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Crítica | Coldplay, “Music of the Spheres”

É triste enfatizar que o que poderia ser um dos discos mais promissores do ano, e também o melhor para a discografia da banda, é apenas um trabalho fora de órbita.

Todo tipo de obra possui uma grandeza própria, um universo com estrelas e planetas que ganham vida com base em ideias, pensamentos e sentimentos atrelados ao poder de contar histórias com músicas. Porém, há alguns problemas quando o que se conquista contando tamanhas grandezas, acaba se tornando algo apenas génerico; quase sem dilatação.

Hoje temos muitos artistas que adentram-se dessa espécie de bolha, há momentos e há escolhas, mas alguns parecem sujeitar-se a ela sem a menor compreensão do quanto ela é significativa para definir visões sobre o que tais obras evocam. Ninguém quer entregar um projeto básico, e se há esse tipo de entrega, de maneira pessoal, ele não é assim para todos e muito menos para quem o realizou. A pergunta que fica é: por que não sair dessa órbita?

Music of the Spheres“, 9º álbum da banda Coldplay, ousou sair da atmosfera e entregou uma das músicas do ano e talvez a melhor do quarteto em anos, “Coloratura“. A canção é a viagem perfeita para balançar o ideal que o quarteto decide não estancar por alguma razão. Mas não há torvação maior no ano de 2021 até agora do que escutar ao projeto inteiro que possui em sua tracklist uma música colossal como essa. O que poderia ser o trabalho mais deleitoso para a banda, é apenas algo básico e às vezes, sem a menor da vida própria.

A ideia aqui é simples: cada uma das 12 músicas dão vida à um planeta que dentro de uma galáxia inteira priorizam o sentimento poderoso que a música tem de libertar. Olhando assim, é algo grandioso, pena que há a constante idealização em tornar absolutamente todas as faixas em, como alguns dizem, “hinos”. É brusco afirmar, mas nenhuma das canções, com excessão da citada acima, fogem desse colapso de moléculas sonoras.

People of The Pride” monta uma estética agitada por uma convicação deliciosa das linhas que um rock necessita para levantar as pessoas, até funcionaria, se não fosse simples demais aos ouvidos de toda uma massa, parece algo que já escutamos. A banda levanta um espírito inquieto que se fosse por outras vias, iria cativar, e muito.

E parece que todo o disco segue essa linha de tentar prestar uma experiência intergaláctica e visceral, que em algum momento chegou perto do que poderia ser, mas ao mesmo tempo parece querer ficar em um só batimento, se atendo ao limite. A tracklist inteira possui potencial, e caso fossem distorcidas em diferentes tipos de escolhas quanto a diagramação, a experiência seria excepcional e proporcional ao que uma canção pode e deve instigar ao coração humano, objetivo principal esse que o álbum tenta elevar.

Biutyful” por exemplo, soa fresh e leve, enquanto “Humankind” e “Higher Power” parecem a mesma música, arfando em toda a sua duração para tentar oferecer algo além de uma agitação que se vai ter ao cantar as faixa ao vivo. “Human Heart“, cujo nome é um emoji de coração, cede um alívio ótimo para o trabalho inteiro, e mesmo apenas trazendo os vocais em maior foco, trabalha muito bem com o coral e instrumentos que remetem a uma canção gospel.

Em quesito lírico, não há muito pra destacar. A maioria das letras refletem sobre como talvez o espaço, música e o amor possuam uma ligação, mas tal filosofia não é explorada ao máximo. “Let Somebody Go“, com Selena Gomez, apresenta o melhor disso, mas acaba não se alastrando muito.

“Music of the Spheres” não se afoga em seu próprio mar de estrelas, dá sim pra captar uma onda cósmica prestigiosa aqui ou ali, mas não é algo que vá durar muito, mesmo às vezes você cantando alguma faixa em voz alta. O que poderia vir a ser algo ingente é no fim da linha de chegada, algo para ouvir algumas vezes e deixar de lado. Mas não tem-se sentimento maior do que tristeza por esse não ser um dos melhores discos do ano.

Essa ode mínima que a banda parece não querer de maneira alguma deixar de lado, precisa acabar, e talvez esse seja mais um passo para isso, já que ainda temos uma estética bonita, canções que poderiam soar mais especiais com o passar do tempo, e um tipo de genialidade desproporcional ao que o projeto oferece como um todo. Parece que a vibração devido a uma inundação de sentimentos explorados de maneira incomum, se tornou pequena demais para o que uma das maiores bandas da história é capaz de conceder. Mas nunca é tarde para continuar explorando o universo e o que ele tem a dizer.

Nota do autor: 40/100

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