Crítica | Luca traz enredo simples, mas com um tom refrescante para a Pixar

Optando por deixar a filosofia típica do estúdio de lado, o longa chegou direto no Disney+ e traz no centro, dois garotos monstros marinhos.

O leque de opções que tem-se ao contar histórias através de animações é imensurável. Hoje, um dos estúdios que traz aventuras que vão além do apreço maior pelo tecnicismo é a Pixar, e isso não é achismo, diante de todas as produções que a companhia concebeu, é fato. É só parar e lembrar do enredo imortal de “Toy Story”, ou o mundo avassalador de bonito em baixo d’água de “Procurando Nemo”. Esses mundos, os mundos que o estúdio destrincha com histórias emocionantes, sempre são feitos com calor único, e em “Luca“, o 24º longa do renomado estúdio, isso é transmitido por todos os cantos.

Sendo uma homenagem (melhor, quase uma autobiografia), a infância de Enrico Casarosa, diretor do longa, “Luca” é centralizado no garoto que é um monstro marinho que dá título a obra. Morando no fundo do mar com sua mãe, pai e avó, Luca é lá no fundo, extremamente corajoso, e isso começa a ser aparente quando ele acha por acaso, Alberto, um outro monstro marinho, que cheio de si, conhece a superfície e todos os seus caprichos. Os dois partem então em uma missão envolvendo muita massa, um campeonato, scooters, um sol de verão e a pretensão de viajar o mundo.

O tom que veremos no percurso a seguir, é a cada passo sobre um tema primordial, a descoberta. Luca, é muito recluso quanto ao que há acima da água, mas devido aos seus pais (em maior parte por insistência e cuidado da mãe), acredita que não deve ir lá “fora” por nenhuma razão. Esse problema que gera o impulso na narrativa logo ocorre, mas deixar toda a ambientação azul que o longa apresentou nos primeiros momentos, é doloroso, isso porque o que há embaixo da superfície, é gratificante dese olhar. Por outro lado, o mundo da obra não é lá um dos artifícios mais bem construídos dentro do que o estúdio é capaz de realizar. É simples e sem adereços ricos, mas ainda assim cativante.

Diferente dessa situação, a jornada que passamos a ver na superfície na vila de Portorosso é totalmente contrária. Ver a voracidade do protagonista em descobrir de maneira insaciável o que forma o mundo (literalmente) é apenas inigualável. Alberto é a maior âncora para que isso aconteça. É o fato da criança ser destemida junto de Luca, aliado ao calor que o longa exala pela montagem e andar da história, que temos aqui alegorias emocionantes quanto a origem, autodescoberta, superação do medo e o poder da amizade. Mesmo essas questões não sendo destrinchadas com aquela filosofia única do estúdio, ainda há aquele fascinio que só uma história como essa poderia exalar por todos os poros.

Mesmo o duo protagonista não entendendo ainda o apreço que tem um pelo outro, o filme trata de escancar isso para o telespectador com a maior doçura possível, possibilitando como de costume, um terceiro ato avassalador, mas também quente, quase como um bom banho gelado no verão, que só amplia tudo que vimos na jornada inteira.

Há muita ternura em expor quaisquer assuntos aqui, e toda a situação se auto agracia ainda mais pelo traço único que o longa reproduz. Os visuais realistas ficam para trás e assume-se um tipo de ilustração estilizada combinando características da animação 2D e 3D, a obra com essa estética própria soa como ler um livro infantil e forma uma atmosfera delirante e refrescante de se prestigiar.

As feições e articulações exageradas dos personagens e as movimentações espetaculares quanto a tudo que circunda o reino da água (as transformações e destransformação do duo é impecável), projetam uma originalidade única, e muito prestativa (imersiva também) quanto a tudo que nos é mostrado. A vontade que fica é simplesmente de aventurar-se pelas ondas do mar. Ainda no quesito técnico, não se pode deixar de mencionar o trabalho de vozes de Jacob Tremblay, como Luca, Jack Dylan Grazer, como Alberto, Maya Rudolph como Daniela e Emma Berman como Giulia, que provocam uma pureza mágica, dando ainda mais vida pro longa.

Com a simplicidade sendo o fator crucial para fazer as engrenagens de “Luca” rodarem, o filme passa diante dos olhos com uma rapidez impalpável, e mesmo que diante de todas as circunstâncias pareça um conto rápido ou só uma jornada corriqueira, a aptidão da animação encontram-se no destino das melhores definições que um passeio de verão pode proporcionar.

Assista “Luca” no Disney+.

Nota do autor: 90/100

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