Crítica | Remi Wolf, “Juno”

Em treze músicas, Remi Wolf reproduz um mundo caótico, colorido e aventuresco que resulta em uma viagem insana

Há uma enorme cena de artistas talentosos que poucos conhecem e que desejam que o mundo possa abocanhar e apreciar junto deles tamanha preciosidade. Um contexto como esse gera um ótimo ciclo de apreciação, pequeno, mas que pelo menos existe. E quando conhecemos tal cantor ou cantora que mexe a alma, só queremos sair espalhando aos quatro ventos o seu som. Ao escutar o disco debut de Remi Wolf, o Juno, essa é a sensação que fica, além da vontade de sair do chão com todas as 13 faixas.

Já com a canção de abertura, o impetuoso single “Liquor Store“, Wolf, que viralizou no aplicativo de danças de maior rentabilidade do mundo atualmente, prova com todas as palavras jogadas pelo mundo louco da música, que ela possui qualidades de uma verdadeira estrela. O fato dessa vantagem ser injetada nos ouvidos de quem escuta o disco pela primeira vez é profundamente louco e pulsante, sensação que o “Juno” promove por todas as suas vidas. A veracidade em introduzir o ouvinte logo de cara com um som que não pestaneja em contar à que veio, soa como um artista deve se expressar em dados momentos.

O cenário pop que o álbum passa por cima deve ser visto como uma das coisas mais autênticas e puras do ano; seja por causa de uma excelência vocal que parece implementar cores para as músicas, ou devido a produção incrívelmente bizarra e que prospera cada vez mais conforme o tempo. “Buttermilk“, “Sally“, “Volkiano“, por exemplo, parecem ganhar uma energia imprudentemente e ardilosa assim que se capta os seus esplendores se mantermos as faixas em repetição. E o caso não é que seja preciso escutar mais de uma vez para gostar, mas em uma segunda visita, tais obras crescem mais.

A agitação de “Guerrila” (que em alguns momentos parece com algo que entraria dentro da tracklist do “Dirty Computer”, de Janelle Monáe) é estreita e perfeita para quem busca um tipo de som mais experimental, algo como um pop sem escrupulos dos anos 80, talvez pela sua aura extremamente provocativa e cativante, como um doce estourando na boca. “wyd” funciona quase da mesma forma, mas traz com folga uma aventura um tanto calma e que ao mesmo tempo parece ideal para se escutar enquanto se está em descontrole total: “Yeah, I got a bone to pick / Yeah, they really getting me hot“. Mas se tem algo que Wolf e os produtores Elie Jay Rizk e Jared Solomon não estão aqui, é com a situação fora de controle.

Grumpy Old Man“, que usa linhas country de maneira irônica, provoca uma sensação refrescante em todo o seu compasso, ainda mais pelo refrão chiclete , que por razões óbvias, nunca fica de escanteio. Quando você se der conta, vai aparecer cantando a letra ou simplesmente apreciando a guitarra descontrolada na sua cabeça.

Essa variação de melodias, gêneros, sons, tecnicismos e instrumentos mostra-se ainda mais lúcida quando encontramos “Buzz Me In” e “Street You Live On“, que possuem camadas mais sóbrias e calmas, mas que ainda mostram muitas das cores que Wolf mostrou em cada pedaço do disco. Inclusive, essa última, que encerra o trabalho com uma batida de de hip-hop mid-tempo, é uma das melhores de todo o Juno, proclamando em voz alta mais uma vez o espírito do registro de estúdio com primor.

Wolf canta em “Guerrila” que “os garotos do lado leste trazem o trovão”, mas na verdade é ela que encolhe raios com as mãos e agita o seu próprio palco. Provalmente escutar a explosão de tons da artista que foi confirmada no Lollapolooza Brasil 2022 deve fazer qualquer um dançar do jeito mais livre e peculiar possível, isso porque é possível imaginar a odisséia louca e divertida que tenha sido tornar um álbum como esse em realidade.

Nada melhor do que saber que ao realizar um bom trabalho, você receba certas recompensas com isso, mas com o Juno, Remi Wolf merece apenas a maior agitação que o mundo pode lhe oferecer enquanto se admira essa leva de canções, e ao mesmo colore toda a alma.

Nota do autor: 90/100

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