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Crítica | Rebecca Black, “Rebecca Black Was Here”

Dez anos após a experiência mais traumática que já viveu, Rebecca Black encontra um som que a define em ‘Rebecca Black Was Here’.

Dez anos atrás Rebecca Black era uma piada, uma piada tão grande de modo em que se perguntassem a qualquer pessoa quem era a garota, qualquer um responderia que sim, seguido de uma risada. Após um século de desenvolvimento pessoal e um trauma gigantesco, ela finalmente dá vida a um EP que a define como artista, provando que sempre deveria ter sido levada a sério.

Para aqueles que foram além do meme e ficavam de olho nos lançamentos da garota não existe uma surpresa muito grande nisso tudo, desde 2017 ela já havia dado pistas de que sabe fazer música pop tão bem quanto qualquer outro artista, a única coisa que faltava era definir uma sonoridade que desse personalidade a um rosto tão carismático. Em tempos onde a conversa sobre bullying em adolescentes nunca deve sair de moda, Rebecca é a prova viva do quanto alguém pode dar a volta por cima e mostrar que realmente merece um espaço, não para que seja motivo de paródias, mas sim para que as pessoas parem e digam: ‘’caramba, ela realmente tem umas músicas legais”. E ela tem. 

“Rebecca Black Was Here” trás um resultado redondo, com apenas seis músicas é possível entender claramente qual caminho a cantora se encontrou e pretende seguir. A mistura de um leve hyper pop somado a letras honestas sobre como expressa sua atitude e sexualidade é exatamente o que transparece na personalidade da jovem adulta de vinte e três anos.

Acompanhar a evolução visual da artista em seu Instagram é uma forma de compreender que já faz muito tempo desde o viral que a fez ficar conhecida. E por mais que ela não precise mais dele, é maravilhoso ver o quanto ela transformou algo ruim em uma oportunidade de se manter na mídia e amadurecer.

As distorções estão presentes quase que em todas as faixas, mas de forma bem comportada para que em nenhum momento se façam maiores que a voz presente. Como em ‘Better In My Memory’, onde o instrumental passeia entre levezas e pequenas explosões. Algo semelhante acontece em ‘NGL’, essa que vai um pouco além e soa como algo que Charli XCX faria.

Os vocais de Rebecca não são seu maior atributo, mas em nenhum momento se mostram um defeito, é preciso lembrar que ela (antes de tudo) nada mais é do que uma cantora pop comum, e não existem grandes pontos que a valorizem, mas todos os que ela possui são positivos para o que se propõe. É natural perceber que apesar de abraçar um visual moderno, a cantora não deixa sua parte romântica de lado; ‘Worth It For The Feeling’ e ‘Girlfriend’ possuem elementos similares a outras coisas lançadas no passado, porém se destacam por terem aperfeiçoado o que faltava… ambas tem um capricho maior na forma cantada, onde é perceptível que esse é um dos estilos em que a artista mais se sente à vontade.

Os dois pontos mais altos do EP são justamente as faixas mais distintas entre si. ‘Blue’ começa soando muito destoante, mas o clima meio soturno e triste é um ótimo momento de transição na metade da tracklist. É uma calmaria diferente no momento de maior brilho vocal, e caso seja permitido ir bem fundo em uma comparação arriscada: é como se imaginássemos fka twigs tendo que ser completamente comercial. ‘Personal’ é o maior acerto do projeto, pois tudo que ouvimos em cada esquina durante os quase vinte minutos de execução total é facilmente condensado na menor faixa. Aqui Rebecca é romântica, sarcástica, trás um dos seus melhores refrãos e a produção segue sua deixa caprichando de forma que a possa colocar facilmente em uma lista de melhores músicas pop do ano.

Não havia necessidade para que Rebecca Black se provasse para qualquer pessoa, por isso esse lançamento não deve ser encarado como um grande divisor de águas em sua carreira, e seu crescimento como mulher e artista é seu maior ganho em todos esses anos. Ver a cantora finalmente encontrando seu caminho após ter se mostrado tão forte mesmo com pouca idade é a maior vitória, ‘Rebecca Black Was Here’ tem gosto de uma grande prévia do que ela ainda pode fazer, e sua atitude segura de si é a chave para que a artista siga em um ótimo caminho pop.

A sensação que fica é que durante todo esse tempo poucas pessoas deram uma chance de forma séria para sua música, mas o melhor de tudo é que ela não se importa nem um pouco… já que enquanto alguns ainda tendem a se prender no passado e encará-la como um sub ato, ela segue fazendo seu trabalho com foco. Provavelmente parando em alguns momentos para ter sua vez de fazer o que tanto fizeram com ela, rir um pouco da cara daqueles que riram primeiro.

Nota do autor: 74/100

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