela canção “Million Years Ago”, processada por Toninho Geraes por ser um plágio de “Mulheres”, popularizada na voz de Martinho da Vila, Adele é colocada em xeque pela faixa “To Be Loved”. Internautas identificaram similaridades entre tal faixa e “Eu Te Amo”, composição de Tom Jobim e Chico Buarque. As semelhanças envolveriam a introdução entre as duas faixas – que levam nomes com significados parecidos (“To Be Loved” significa “ser amadx”). Mas Adele moveu seu rei e não permitiu o mate – esse movimento, no entanto, foi feito pela equipe de Chico Buarque, que negou as semelhanças entre as duas canções.

Chegando ao fim da narrativa da vida trigenária de Adele, nada traduzuiria melhor do que uma nota condizente com o disco.

Nota da autora: 30+55/100

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